Quanto vale meia hora do teu tempo?
Artigo publicado na edição de março da revista Mais Guimarães.
Medo de agulhas. Falta de tempo. Tenho tatuagens. Há doenças que me impedem.
São muitas as vezes que ouvimos dizer que dar sangue é dar vida, mas isso nem sempre representa uma dádiva. A celebrar o Dia Nacional do Dador de Sangue, neste dia 27 de março, a Mais Guimarães procurou conhecer a realidade vivida no concelho.
Manuela Oliveira, uma das dadoras com quem nos cruzamos no último dia do mês de fevereiro, na Casa do Dador de Azurém, mostrou-nos a sua visão sobre as coisas. “Apelos são feitos muitos, mas ainda falta a sensibilidade das pessoas. Creio que é por pensarem que nunca precisamos, porque quando isso acontece já pensamos duas vezes”, contou à Mais Guimarães.
Atualmente com 45 anos, começou a doar sangue por volta dos 20, apesar de desejar ter iniciado ainda mais cedo. Admite que adiou “pelo receio”, mas agora dá com regularidade.
A história de Joana Rocha em muito se assemelha à de Manuela Oliveira, na marquesa ao seu lado. A sua primeira vez aconteceu aos 19 anos, quando estavam a ser feitas colheitas em carrinhas da universidade. Descreveu a experiência como “super tranquila” e garantiu que “quem está do outro lado são pessoas compreensivas que dão todo o apoio necessário”.
Em cada visita diz sentir “uma sensação de dever cumprido” e afasta eventuais receios daqueles que ainda se podem inscrever tanto para a dádiva de sangue, como para a dádiva de medula óssea. “Quem puder dar sangue, não pense duas vezes. Se temos saúde, e se temos capacidade para fazer isto, devemos aproveitar porque as reservas estão sempre em baixo. Hoje são os outros, amanhã podemos ser nós”, concluiu a jovem de 27 anos.
Ambas com ocupação profissional, garantem não ser difícil arranjar tempo. Dizem, aliás, que com organização “tudo é possível”.
Manuela Oliveira tem outro exemplo para nos contar. O seu marido, que já é dador há 30 anos, como não tem disponibilidade para passar pelas Casas do Dador, sempre efetuou as suas dádivas aos fins de semana, quando as carrinhas percorrem as freguesias.
“Há um aumento gradual dos jovens”
A Casa do Dador de Azurém é um local com história no concelho de Guimarães. Não só pelos seus anos de vida, desde 2008, mas também porque a seguir ao Hospital de S. João, no Porto, e ao Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, a Associação de Dores Benévolos de Sangue de Guimarães é aquela que mais doações de sangue angaria a nível nacional.
Juntamente com os seus dois núcleos de Ronfe e Felgueiras, tem atualmente 4.500 dadores inscritos. Em 2022, as dádivas quase chegaram às 11 mil.
Alberto Mota, presidente da direção da Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue (Fepodabes) e simultaneamente da Associação de Dores Benévolos de Sangue de Guimarães, confirma que a nível de Guimarães e Felgueiras tem tido “boas respostas diariamente”. Os resultados animadores são também fruto de um trabalho de consciencialização dos jovens, através de campanhas junto dos estudantes e empresas com trabalhadores jovens.
O responsável lembrou que são necessárias entre 1.000 e 1.100 doses todos os dias em Portugal, o que representa uma média de 1.500 a 1.600 dadores.
Numa altura em que as reservas se encontram em níveis baixos, devido ao período critico de gripes e constipações que vão afastando os dadores, torna-se importante desmistificar algumas ideias que, em pelo século XXI, ainda persistem.
Alberto Mota explica que a Fepodabes vai lançar, ainda este mês, uma campanha de sensibilização e informação sobre tatuagens. Cada vez mais comuns nos jovens, é importante que seja do conhecimento geral que, após quatro meses da sua realização, a dádiva já é permitida. Também as questões relacionadas com a orientação sexual são inexistentes. A associação diz ter-se esforçado por “combater qualquer tipo de discriminação”.
Relativamente à situação clínica, o responsável apela a que “apesar de terem algum problema de saúde ou estarem a tomar certos medicamentos, os cidadãos se dirijam às colheitas onde vão encontrar profissionais de saúde que os vão aconselhar”.
“As únicas condições são ter entre 18 e 65 anos, e ter mais de 50 kg. Não deixem de passar por cá. Esta é a única forma de ajudarmos os doentes e os acidentados”, afirmou, acrescentando que “cada contributo é importante”.
Quanto vale meia hora do teu tempo?
Pode valer uma vida.
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