Gualterianas, passado, presente…futuro?
Por Rui Armindo Freitas.

por Rui Armindo Freitas
Economista e Gestor de EmpresasAs festas Gualterianas, cujas origens remontam às feiras francas de Agosto, confirmadas por D. Afonso V em 1452, sofreram ao longo de séculos altos e baixos. Tanto assim é, que segundo a informação disponível, e que convido a que consultem no site do Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, as que conhecemos têm origem no início do sec. XX por impulso da Associação Comercial de Guimarães, após o declínio, progressivo afastamento e indiferença dos vimaranenses do modelo que há séculos tinha lugar.
A história ajuda-nos a perceber muito sobre nós, conta-nos o passado, mas mais do que isso explica-nos o porquê do presente e dá pistas sobre o futuro, daí o brocardo “a história repete-se”. O que podem então as festas Gualterianas, se analisadas, dizer sobre o momento do nosso concelho e sobre o futuro? Desde logo importa referir que o modelo das festas de hoje teve como pano de fundo o vibrante comércio de Guimarães à época, o orgulho pelas tradições, o folclore, o orgulho pelas raízes da indústria têxtil algodoeira, que surgiu com o linho como complemento das economias familiares da região, e no património agrícola de Guimarães. Por isso estas festas, com o contributo nos primeiros anos de vultos de relevo da nossa história, como o Padre Gaspar Roriz ou mais tarde do artista incontornável da primeira metade do sec. XX vimaranense, Luís de Pina, eram festas de relevo mais do que regional, umas festas de referência no nosso país. A Majestosa Marcha Gualteriana era fruto do trabalho dos operários da indústria e do comércio vimaranense e era o esplendor da força que um concelho tinha, nas suas gentes, nas suas associações nas suas empresas, em suma verdadeiras forças vivas de uma região.
Posso chocar muita gente, mas hoje as Festas Gualterianas estão longe de ser uma referência nacional e estão longe da relevância que outrora tiveram quer para o país, mas sobretudo para os vimaranenses. Talvez fruto de uma crescente municipalização do movimento associativo ao longo das últimas décadas, ou até de um desligar da comunidade e dos seus agentes económicos em relação à sua terra, as Gualterianas são hoje uma sombra do que foram. Numa época em que os festivais de Verão atraem pessoas para todos os cantos do país, em que os modelos de feiras medievais e até vikings, como vi algures, levam história ao estilo “sopa instantânea” a todos os lugares até aos que nunca conheceram as trevas do medievo. Em Guimarães nas últimas décadas o desligamento começou, assistindo-se inclusivamente ao orgulho de alguns, considerando-se com maior importância, fazerem gaudio de nunca as terem visto. Certo é que mais ou menos intelectuais, mais ou menos abastados, todos cantam com orgulho o Hino de Guimarães, sem sequer saberem que este era o hino da marcha.
Por isso talvez seja altura de acordar Guimarães, porque a história mostra que é em alturas de indiferença que os vimaranenses sabem virar a página, parece-me que nunca foi tão gritante esse virar de página e que o acordar da nossa comunidade fosse tão necessário. Guimarães fez-se sempre do trabalho das suas gentes, Guimarães foi sempre orgulhosa da sua fibra. Não deixemos por comodismo que a nossa história, que se fez de cultura popular e erudita, de operários e capitalistas, de pobres, remediados e alguns abastados, seja conduzida à irrelevância pelo amorfismo comodista de entregar tudo à gestão municipal. Boas férias!!
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