Molinhas saltam até ao topo da Europa e conquistam 14 medalhas

De cordas nas mãos e com as quinas ao peito, os atletas dos Molinhas - Clube de Rope Skipping das Taipas representaram Portugal no Campeonato Europeu da modalidade na Hungria, realizado entre 16 e 20 de julho, e conquistaram 14 medalhas na prova.

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

Os vimaranenses subiram ao pódio com cinco medalhas de ouro, cinco de prata e quatro de bronze no Junior European Championship, no European Championship e no Double Dutch Contest Event do Europeu. Os atletas do clube taipense bateram ainda um recorde europeu na categoria Single Rope Speed Relay 4×30 segundos, em que a equipa fez 403 saltos.

A presença vitoriosa na cidade de Eger valeu uma grande receção nas Caldas das Taipas por parte de familiares, amigos e populares que reconheceram o feito dos jovens atletas numa competição que reuniu cerca de 650 atletas de toda a Europa. “Foi muito bom e sentimo-nos especiais com a receção. Nos dias seguintes, íamos aos locais e abordavam-nos para nos parabenizar. Tivemos os nossos minutinhos de fama”, conta Sandra Freitas, presidente do clube, à Mais Guimarães.

A conquista das medalhas mereceu também o reconhecimento por parte da Junta de Freguesia de Caldelas, que recebeu toda a comitiva taipense, devidamente vestida a rigor, e homenageou os Molinhas pelos títulos alcançados.

O ‘boom’ nas redes sociais fez disparar a modalidade em Portugal

O Clube de Rope Skipping das Taipas, bem como a modalidade, foi parar às bocas do país através de um vídeo que se tornou viral nas redes sociais. A prova de Freestyle Double Dutch com Paulo Lima, Fernando Ferreira e João Vieira surpreendeu tudo e todos pelos ´skills´ por entre duas cordas e fez o vídeo alcançar milhares de visualizações e centenas de comentários.

O treinador dos Molinhas, Ângelo Santos, assegura que a prova “foi feita sem falhas mas não foi sorte. Já estávamos há muitas semanas a trabalhar na coreografia sem falhas e quando chegámos à fase final do Europeu sabíamos que ia correr bem. A equipa estava preparada física e mentalmente para o que aconteceu”, acrescenta o líder da equipa taipense. Ainda sobre o Freestyle Double Dutch, Ângelo Santos admite que “ficamos tristes porque não ganhámos. Foi uma participação boa e sentimos que fomos prejudicados pela avaliação. Tendo em conta a nossa prova, merecíamos ganhar o ouro, mas faz parte do desporto”, lamenta.

Ângelo Santos garante que o Clube de Rope Skipping das Taipas “não trabalha para ter o reconhecimento que teve, porque o objetivo é a competição. Mas isso torna-se no reconhecimento pelo nosso trabalho e por aquilo que conseguimos desenvolver ao longo dos anos.” O ‘boom’ dos Molinhas pelos ecrãs do país “aumenta a responsabilidade de continuar a promover os jovens para a prática desportiva transmitindo os nossos valores”, acrescenta.

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

Os triunfos europeus foram resultado de uma preparação exigente

Também as restantes medalhas foram conquistadas fruto de um exigente trabalho dos Molinhas, que treinavam quatro horas por dia com treinos bidiários, totalizando dez treinos semanais. “Fomos aumentando a carga horária e o volume de trabalho para obtermos estes resultados. Começamos a coordenar tudo desde o início da época para que os atletas chegassem a esta fase e aguentassem os treinos. Treinávamos quatro horas por dia e isso foi o ideal para eles recuperarem, o que também era importante. Senão estariam cansados e não teriam resultados”, explica o treinador.

Além dos duros treinos físicos, a preparação para o Campeonato Europeu teve como base um trabalho mental feito pela equipa técnica do clube: “Os atletas sabiam que teriam de manter um nível elevado nos treinos e nas provas para merecerem ir ao Europeu. Ao sentirem uma pressão extra, estiveram mais aliviados no Campeonato da Europa, isso foi fundamental. A parte mental é importante no desporto e trabalhamos com essa pressão para eles terem os resultados”, justifica Ângelo Santos.

O atleta mais medalhado do Clube de Rope Skipping das Caldas das Taipas foi Paulo Lima, que conquistou oito das 14 medalhas garantidas pela Seleção Nacional. Natural da vila vimaranense, arrecadou uma medalha de bronze individual na prova de 30 segundos, com
310 saltos, e sete medalhas em provas coletivas, nomeadamente no Freestyle Double Dutch e em velocidades por equipas. Paulo Lima conta à Mais Guimarães que a equipa portuguesa viajou para a Hungria com “ânsia de vencer e realmente tínhamos essas expetativas. Mas conseguir uma medalha em todas as provas que me qualifiquei foi a cereja no topo do bolo”.

Atualmente, com 25 anos, é um dos atletas mais velhos dos Molinhas mas a sua paixão pela modalidade começou na escola básica, quando a experimentou enquanto desporto escolar: “A modalidade trouxe-me uma vertente mais criativa, então optei por continuar e apaixonei-me até hoje.” O desporto está aliado a um hobby que marcou presença na infância de grande parte dos jovens, mas Paulo Lima nunca viu o rope skipping dessa forma. Considera que “o salto à corda nada tem a ver com aquilo que fazemos. Num treino, fazemos skills que qualquer pessoa não consegue fazer”.

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

O vimaranense é mestre em Educação Física e treinador de rope skipping em várias escolas, sendo convidado apenas para inserir a modalidade junto das crianças e jovens. A sua missão passa por “ajudar na divulgação da modalidade em diferentes locais” e afirma que “a receção nas escolas tem sido fantástica, as crianças adoram porque é algo que nunca fizeram. Então há margem para a modalidade evoluir”, acredita. Aos finais de tarde, viaja até à Escola Secundária das Caldas das Taipas para treinar as suas habilidades: “Quem corre por gosto não cansa”, explica Paulo Lima.

Contudo, além de atleta, serve também como um treinador para os molinhas mais novos, tendo como responsabilidade “mostrar que o
rope skipping é uma modalidade com valor tal como qualquer outra, porque a sociedade tende a negar isso. Tentamos que eles se divirtam, afinal o que eles fazem quase nenhuma criança lá fora consegue fazer”.

Depois de celebrar a conquista de várias medalhas no Campeonato da Europa de Rope Skipping em Eger, na Hungria, o atleta de 25 anos já tem novas metas definidas, nomeadamente a qualificação dos Molinhas para o Campeonato do Mundo de 2025 no Japão e vencer “qualquer coisa que for, porque será mais difícil. Passar para as finais já seria um ouro”.

De Braga para os Molinhas para “competir a nível europeu”

Miguel Lima é natural de Lisboa, vive atualmente em Braga, e tornou-se atleta dos Molinhas há dois anos “porque queria competir a nível europeu”. O seu percurso na modalidade começou no Edifacoop, em Braga, e posteriormente, o jovem de 21 anos acabou por criar um clube na cidade bracarense, os Bjumpers – Clube de Rope Skipping de Braga. Contudo, mudou-se para os Molinhas “por uma questão de objetivos”, onde afirmou que queria algo maior no seu palmarés.

Apesar de não ser remunerado na prática da modalidade, Miguel Lima explica que sempre procurou ser “o máximo competitivo possível, levando-me ao máximo das capacidades. Assim, quando percebi que os Molinhas seriam um destino onde conseguia atingir outros níveis, acabei por decidir que era a melhor opção”, volta a justificar.

Em solo húngaro, conquistou a medalha de ouro na prova 4×30 Double Dutch e na Double Dutch Contest e de bronze na prova de triplas. Durante o Campeonato da Europa, o apoio que chegava de Portugal “foi muito bom, porque fazia a diferença quando as pernas começavam a falhar e ficávamos cansados. Recebíamos mensagens diárias de muitas pessoas que nem conhecíamos a dizerem que nos apoiavam, apesar de não conhecerem o desporto”, conta.

O ‘boom’ da modalidade depois da conquista das medalhas fez com que “existam mais olhos no rope skipping, o que acaba por talvez melhorar o desporto e transformar a Associação Portuguesa de Rope Skipping em federação” defende Miguel Lima. O lisboeta aponta que um dos grandes desafios da modalidade é “não haver uma federação”, porque “os apoios são limitados”, algo que suscita um problema relacionado com “a parte monetária porque as competições não são grátis e faz com que abdiquemos de bens pessoais para conseguirmos participar.”

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

Lia Silva, de 13 anos, foi uma das atletas mais novas dos Molinhas a representar Portugal no Europeu e conseguiu trazer para casa uma medalha de ouro na CR 4×30 segundos e uma de prata no CR 1×60 segundos. Apesar de não estar “à espera de vencer nada”, Lia Silva
partilhou o seu sentimento de felicidade ao conquistar duas medalhas frente a “atletas muito bons, como os da Bélgica”. A chegada à sua terra natal foi “boa” e “especial”, pois Lia Silva admite que “não tinha noção de que seríamos tão reconhecidos e a aparecer em tantos canais mostrando o que fazemos e gostamos.

Foi incrível ver todo o apoio, porque deram-nos os parabéns e estão orgulhosos de nós”, explica a jovem atleta. No entanto, nem tudo é um mar de rosas. À parte de uma boa receção na escola feita pelos seus amigos, Lia Silva partilhou algumas críticas dos colegas, que “não ligam e dizem que é uma modalidade para raparigas. Os rapazes só veem futebol à frente, mas isso não nos afeta. Não são as críticas que tornam o desporto menos conhecido. Se não gostam, não têm que julgar”, desabafa a vimaranense.

A essência da modalidade entre cordas

O rope skipping não move massas e é uma modalidade em crescimento com cerca de 300 atletas em todo o país. No fundo, o que é o rope skipping?

Apesar de ouvirmos falar de saltar à corda quando somos crianças, o rope skipping “é muito mais que isso”, assegura Sandra Freitas. A modalidade “combina habilidades gímnicas como o manejo de cordas, ritmo e coordenação de uma forma fluída enquanto se apresenta uma coreografia. É um desporto rico porque também reúne a velocidade, a resistência e a potência. Vai então buscar diferentes aspetos condicionais e coordenativos.”

O ingrediente secreto para ser atleta de rope skipping é “gostar de sofrer”, explica Ângelo Santos em risos. O treinador considera que um ´saltador´ deve ter “resiliência e vontade de trabalhar, porque não é uma modalidade fácil. Exige características como coordenação e força e tem muitos aspetos para trabalhar o corpo todo.”

A base de treinos da modalidade começa sempre com trabalhos de freestyle para os iniciantes, porque é a prova “que motiva mais os miúdos a ficar no rope skipping”, frisa o treinador natural de Leiria. Depois, introduz-se a velocidade, a resistência e os múltiplos para “chegar aos resultados que obtivemos. Temos muito trabalho com e sem corda, com pesos, elásticos e cordas mais pesadas para colmatar algumas dificuldades que os atletas têm, que pode ser por exemplo a falta de força nos braços”.

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

Os Molinhas contam com atletas de bastantes idades, mas o treinador separa-os de acordo com certos trabalhos. “Acabamos por ter partes com todos em simultâneo, mas depois o treino é dividido por grupos com diferentes potencialidades. Os mais novos têm trabalhos mais lúdicos e divertidos, enquanto que os mais velhos têm treinos mais sérios e que seguem as exigências das competições”, explica o líder da equipa.

A nova temporada arranca com uma prova de velocidade em novembro e prossegue com um ´freestyle show´, o apuramento para as provas internacionais, o apuramento para o Campeonato Nacional e termina com o Campeonato Nacional, que é dividido entre individual e equipas. A nível internacional, a época culmina com o Campeonato do Mundo de 2025, no Japão, uma competição que ainda é uma incógnita para o clube taipense, pelos custos monetários elevados.

O Campeonato Nacional conta, de momento, com apenas cinco equipas espalhadas pelo país, sendo que quatro são localizadas no distrito de Braga. Além dos Molinhas – Clube de Rope Skipping das Taipas, a modalidade é praticada pelos Bjumpers (Braga), Edifacoop (Braga), Casa do Menino de Deus (Barcelos) e Lxskippers (Queluz). Além das equipas, há outros núcleos espalhados pelo país, em que os que têm maior força estão localizados em Lousada e Matosinhos.

A criação de mais equipas “traria melhorias para a modalidade” acredita o treinador leiriense, acrescentando que isso “aumentaria a competição saudável e faria que os atletas tivessem mais motivação, ao competir com atletas de outras equipas. Isso vê-se noutros países da Europa, em que o nível aumentou.”

Sandra Freitas também defende que “a modalidade está a crescer mais em alguns países do que em Portugal. E no nosso país o rope skipping não está a evoluir da forma como era expectável, está aquém do que esperávamos em 2011, na altura da criação da Associação Portuguesa de Rope Skipping”. A dirigente dos Molinhas alerta para a necessidade de mudança na “estratégia global do desporto, apostando mais no crescimento do número de atletas, porque assim teríamos uma evolução em paralelo com outros países”.

A conquista de 14 medalhas em Eger poderá alavancar o clube e a modalidade. Esta é uma “esperança” da dirigente taipense: “As medalhas sabem bem e estamos gratos por todo o processo, mas esperamos que isso nos traga novos atletas. Queria mesmo aumentar o número de praticantes para começarmos a ser vistos de uma forma mais séria pelas entidades governamentais”.

O nascimento dos Molinhas

Ângelo Santos conheceu o rope skipping no Algarve através de uma formação, enquanto dava aulas de educação física. Entretanto, mudou de localidade com a sua esposa, atual presidente do clube, e surgiu a oportunidade de criar um clube em São João de Ponte, onde realmente nasceram os Molinhas.

O Clube de Rope Skipping das Taipas começou em 2009 como uma experiência de desporto escolar na Escola Básica das Taipas. A partir daí, foi claro que “era preciso criar algo mais consistente e com regularidade”, sublinha a presidente. Assim, juntou-se um grupo de pessoas para a criação do clube e Sandra Freitas acabou por ser a dirigente.

Atualmente, os Molinhas contam com 56 atletas inscritos, mas o número já foi maior: “A Covid-19 levou-nos alguns meninos, mas vamos às escolas primárias mostrar a modalidade e fazer um trabalho de demonstração e de sensibilização. Acaba por ser cativante, mas a dificuldade que sentimos é na comunicação entre os miúdos e os pais”, frisa Sandra Freitas

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