PELA CIDADE

WLADIMIR BRITO Professor de Direito na Universidade do Minho

Wladimir Brito

por WLADIMIR BRITO
Professor de Direito na Universidade do Minho

  1. Há mais de vinte anos, o arquitecto Fernando Sérgio, outros amigos e eu opusemos à construção do edifício conhecido por “cozinha dos pobres” que a Câmara Municipal decidira construir no Largo de Donães, por entender-mos que tal construção era um atentado urbanístico. Nessa altura, fomos considerados uns loucos que se opunham ao desenvolvimento da cidade. Passados esse anos, esse edifício foi demolido e o espaço por ele ocupado e a rua João de Melo foram requalificados, repondo-se a harmonização estética do conjunto edificado, nesta parte do centro histórico da cidade.
    Diz-se que na requalificação desse espaço, que integrava a bonita casa cuja pare-de, virada a nordeste, está revestida com azulejos azuis e brancos, os arquitectos quiseram respeitar a sua história, o que justifica que tenham deixado a estrutura do antigo portão de acesso ao quintal daquela casa, que marca a separação dela com a Rua João Melo, e, junto da casa, um muro pintado de branco (restos do edifício demolido), cuja única função, parece-nos, será a de proteger a sua privacidade.Acontece, contudo, que nesse espaço, transformado em Largo foram colocados quatro postes de metal, um em cada um dos quatro pontos cardeais, todos com uma altura considerável e pintados de vermelho escuro (sangue de boi), suportando dois deles – os colocados a norte e a sul desse Largo – um fino cabo de metal. Aproximadamente a meio do Largo, nesse cabo foi pendurado um lampião, que, rezam as crónicas do “antigamente da vida”, servia para iluminar os ferreiros que aí trabalhavam, faltando, portanto, colocar por baixo do lampião algo que simbolize os ferreiros. Pese embora essa justificação histórica, aqueles quatro postes de metal desfeiam o espaço e, parece-me, que sempre poderia ser encontrada outra solução menos “agressiva” para a colocação do lampião.Contudo, não há dúvidas de que a demolição do “mamarracho” deu lugar a um espaço reconciliado com a área envolvente e com o conjunto arquitectónico do centro histórico, espaço equipado com esplanadas e ocupado pelo público que aí se sente confortavelmente recebido.

    Há vinte anos o que queríamos era que se mantivesse essa harmonia espacio-societal, então existente, mas em absoluta degradação. Nessa altura, reivindicar essa harmonia era coisa de loucos inadaptados, sem consciência do desenvolvi-mento urbanístico.

    A obra agora feita não deixa de ser o reconhecimento da razão daqueles que só pediam o respeito pelo então edificado nessa parte do centro histórico. Assim, todos os que criticaram a construção do edifício demolido, devem estar satisfeitos com a obra agora feita, mesmo que se discorde de algumas das opções arquitectónicas adoptadas. Mais vale tarde do que nunca.

 

  1. Parece ser hoje comummente reconhecido que as sociedades modernas têm medo do silêncio. Por isso, por todo lado oferecem-nos som, por regra, de muito má qualidade. Assim, acontece com a música ambiente no hall dos hotéis, e nos elevadores, onde vozes irritantes anunciam o piso a que chegamos. Sempre que ocupamos esses espaços, somos punidos com esses sons, punição que não é “sanção zero”, como agora se diz na orwelliana novilíngua europeia, mas um efectivo e desagradável castigo.
    Mas, onde tudo isto se torna um castigo insuportável e imerecido é nosso centro histórico. Aí o cidadão é punido, pela música de má qualidade e em “altos berros” debitados para o espaço público por altifalantes dos bares e café, punição essa agravada  pelo parolismo que tal conduta revela.Não se entende como é que a Câmara Municipal e a polícia lato sensu permitem a cada bar ou café a difusão de tanto ruído para a rua, quando não podem desconhecer que tal não é permitido por lei e que essa proibição é uma questão civilizacional.

Concedo o direito à parolice e ao mau gosto, desde que seja dentro de cada bar ou café, onde só entra quem quer, mas já protesto contra o facto de as autoridades municipais não fazerem respeitar a lei, aceitando também, por parolice, mau gosto e falta de senso, que o cidadão  seja incomodado com tanto ruído sonoro.

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