MUCHO FLOW: CARTAS (E CARTAZ) DE AMOR À QUEBRA DE BARREIRAS SONORAS

A 7.ª edição do festival de vanguarda musical imita o que o certame já tinha oferecido a Guimarães: um alinhamento de propostas díspares. Pela primeira vez, o festival passou por três pontos da cidade e fez da diversidade o seu maior trunfo.

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A 7.ª edição do festival de vanguarda musical imita o que o certame já tinha oferecido a Guimarães: um alinhamento de propostas díspares. Pela primeira vez, o Mucho Flow passou por três pontos da cidade e fez da diversidade o seu maior trunfo.  

© Bruno Carreira

Elias Rønnenfelt parecia saído de um trabalho das nove às cinco e, mediante o aborrecimento da rotina, decidiu atirar-se a um microfone numa sala resgatada do abandono. O vocalista dos Iceage traz a fúria do rock mais barulhento na voz e os restantes membros da banda acompanham-no no caminho pós-punk. No edifício dos CTT, que acolheu um dos palcos da 7.ª edição do Mucho Flow, já não se trata da correspondência, mas muitas cartas de amor terão ficado por escrever aos Iceage. O nome mais forte do festival, organizado pela promotora e editora Revolve, fez jus à aposta e ao destaque e teve, na plateia, os Heavy Lungs, que tocaram antes dos dinamarqueses.

E se Bristol deu ao mundo o trip-hop há quase 30 anos, tem oferecido de igual forma, nos últimos tempos, o ressurgimento do punk com os Idles, amigos dos Heavy Lungs (e o nome do vocalista, Danny Nedelko, é também nome de uma canção dos Idles). Na antevisão ao festival, Miguel de Oliveira, um dos fundadores da Revolve, apontava o concerto da banda como um dos melhores que aconteceriam no Mucho Flow. Não errou: do vocalista gingão, feito marioneta controlada pela barulheira, ao baterista de tronco nu com palavras cuspidas no meio da euforia, os Heavy Lungs fizeram muito mais do aquecer o público para os Iceage, que fechavam o palco do antigo edifício dos CTT no primeiro dia. Eles estabeleceram a fasquia e os dinamarqueses aprimoraram a obra: pouco chegou aos pés do que se viveu naquela sala — digna de acolher mais concertos ou festas na decadência da noite — na primeira noite do Mucho Flow. Nesse dia, atuou ainda Croatian Amor, no mesmo local, preenchendo a sala com o contraste da eletrónica luminosa e o laivo industrial que marca o que tem vindo a fazer.

© Bruno Carreira

Mas o Mucho Flow desde ano — o maior de todos, com mais gente, a celebrar o décimo aniversário da Revolve — contou, à semelhança das edições passadas, com uma programação que disparou para muitos espetros da música. Por vezes, pode ser desafiante — até porque o alinhamento do Mucho Flow resulta muito do que a equipa da Revolve vai ouvindo. Os nomes mais consolidados ajudam a trazer mais gente, mas o objetivo “não é ter um megafestival com milhares de pessoas”, disse Bruno Abreu, da organização. “Temos noção que estamos a dar um passo maior e temos de chamar pessoas”, acrescentou. O responsável pela programação e agenciamento dentro da promotora e editora assegurou ainda que o público respondeu à proposta da Revolve desde o início: “No primeiro concerto [de sexta-feira, com Dada Garbeck] tínhamos já muita gente. E em Croatian Amor, à hora de jantar, à volta de 400 pessoas. É muito bom.”

As opiniões, à segunda noite, pareciam apontar para uma protagonista: Bbymutha, a norte-americana que se auto-intitula como o “anticristo” do rap. Não esperava que Guimarães respondesse tão bem à sua música (disse-o no Instagram), mas o facto é que acabou por distribuir vodka pelos copos (e bocas) de quem aproveitou a sua oferta. Havia ainda de pisar outro palco, mas desta vez a fazer companhia a Born in Flamez, que derrete fronteiras de género e até da música: houve espaço para, no palco do CAE São Mamede (onde seguiriam os últimos espetáculos de cada dia), respirar o experimentalismo pop, a diluição do novo funk brasileiro e até para a reminiscência ballroom a abrir portas ao voguing. Quem também se afirmou foram os muito aguardados Amnesia Scanner, num espetáculo entre o caos das luzes violentas e do som de uma outra realidade.

A 7.ª edição do Mucho Flow contou ainda com a participação do plantel da casa — o já referido Dada Garbeck, que tão bem abriu o festival, Montanhas Azuis, Chinaskee e Marco Franco — e de outros nomes como Damien Dubrovnik e CTM (que, com Croatian Amor, celebraram também a década de existência da editora dinamarquesa Posh Isolation). O Mucho Flow passou pelo CIAJG, pelo edifício antigo dos CTT pelo CAE São Mamede.

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