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“ONDE ANDAM OS CONSERVADORES?” ONDE SEMPRE ANDARAM.

Economista

Tiago Laranjeiro

por Tiago Laranjeiro

Economista

Há duas semanas, nas páginas deste jornal, José João Torrinha questionava-se do paradeiro dos conservadores. Escrevia a propósito do seu suposto silêncio contra alguns comportamentos de algumas direitas que, no seu entender, viviam “feliz e devidamente acantonadas”, dando como exemplo a Lega Nord, o Fidez, ou o Partido do Brexit, ou de uma suposta tolerância dos conservadores perante Bolsonaro e Trump.

Não gosto de me catalogar em caixinhas, muito menos ideológicas. Mas cedo ao facilitismo dessas formatações, por simplificação. E, cedendo, reconheço que, se há caixinha onde melhor caibo, é na dos conservadores. Assim sendo, senti-me com o seu artigo.

Tanto mais que Torrinha recorre no seu artigo a um caso que eu considero exemplar, o dos deputados europeus do Partido do Brexit que se voltaram de costas quando tocou o Hino da Alegria na sessão inaugural desta legislatura do Parlamento Europeu. Quando isso aconteceu, e vi a notícia, confesso que foi para mim um momento de “abre olhos”. O que aconteceu?

O Presidente do Parlamento cessante, Tajini, apelou à participação dos deputados europeus no gesto simbólico de se levantarem para ouvirem o Hino da Alegria, usando como argumento “vocês levantam-se para os hinos de outros países”. Ora, sucede que o Hino da Alegria, um hino da EU, não é um hino de um país. Fazer esta comparação é todo um projeto político que, pessoalmente, não subscrevo. É suposto que a UE seja algo diferente de um país ou de uma nação, é suposto que seja uma união de nações soberanas. E as tentativas sucessivas de eurocratas de tentarem construir nas decisões do dia a dia aquilo que os povos europeus têm rejeitado sucessivamente (uma UE-nação, que absorva as nações que a integram). E essa tentativa é algo que viola os princípios políticos que perfilho (e que, neste caso, coincidem com o da maioria dos conservadores).

O mesmo sucede com a reação visceral que um discurso sobre Trump e Bolsonaro, dominante no espaço público na Europa Ocidental. Não simpatizo com nenhum deles, mas esse discurso, veiculado pelos media, de diabolização destes líderes, não encaixa com aquilo que tenho visto na prática da governação de ambos. O Diabo não desceu à Terra no Brasil nem nos EUA. Como diz o ditado, “quando Pedro fala de Paulo, conhece-se mais de Pedro que de Paulo”. Esse discurso “bem-pensante” corresponde, a meu ver, a um sentimento de suposta superioridade moral da Europa Ocidental face a esses países e povos que, soberanamente, os elegeram, em circunstâncias muito particulares da história dos seus países – e que, felizmente, não vivemos.

E chegamos a uma contradição do discurso “bem-pensante”: como é suposto aceitar-se que nos levantemos perante o toque do Hino da Alegria, “como ao toque de qualquer outro país” (comparação que tem sido rejeitada sucessivamente pelos povos europeus), e por outro lado rejeitarmos os líderes eleitos livre e democraticamente por outros países, só porque não correspondem à nossa matriz?

São estas contradições dos tempos modernos, com muitas outras com que vivemos, que a meu ver levam a um certo desnorte político atual. Não bate a bota (do discurso político dominante) com a perdigota (da ação política concreta). Vivemos tempos um pouco distópicos. Talvez por isso tantos conservadores moderados vivam “felizes e devidamente acantonados” onde outrora moraram franjas. Até um dia.

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