Pela Cidade
Por Wladimir Brito.

por WLADIMIR BRITO
Professor de Direito na Universidade do Minho
-
- 1. As pandemias e as catástrofes quando justificam a declaração de estado de emergência ou de calamidade revelam a existência de duas práticas com forte impacte na nossa liberdade. Trata-se a emergência da biopolítica como dimensão decisiva do poder e da imunização do corpo político para usarmos o conceito criado por Roberto Esposito segundo o qual dela é uma protecção negativa da vida porque “salva, assegura, conserva o organismo individual ou colectivo a que é inerente…” mas submete-o a “uma condição que ao mesmo tempo lhe nega, ou reduz, a força expansiva”.
-
- A necessidade de salvar vidas ou de assegurar a saúde colectiva – a salus populi – considerada como lex suprema, constituem os fundamentos legitimadores da declaração do estado de excepção e do exercício de poderes excepcionais, que é sempre poder coactivo, mesmo quando se dissimula para se apresentar como persuasão sanitária ou securitária.
-
- Como pode ver-se, o estado de excepção relaciona a política, o direito e a vida, esta na sua relação com a morte. A vida e a sua conservação e a morte e o sentimento de fini-tude e de perda, articulam a política e o direito, justificando, em nome da salus populi, a prática da biopolítica, a limitação excepcional do direito pela política e das naturais manifestações da vida, individual e comunitária.
-
- 2. Este é o parodoxo que o Estado de Excepção cria, mesmo quando é decretado em nome de uma calamidade natural ou de invasão militar, e que revela a dimensão biológica da política, assumida agora como biopolítica aplicada a cada um de nós e à comunidade através de recomendações, proibições, sugestões, imposições, regras sanitárias, alimen-tares e securitárias. Biopolítica que politicamente se socorre do medo para nos levar a aceitar sem reação crítica a ideia de que necessitas non habet legem (a necessidade prescinde da lei). Medo de a doença vencer a saúde, medo de a morte vencer a vida, de a desgraça vencer a fortuna. É a hegeliana dialéctica do negativo (a doença, a desgraça, a morte) e do positivo (a vida, a saúde, a fortuna,) que individual ou comunitariamente nos imuniza de reagir criticamente, pela revolta, contra o exercício abusivo dos poderes excepcionais e nos leva a aceitar sem reacção crítica as medidas preconizadas e aplica-das pelo poder político por serem aquelas que cientistas e técnicos aconselham, como se o estado de excepção legitimasse a constituição de um de governo de filósofos, como o que Platão aspirava e que felizmente os gregos sempre rejeitaram.
-
- Daí que o estado de excepção, sem controlo democrático, seja perigoso para a democracia e para a liberdade e que, no decurso da sua vigência, devamos assumir como dever fundamental a recusa da suspensão da democracia. É exactamente nessa situação excepcional que temos de manifestar e afirmar sem medo a nossa liberdade de pensar, de criticar e de fiscalizar o modo como se exerce o poder e, se necessário, de resistir às desnecessárias ou abusivas limitações da nossa liberdade individual e colectiva.
-
- 3. Não se pretende com isso defender que que o estado de excepção seja sempre paradigma de Governo e expressão do totalitarismo, como advoga Georgio Agamben, mas sim advertir para o canto de sereia da sua dimensão biopolítica, que invoca a salus populi para, por vezes, justificar o uso indevido e abusivo de poderes excepcionais e para o dever de não aceitar a suspensão do nosso direito de agir politicamente.
PUBLICIDADE
Partilhar
PUBLICIDADE
JORNAL
MAIS EM GUIMARÃES
Março 21, 2025
A Câmara Municipal de Guimarães, a Sociedade Martins Sarmento e a União de Freguesias de Briteiros São Salvador e Briteiros Santa Leocádia vão assinar amanhã, sábado, às 10h30, no Museu da Cultura Castreja, o protocolo de cooperação para a criação do Parque Florestal da Quinta de Ponte.
Março 21, 2025
Isto quer dizer que a associação espera que haja uma cooperação por parte da autarquia, e que este debate de ideias, que ocorreu no Centro Cultural Vila Flor, na última quinta-feira, não signifique apenas uma das iniciativas a compor um programa de aniversário.
Março 21, 2025
A Vimágua iniciou uma empreitada de extensão de redes de abastecimento de água e de drenagem de águas residuais em várias ruas da Freguesia de Gonça e da União de Freguesias de Atães e Rendufe.