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GUIMARÃES: TERRITÓRIO, COMUNIDADE E MEMÓRIA

CATARINA PEREIRA

catarina

por CATARINA PEREIRA

A construção da nossa memória define-nos enquanto seres únicos: são as nossas experiências passadas, e a forma como as armazenamos – este exercício contínuo que se desencadeia, de forma consciente ou inconsciente, quer no nosso pensamento, quer através de objectos com poder mnemónico que vamos seleccionando e guardando – que nos tornam grande parte do que somos. Uma memória de um bom momento vivido no passado pode impulsionar a vontade de que o mesmo se repita no presente ou num futuro próximo, tornando-nos mais motivados para a concretização do que aspiramos ou sonhamos. Por outro lado, a memória de algum acontecimento desagradável pode levar-nos a estados de profundo desconforto e ansiedade.

A chamada «memória social» tem sido matéria de estudo de alguns investigadores das ciências sociais e humanas, nomeadamente da sociologia e da antropologia, numa tentativa de conceptualização do papel da memória enquanto processo de modelação do indivíduo na esfera privada e pública. É frequente ouvirmos alguém dar ênfase à nossa «memória colectiva», marcada por um sentimento de identidade e pertença comum, quando se trata, por exemplo, da conservação do património cultural de uma determinada comunidade ou grupo. A memória é também um sistema cultural, um processo social de atribuição de significados, por forma a compreendermos melhor o mundo e nele nos reconhecermos. Trata-se, portanto, de algo dinâmico e selectivo, onde o passado, e a forma como dele recolhemos experiência e damos significado ao presente, vai sendo construído numa linha temporal flutuante e constantemente permeável à mudança.

As opções que vão tomando os diversos actores que compõem a organização de uma determinada comunidade, tornando memoráveis certos factos históricos dessa mesma comunidade, é constantemente negociada, e, não raras as vezes, conflituosa. A memória social pode, também, constituir-se como ferramenta de poder ideológico e oprimir a liberdade pessoal de interpretação da realidade. O que podemos apelidar de memória colectiva deverá ser, então, uma teia de diferentes experiências do passado, capaz de conciliar as plurais dimensões do pensamento e das práticas, tanto da ordem do colectivo como do individual.

Numa data histórica e simbólica, a 25 de Abril do corrente ano, Guimarães assistiu à inauguração da sua Casa da Memória. E como é que, em contexto expositivo, conseguimos trabalhar a memória, este mecanismo tão complexo como, até aqui, tentei sugerir?

A Casa da Memória de Guimarães assume-se como um centro interpretativo da memória da sua comunidade e da sua vivência no território. Aqui, conseguimos deambular pelas diversas histórias do concelho vimaranense: as que foram registadas nos livros e documentos antigos e as histórias de vida que ainda não foram escritas; perpassando uma larga cronologia, que vai desde as primeiras ocupações humanas do território até aos dias de hoje. Mas este trabalho não se resume nos conteúdos em exposição e pretende-se que seja contínuo, através da recolha sistemática e criação de uma forte dinâmica de participação da comunidade – aspirando a ser, sobretudo, uma casa das memórias vivas. Sem tempo, mas com lugar…

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