ISTO ANDA TUDO LIGADO

CÉSAR MACHADO Advogado

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por CÉSAR MACHADO
Advogado

“Aqui a meu lado o bom cidadão / escolheu Sagres,( …), diz Fernando Namora, o poeta, em “Marketing”. Quis dar uma de bom cidadão e escrevi esta crónica no sábado, 2 de Abril, com tempo para enviar no Domingo, sem dar dores de cabeça à edição, nem encrencas de última hora aos gráficos, à nora com os caracteres -a mais ou a menos, nunca no pleno.

Curioso, 2 de Abril é o dia do falecimento de Valentim Moreira de Sá. A 1924. Notável figura da cultura do seu tempo, “Nasceu a 14-2-1853, em Guimarães, na então Rua da Tulha, a qual, no último quartel do século transacto, passou a denominar-se Rua de S. Paio e mais tarde Rua Dr. Avelino Germano”, assegura o seu biógrafo, Rui Moreira de Sá e Guerra, em Moreira de Sá, 1853-1924) Um renovador da cultura musical no Porto.

Onde é que já ouvi isto? Moreira de Sá foi um anjo que Guimarães deu à cultura do Porto e do país. Daí não se segue que tenha nascido na Rua do Anjo, ou que esta se confundisse com a rua onde nasceu. Mas aí pode estar “a face clara da possível confusão“. Realmente, não deixa de ser curioso – isto anda tudo ligado.

Aqui, são legítimas reclamações- “este tipo está a dispersar”. Pois, exactamente!”. Essa era uma das acusações que atiravam a Moreira de Sá.  O biógrafo cita António Vitorino de Almeida, recordando que

“num seu, a todos os títulos importante, programa na Televisão Portuguesa, de 1986, dedicado a esta figura notável, começou por salientar que todos os que trabalham e fazem muito, produzem muito, e têm sempre tempo para outras tarefas. Os que nada fazem, nunca têm tempo mas sobeja-lhes inveja.

No desenvolvimento do seu raciocínio afirmou que Moreira de Sá foi uma das figuras que mais influenciaram as tradições musicais da cidade do Porto.

Escritor, músico, crítico, concertista, alguns o acusaram de dispersar, que é uma acusação que fazem aos que produzem. Só a vasta fauna dos ineficazes nunca são acusados de se dispersarem”.

Isto anda tudo ligado, na verdade. Ainda por cima, naquelas suas “dispersões”, Moreira de Sá era muito dado a escrever sobre coisas muito diversas, e, como recorda o biógrafo, no  Vol. III das suas Palestras Musicais e Pedagógicas, escreve sobre a figura do “bondoso Dr. Costa Almeida, seu colega de liceu e na geringonça política.”  -Como? Onde é que eu já ouvi isto? Mas então, a mais que badalada geringonça política não era uma expressão da lavra do Dr. Paulo Portas? Tantas vezes lhe foi atribuida,   citada como sua, na sua presença, e sem que o facto o incomodasse ou perturbasse o seu profissional sorriso na lapela, e,  vai-se a ver, o sábio Valentim Moreira de Sá, nas suas dispersões, havia escrito coisa semelhante cem anos antes? Ai o Valentim! É conhecido que Paulo Portas é uma figura de leituras muito …dispersas, benza-o Deus! –Eh pá, isto anda mesmo tudo ligado!

Curiosamente –ou talvez não, que isto anda tudo ligado!-  a dado passo escreve o biógrafo, referindo-se a Moreira de Sá,

“Ele não era como Fernando Pessoa que proclamava: Mas eu não tenho princípios. Hoje defendo uma coisa, amanhã outra.”

Pois! Quem tem razão é o Sérgio Godinho:- “Isto anda tudo ligado”. E bem diz, mais adiante  “Ainda não vi /ainda não (…)/ a face clara da possível confusão”.

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