“QUANDO UM DEDO APONTA PARA A LUA, O TOLO OLHA PARA O DEDO” (Provérbio Chinês)

JOÃO TORRINHA Advogado Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães

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por JOÃO TORRINHA
Advogado
Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães

O debate político, nos dias que correm, tem vindo a ser inquinado por uma estratégia que tem tanto de pobre como de profundamente errada. Falo da política de casos. Os grandes temas, as linhas mestras com que cada força partidária pretende intervir, as suas ideias para o futuro do país, do município, da freguesia, tudo isso parece interessar pouco. Abrem-se os jornais, ligam-se os noticiários televisivos e radiofónicos e claro, clicam-se nas páginas das incontornáveis redes sociais e parece que o debate político se faz em torno de casos, “casinhos” e mesmo de pseudocasos ou ainda de não casos.

E é assim que se passam horas e dias e semanas a discutir a ida de um ministro a um estádio de futebol, a putativa taxação dos aquários que temos em casa, ou um jantar no panteão nacional. Horas, dias e semanas após as quais o caso abandona, sorrateiro, a paisagem mediática, normalmente para nunca mais voltar a dar de si em lado nenhum. A importância que lhe é dada quando nasce, é inversamente proporcional à que recebe quando morre. O caso vive uma vida breve, intensa e fulgurante e tem uma morte solitária e triste. Ninguém vai ao seu funeral. Também interessante: o caso quando nasce, se porventura o fizer quando o anterior ainda vive, rapidamente acelera o respetivo decesso. O caso canibaliza o seu antecessor.

Em contrapartida, toda a gente parece enfastiada quando são apresentados os números da economia, desde o desemprego ao crescimento do PIB, desde as exportações aos juros da dívida. A discussão sobre temas como as assimetrias regionais, ou a legislação laboral parece que apenas surge (lá está) a reboque de um qualquer caso que apareceu. Esta realidade, que estando longe de ser única, é a base de tudo aquilo que, enquanto comunidade nos propomos fazer, parece ser soterrada pela profusão dos tais nadas que vão alimentando tudo.

Dir-me-ão uns: mas isso sempre assim foi, sempre houve casos no espaço mediático. Respondo eu: verdade. O que mudou então? O que mudou foi que nos dias que correm a tal paisagem mediática parece que só vive destes tais casos. Tudo o mais, quando aparece, é atirado para notas de rodapé, ou páginas bem entradas dos jornais.

Mudou ainda outra coisa: há quem pense que esta é uma boa estratégia política. Cavalgar os ditos casos como se não houvesse amanhã. Cavalga-se o caso, o casinho e o pseudocaso. Tudo é pretexto para se amplificar o acessório em detrimento do essencial.

Ora, isto não é só trágico de tão pobre que é. É perigoso. Perigoso porque quem alimenta esta corrente está a esquecer-se que, mais tarde ou mais cedo, esta realidade lhe vai também cair em cima. A discussão política posta nestes termos não tem vencedores, só derrotados. Derrotados os próprios que mais cedo do que tarde se vão encontrar atolados também eles nessas areias movediças. Derrotados todos nós que na floresta de casos com que somos brindados (e que também alimentamos) deixaremos de conseguir ver a floresta, mas só a árvore.

Quando assim for, tomaremos piores decisões. E quem toma más decisões, mais tarde ou mais cedo também ele será uma vítima.

 

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