Pontos de (des)interesse: Escola da Veiga

Um portão verde gradeado e um antigo pavilhão desportivo pré-fabricado em estado de degradação resistem como memórias físicas de quase três décadas dedicadas ao ensino de quem por lá passou.

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Um portão verde gradeado e um antigo pavilhão desportivo pré-fabricado em estado de degradação resistem como memórias físicas de quase três décadas dedicadas ao ensino de quem por lá passou. A Escola da Veiga encerrou a atividade em 2005, mas as peripécias e afetos vividos permanecem nas memórias de todos os Veigueiros e Veigueiras.

A Escola Secundária de Guimarães, mais conhecida por Escola da Veiga, por estar localizada na zona das Cancelas da Veiga, em Azurém, surgiu no ano letivo de 1975/76, com um perfil diferente das escolas previamente existentes, o Liceu Nacional de Guimarães (atual Escola Secundária Martins Sarmento) e a Escola Industrial e Comercial de Guimarães (atual Escola Secundária Francisco de Holanda).

Projetado para um funcionamento provisório de cerca de 10 anos, o novo espaço de ensino instalou-se numa zona periférica da cidade, com acessibilidade difícil, ganhando corpo com a transformação dos materiais pré-fabricados nas salas de aula, no pavilhão desportivo, no bar e no refeitório e com um leque de professores de idades bastante baixas, algo incomum no panorama do ensino da altura.

Pedro Pires ingressou na nova escola da cidade berço logo no seu segundo ano letivo de funcionamento, 1976/77, e ainda hoje tem presente o ambiente “rural” da escola instalada na cidade, em que das “janelas” das salas se viam “campos” e “vacas” a pastar, bem como a “camaradagem muito grande entre os colegas” e a “proximidade na relação entre alunos, professores e diretores daquela escola”.

“Para [a escola] começar a funcionar no primeiro ano, teve de haver uma reunião de pais, porque, na altura não havia professores. Outros professores eram mais velhos do que os alunos três anos ou quatro, e tanto podiam dar aulas, como estudar na universidade”, recordou.

O antigo aluno da Secundária da Veiga sublinho também que o “conselho diretivo era muito liberal e tinha pessoas espetaculares”, permitindo aos alunos, por exemplo, ir para o pavilhão fazer desporto, mesmo que o “professor de ginástica” faltasse.

O professor Costa foi durante muitos anos o rosto do conselho diretivo, lembra Lurdes Magalhães, que se matriculou em 1983 para estudar Administração e Contabilidade. Residente no centro histórico de Guimarães, a ex-aluna confessa ter partido para uma “aventura” que a obrigou a dirigir-se para uma escola mais longe do que estava habituada, debaixo de “chuva, de calor, de muito frio”, mas também a regressar, quando mudou para o regime noturno, a casa todos os dias, à noite, por “um campo com árvores”, sem luz, até às Cancelas da Veiga.

Jogadora de andebol federada na altura, Lurdes Magalhães considera que a Veiga nunca recebeu “o apreço” e o “valor exato” que merecia, por se localizar “à margem do centro”, embora fosse bem conceituada e tivesse ótimos funcionários e professores, “muito conscienciosos”.

“Tenho colegas que acabaram por ter de ir para a Martins Sarmento ou para a Francisco de Holanda, mas que não esquecem que a Veiga foi a melhor escola onde andaram. Nunca tivemos um problema com um empregado”

Lurdes Magalhães, ex-aluna

Aluno entre 1987 e 1990 no curso técnico-profissional de gestão, Joaquim Freitas recorda particularmente a “camaradagem” e a “união muito boa” entre os alunos, apesar das más condições materiais do local, com “paredes muito finas, de cimento, em estrutura pré-fabricada” e “chapas em amianto agora proibidas nas escolas”, que originavam desde “frio, inundações, a muito calor também no verão”.

O ex-estudante da Veiga retém igualmente as rotinas dos tempos livres, que incluíam algumas idas à cidade.

“Tínhamos um pequeno espaço junto do pavilhão em que se jogava à bola, em terra. Na altura, havia também um barzinho à entrada da rua, quem metia para a Veiga, em que as pessoas se encontravam. Muitas vezes os alunos, quando tinham um feriado ou um tempo mais longo, iam lá abaixo até ao centro da cidade, onde os alunos das outras escolas paravam”, contou.

A escola encerrou no ano letivo 2004/05, com Pedro Pires a alegar que “houve pressões da universidade [do Minho] para poder ter parque de estacionamento” perto do local onde se encontra o Bar Académico, mas os alunos, esses, continuam a reunir-se, ainda que fora da sala de aula. Uma comissão composta por antigos estudantes organiza anualmente, no último fim de semana de maio, um jantar de confraternização com Veigueiros e Veigueiras para relembrar os tempos vividos entre os edifícios pré-fabricados da velha escola.

“Fui nomeada, este ano, para a nova comissão. O evento tem-se tornado cada vez maior. Costumamos ser entre 250 e 300 pessoas. Estamos com dificuldades em quintas, porque o número de pessoas vai aumentando cada vez mais, e temos os jantares mensais para apurar o que vamos precisar fazer para o próximo ano”, contou Lurdes Magalhães.

Para Joaquim Freitas, a elevada afluência aos jantares é a prova de que “ficou alguma coisa”, passados mais de 10 anos do último toque de campainha ouvido na Veiga.

Artigo escrito pelo jornalista Tiago Mendes Dias.

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