
por José da Rocha e Costa
Gestor de empresas
No próximo sábado, dia 24, o Vitória vai a votos, numa eleição que à partida se prevê que tenha uma das maiores afluências dos últimos anos, pelo menos se tivermos em conta o estado de alma que se faz sentir dentro da “Nação Vitoriana”. Basta entrar em qualquer café ou restaurante da cidade, que logo se ouvem discussões sobre o tema. Os Vitorianos estão em polvorosa e não é caso para menos, afinal de contas, é o futuro do Vitória que está em jogo. Mas por onde passa esse futuro?
Nas sessões de esclarecimento aos sócios, assim como no debate radiofónico do último fim-de-semana, Júlio Mendes repetiu incansavelmente que não tivesse sido a sua eleição em 2012, e o Vitória teria “fechado portas” devido ao estado de pré-falência em que o clube se encontrava. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Se é verdade que Júlio Mendes fez um trabalho meritório no que que diz respeito à recuperação da saúde financeira do Vitória e julgo não haver um único vitoriano que não lhe reconheça isso, não é menos verdade que ao longo da sua história o Vitória teve vários altos e baixos e, melhor ou pior, acabou sempre por recuperar das intempéries por que passou, fruto dos padrões de exigência e do voluntarismo da sua massa associativa. Tudo isto para dizer que o uso da chantagem emocional como estratégia de campanha é um dos truques mais antigos do manual da política e o actual Presidente, tal como pudemos constatar no debate de sábado, é um homem versado nessas lides. Mas gratidão não é subserviência. E por mais que os vitorianos possam estar agradecidos pelo que Júlio Mendes fez pelo Vitória numa hora difícil, não será por esse motivo que deverão votar na Lista B. Se tal acontecer, caímos no risco de relegar para segundo plano o momento actual do nosso clube. E o momento actual é preocupante. Não pelo lugar que o Vitória ocupa na tabela, mas sim pela degradação da sua identidade. O Vitória tem vindo a tornar-se exactamente naquilo que os sócios sempre recusaram: um entreposto de jogadores.
É certo que não tive o prazer de assitir à geração de Cascavel, N´Dinga e Jesus , mas, ainda que fosse à altura uma criança, lembro-me perfeitamente da geração de Neno, Capucho, Vítor Paneira, Gilmar, Soderstrom, os dois Basílios e tantos outros que jornada após jornada iam vivendo connosco as alegrias e as desilusões, lado a lado, como estas coisas têm que ser vividas. Outros lembrar-se-ão de outras gerações igualmente valorosas. Mas não os que tiveram o azar de ter nascido na última década. Esses não têm sequer tempo para decorar a cara daqueles por quem torcem. Meia dúzia de meses é pouco tempo para memorizar caras quando ainda somos crianças. Meia dúzia de meses e os ídolos deles vão-se embora: seja para um clube estrangeiro que aceita deixar um valor aceitável nos cofres do Vitória; seja para o clube que os emprestou, quando esse mesmo clube aproveita o trabalho desenvolvido pelo Vitória e chega à conclusão que afinal de contas esses jogadores, antes considerados dispensáveis, são agora indispensáveis para o seu plantel; ou por outro motivo qualquer que pareça justificável.
É por isso imperativo relembrar ao Presidente Júlio Mendes, a bem das futuras gerações de vitorianos, que não é este o Vitória com que os vitorianos se identificam e que, saldada parte considerável da dívida, talvez seja o momento de começar a caminhar não na direcção de um “Novo Vitória”, mas sim na direcção do Antigo Vitória.
Quanto a Júlio Vieira de Castro, reconheço-lhe o vitorianismo que é inquestionável, mas pelas propostas que não apresentou, não consigo ver mais para além disso. Promete apresentá-las no devido momento, mas, à hora que escrevo este artigo (noite de domingo, dia 18), ainda não as divulgou. Falta menos de uma semana para as eleições e tenho em querer que se não houve propostas até agora, é porque o próprio Vieira de Castro ainda anda à procura delas.