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GLOBALIZAÇÃO TOTAL

A opinião de Rui Armindo Freitas

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por RUI ARMINDO FREITAS
Economista

Não há, nos dias de hoje, quem não tenha o coronavírus como tema introdutório de qualquer conversa. Mas para lá das questões de saúde, das quais não me permito sequer opinar, por falta de conhecimento técnico, o que nos diz esta já pandemia sobre a forma como nos relacionamos nesta nova década do século XXI? Parece-me consensual afirmar, que nunca como hoje tantos viveram tão bem, continua a existir muita miséria e desgraça no mundo, contudo a afirmação que produzi dificilmente pode ser refutada, ainda que, nos possa magoar por sabermos que tantos sofrem em zonas de conflito e às mãos das mais ignóbeis ditaduras ou em países sem sistemas que permitam dar condições de vida aceitáveis aos seus cidadãos.

A forma como o este vírus se propagou permitiu que todos pudéssemos ter uma imagem do grau profundo de globalização que vivemos nos dias de hoje. A abertura das economias permitiu que hoje todos possam beneficiar do melhor que cada comunidade é capaz de gerar. A globalização tornou possível uma evolução tecnológica tal, que o conhecimento acumulado por todos esteja ao serviço de todos, fazendo com que nos dias de hoje um cidadão de Guimarães ou de Nova Iorque, tenha acesso a informação e conhecimento da mesma qualidade coisa impensável há décadas atrás. Permitiu uma facilidade na forma como nos deslocámos, que nos permite num contexto competitivo de trabalho sabermos onde acordamos, mas não necessariamente onde nos vamos deitar. Mas como em qualquer realidade, temos vantagens e desvantagens e o que este já famoso vírus veio por a nu são as debilidades de um sistema global ao qual até aqui pouco tínhamos a apontar. E não, não me refiro à questão de saúde pública.

Com as quarentenas instituídas nas zonas mais afectadas, tomamos a consciência de que, como eu escrevi numa crónica anterior, isto anda mesmo tudo ligado. Se por um lado tivemos um governante português a antever vantagens no meio de toda esta desgraça, não foi preciso que decorresse uma semana para que percebêssemos o desastre económico que por aí vinha. Que hoje uma peça de roupa confecionada no Vale do Ave é feita com acessórios da China, fio com fibra da Holanda, tecido do Paquistão, corantes alemães fabricados na Índia, malha tricotada na Turquia, por máquinas italianas, desenhadas em computadores norte americanos com componentes de quase todo o mundo…

A globalização deu-nos isto, permitir que cada um apresente não só aos seus aquilo que faz de melhor mas, o que o Covid-19 vem mostrar é que, quebrando algum destes elos, a correia pode partir e por em causa não só esse elo mas toda a corrente. Obviamente que a lição a tirar, parece-me óbvia, será descorrelacionar ao máximo a dependência de apenas uma geografia para um produto, como se costuma dizer em português corrente, não pôr os ovos todos no mesmo cesto, assim como uma economia não estar apenas dependente de um sector primordial, seja ele o turismo ou outro, porque as ameaças são reais, nunca saberemos quais nem quando, é impossível prever tudo , e quando menos esperamos elas estão aí. Seja sob a forma de vírus ou tufão, inundação ou incêndio, crise política ou social, os riscos fazem parte da vida, resta-nos saber aprender com situações como a presente para pelo menos termos capacidade de reacção quando ela for necessária. No meio da desgraça, ganhemos pelo menos isso, a aprendizagem.

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