OS “BICHOS”
MARCELA MAIA Técnica de relações internacionais na Universidade do Minho

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por MARCELA MAIA
Técnica de relações internacionais na Universidade do Minho
Cão, periquito ou peixe. Não importa se ande, voe ou nade, desde que respire…
A luta pelos direitos dos animais não é nova, mas tem vindo a ganhar adeptos e o crescente apoio de pesos-pesados da sociedade civil nos tempos mais recentes.
Por ser um tema que raramente reúne consenso e me interessar particularmente tendo a evitar escrever sobre o mesmo, no entanto, e à luz de desenvolvimentos recentes decidi abrir um precedente – e como em todos os temas, vai haver quem entenda o que escrevo e vai haver quem prefira outras leituras.
O meu carinho pelos animais caminha lado a lado comigo desde que sou um ser ciente e sempre me pareceu natural que estes merecessem ser cuidados e respeitados. Sabendo que não vivo num mundo idílico percebi que tal como não se gosta de todas as pessoas, há pessoas que não gostam de animais; há as que suportam a sua presença; as que convivem com os mesmos e as que tratam os seus animais como extensões da sua família – este último grupo é felizmente cada vez maior e infelizmente nunca suficientemente grande.
Percebendo e respeitando os interesses dos grupos supracitados não compreendo quando se ataca ferozmente quem defende os animais usando como projétil o argumento de “porque não se preocupam tanto com as pessoas?”. Nesta luta pelos direitos dos animais não se trata de preferir ou preterir uma espécie em relação à outra, trata-se sim de defender os que não têm voz e que até há bem pouco tempo não eram protegidos por nenhum tipo de legislação. Até porque, em resposta a esse argumento, diz-me a minha experiencia que, por norma, os que se batem pelos animais não são indiferentes à miséria alheia, já os que os que não respeitam os animais nem sempre se parecem importar se o seu vizinho passa fome…
A linha da frente dos soldados desta luta tem bom coração, ouve-se a uma só voz, faz muitas vezes omeletes sem ovos e está constantemente a ser posta à prova.
Há falta de apoios; há milhares de animais abandonados; há animais com um teto sob si, mas sem nenhum tipo de cuidado; há canis a abarrotar com animais entregues à sua má sorte; há outras pessoas com bom coração que não têm recursos para manter os seus animais e há sobretudo uma tremenda falta de humanidade em imensos exemplares dessa espécie suprema que é a Humana.
Ainda assim, no meio das grandes catástrofes, há grandes seres humanos que emergem dos escombros disponíveis a ajudar, restaurando assim a nossa “fé na humanidade”. Ocasionalmente ouvimos ainda falar de grandes exemplares caninos que mostram o porquê de serem o “melhor amigo do homem”.
Durante a tragédia que se abateu sobre Itália nos últimos dias e que fez centenas de mortos, saltaram-me à vista três notícias acerca desses “melhores amigos do homem”: o Cocker Spaniel que permaneceu ao lado do caixão do dono, fielmente, até ao momento do funeral; o cão que indicou ao dono o local onde a sua família estava soterrada, ajudando-o a escavar para os tentar salvar e o Golden Retriever que sobreviveu durante nove dias sob os escombros.
Os animais, domésticos e não domésticos, são criaturas fantásticas que tal como nós merecem ser respeitados e ter o seu lugar – quer se goste quer não.