PELA CIDADE

WLADIMIR BRITO Professor de Direito na Universidade do Minho

Wladimir Brito

por WLADIMIR BRITO
Professor de Direito na Universidade do Minho

  1. Felicito as quatro jovens cientistas que ganharam o prémio L’Óreal – duas delas com directa ligação a Guimarães – pela excelência dos seus trabalhos de investigação científica, que as honra e que honra a ciência portuguesa. De entre elas está a vimaranense Maria Inês Doutel Almeida a quem quero saudar particu-larmente.

A todas tenho a dizer que, com a precarização do trabalho científico, o vosso sucesso é uma janela de esperança para a nova geração de cientistas que querem libertar-se dessa nova forma de “escravatura” que o sistema vos impõe e que é a precarização do vosso trabalho. Mas, para tanto, não chega só a investigação de qualidade, pois como  diria Nietzsche, se o melhor do escravo é a revolta, eu direi que também é a revolta contra esse modelo de Universidade, em que, como diz o filósofo Leonidas Donskis, os critérios de produção científica passaram a ser os mesmo da produção de fabril, que é o melhor  dos jovens cientistas  precarizados, por ser esse critério que justifica a vossa precarização e a vergonhosa exploração do vosso trabalho.

Não vos restará outra saída que não seja essa, se querem dignificar o vosso trabalho e a própria Universidade. Parabéns, Maria Inês.

 

  1. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, continua embevecido com as suas funções que, por vezes, confunde com as do comentador que foi. Fala de tudo e sobre tudo e a Presidência para ele começa a ser a quotidianização do seu “show” dominical que, a propósito do seu primeiro ano na Presidência, a TVI sintetizou com o show mediático que realizou. O quotidiano da Presidência é agora um “selfidiano” do Presidente.

Mas, o Presidente Marcelo não faz isso só por simpatia pessoal. Fá-lo também com objectivos políticos para cuja prossecução utiliza esse novo instrumento político conhecido por Marcelfie, que constitui  os selfies numa prática política pensada e selfidianamente executada para promover, uma progressiva presidencialização do nosso regime político, a que designa-remos por marcelização do regime. Esta vocação presidencialista de Marcelo, que se vem manifestando sob distintas formas de intervenção do Presidente na área do Governo e no espaço político da oposição, a afirmar-se, irá ser um foco de conflito com o Governo e com as demais forças políticas.

Para prosseguir esse objectivo, o Presidente, sob o diáfano manto dos sorrisos e beijos, captados pelos e registados nos Marcelfies, tem vindo a consolidar a base social de apoio de que virá a necessitar logo a seguir às eleições autárquicas de que ele tanto nos fala, por saber que a mudança que essas eleições poderão ou não provocar nas relações de força no seio do seu Partido e/ou entre este e o Governo é decisiva para a realização ou não desse seu projecto.

Até lá, a natural simpatia do Presidente projectado no écran mediático dos selfies ocultará esse objectivo.

Estejamos pois atentos não à superfície dos Marcelfies, mas à profundidade de campo que com eles se quer obter.

 

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