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GUIdance 2023: A edição “mais forte e estimulante” com base na “transformação”

Guimarães volta a ser capital da dança, em fevereiro, com a 12.ª edição do GUIdance, uma edição que leva à orientação pela luz interna do movimento e pelo contraste dos corpos singulares.

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Guimarães volta a ser capital da dança, em fevereiro, com a 12.ª edição do GUIdance, uma edição que leva à orientação pela luz interna do movimento e pelo contraste dos corpos singulares. “Transformação” e “diferença” estão na base do festival que acontecerá entre 2 e 11 de fevereiro e que, no próximo ano, se estende para o teatro Jordão.

© Mais Guimarães

Rui Torrinha, diretor artístico do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) e de Artes Performativas d’A Oficina, reconheceu que “este festival reflete o investimento que a cidade tem feito” e que, 2023 traz, “talvez, a edição mais longa, mais forte e extensa e, talvez, a mais estimulante no sentido das possibilidades que o público vai encontrar”. A relação com os públicos, garantiu, continuará a fazer parte nestas 12.ª edição.

A mais recente criação de Gaya de Medeiros abre o festival, a 2 de fevereiro, “simbolizando a transformação dos tempos e dos corpos”, explicou Rui Torrinha. A bailarina trans, que contou que começou “a dançar na igreja para Jesus”, no Brasil, parou com o contemporâneo quando chegou a Portugal.

“No começo de 2021 decidi que esse corpo precisava de se voltar a expressar e voltei à dança contemporânea”, recordou Gaya. Foi por essa altura que pensou “numa plataforma onde pudessemos juntar pessoas trans” e, para este último espetáculo decidiu criar “um espetáculo com cinco pessoas trans não binárias”. Trata-se de uma peça que “nasceu do desgaste frente às antigas narrativas acerca das corpas trans, sempre conectadas à dor e ao sofrimento”. “BAqUE” é, então, uma celebração onde um coletivo de pessoas trans experimenta um ritual de afetos e fábulas. Propõe (re)narrar o mundo e as relações que as conectam com a existência: falar de tudo o que os faz vibrar na vida e de tudo o que os faz parar de vibrar nela. “E se o meu corpo não viesse antes de mim, eu falaria sobre o quê?” é a questão que procura responder neste espetáculo.

No segundo dia de festival, o público é convidado a entrar no teatro Jordão, espaço que será a sede da companhia Dançando com a Diferença. Blasons + Doesdicon é o primeiro espetáculo da companhia da Madeira e junta-a aos coreógrafos François Chaignaud e Tânia Carvalho. “Pessoas com deficiência podem dançar”, lembrou Henrique Amoedo, diretor artístico, ao recordar que o seu encontro com a dança se deu exatamente quando viu uma pessoa com deficiência a dançar com uma professora” e que, na altura, isso “ainda era visto como uma utopia” e diziam-lhe que “pessoas com deficiência podem dançar, sim, mas como terapia”. Este é um desafio que considera “cumprido”.

Com duas estreias nacionais, o sábado apresenta “Some Choreographies”, de Jacopo Jenna, e “Gran Bolero”, de Jesús Rubio Gamo. O primeiro versa “outras das centralidades” do festival, a natureza. “Vamos ter um olhar sobre a questão da relação com a natureza”, explicou Rui Torrinha. Já o espanhol Jesús Rubio Gamo traz uma nova dimensão da famosa composição de Ravel, uma obra sobre o esforço e o prazer da resistência.

“Silent Disco”, do teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser, decorrerá no dia 4 às 23h30. Trata-se de um espetáculo imersivo que acontece em discotecas, explorando o potencial da tecnologia das festas “silent disco”. Identidades queer, sexualidades múltiplas, consumos hedonistas, fisicalidade crua – poderão estes constituir-se como práticas políticas de resistência?

Marco da Silva Ferreira, que tem passado várias vezes por Guimarães para criar, abre a segunda semana do GUIdance com “Carcaça”, um espetáculo que “vai mergulhar nas raízes do folclore”. Já Rui Horta, na quinta-feira, dia 9 de fevereiro, regressa à cidade berço para a remontagem de “Beautiful People”, que aqui apresentará com Dançando com a Diferença. Uma peça que não esconde a deficiência, nem a embrulha em sentimentos de piedade. No dia 10, nova estreia nacional, “Soirée d’études”, uma “pesquisa sobre a influência da musica house na dança”.

O último dia de GUIdance apresenta “O Elefante no Meio da Sala”, de Vânia Doutel Vaz, uma coreógrafa que deu o “salto quase lógico de uma bailarina que assimila conhecimento para se tornar coreógrafa”. O festival fecha com a companhia Akram Khan, que apresenta “Jungle Book reimagined”, uma estreia nacional que surge como “uma ideia de que é preciso voltar ao contacto com a natureza para expandirmos o nosso campo sensorial”.

As atividades paralelas aos espetáculos mantêm-se nesta 12.ª edição. Haverá conversas com Henrique Amoedo, Marco da Silva Ferreira e a companhia Akram Khan no final das apresentações, masterclasses com Jesús Rubio Gamo e Akram Khan Company para profissionais e estudantes avançados, e ainda debates moderados por Cláudia Galhós sob o tema “natureza, transformação e outras práticas sensíveis: a felicidade que nos aguarda”.

Destaque ainda para a presença dos embaixadores da dança, Gaya de Medeiros e Henrique Amoedo, nas escolas secundárias do concelho, para a exposição “Dança”, da Pato Lógico, e para a exibição do registo integral do espetáculo “Endless”, no dia 7 de fevereiro.

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