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Recordar… o Vitória #59

Por Vasco André Rodrigues.

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Por Vasco André Rodrigues, Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’Nesta rubrica em que relembramos momentos e personagens da história do Vitória, até à presente data, ainda não aludimos a nenhum dirigente.

Porém, a verdade é que a história das instituições jamais poderá ser contada sem mencionarmos quem comandou os destinos da nau, quem teve papel determinante nas políticas a seguir.

Por essa razão, hoje falaremos do presidente que mais tempo ocupou a cadeira presidencial no Vitória: António Alberto Coimbra Pimenta Machado, o homem que comandou os destinos do clube do Rei durante 24 anos, entre 1980 e 2004. Homem de verbo fácil, capaz de criar um soundbyte quando na altura ainda nem sequer se sabia o que era isso, corajoso ao ponto de não virar a cara a qualquer conflito, mas, igualmente, impulsivo, terá conseguido algo que até à presente data nenhum presidente do Vitória conseguiu: ter dimensão nacional!

Tendo entrado no Vitória como vice-presidente, passados dois anos haveria de assumir o cargo máximo no clube, com o seu primo Armindo a seu lado. Uma aliança estratégica que conseguiria trazer para o Vitória um triunvirato de técnicos de alta estirpe (José Maria Pedroto, Artur Jorge e António Morais), bem como a pérola holandesa, Blanker, resgatada ao Ajax Amesterdão.

Porém seria a venda deste que desencadearia a guerra entre primos, que se incompatibilizaram de modo definitivo. Acresce, ainda, que Armindo candidatar-se-ia no acto eleitoral seguinte contra o jovem presidente, para ser derrotado de forma contundente. Seria a primeira vitória de um homem que, por muito que tentassem, nunca conseguiriam destronar nas urnas!

Depois de ficar com o poder só para si, começaria a construir o projecto que tinha em mente. Assim, procurou aliar um fortalecimento acentuado das infra-estruturas do clube, com uma aposta desportiva tendente a tornar o Vitória um clube de cariz europeu, uma realidade que durante a década de 70 do século passado, por uma razão ou por outra, nunca foi sucedendo.

Tal começou com o aproveitamento dos terrenos da Unidade Vimaranense, onde seriam lançadas as primeiras pedras da actual Academia do Vitória.

Tendo visitado Milanello, onde esteve com o então director-geral do AC Milan, Adriano Galliani, o líder máximo vitoriano quis erigir uma construção à imagem dos italianos. Construção essa que seria fomentada pela sua capacidade negocial, capaz de vender jogadores por quantias acima da média à altura e cujos montantes foram canalizados para uma das jóias do património vitoriano. Quem esquecerá as vendas de Paulinho Cascavel, Pedro Barbosa e Pedro Martins, Capucho, entre mais alguns, que sempre deixaram o cofre do Vitória forrado de dinheiro para investir?

A “Unidade” seria, pois, a menina dos olhos de todos os vitorianos e a casa de onde sairiam os primeiros títulos nacionais do clube do Rei: o campeonato nacional de juniores de 1991 e o de iniciados em 1996.

Além destes, destaque, também para a obtenção do primeiro título de futebol sénior, graças à conquista da Supertaça Cândido de Oliveira, de 1988, frente ao FC Porto, ou os quatro apuramentos consecutivos para a, então, Taça UEFA, um record cada vez mais difícil de igualar. E já que se fala em competições europeias, quem poderá esquecer as caminhadas de 1986/87 e 87/88, onde o Vitória chegou, respectivamente, aos quartos e aos oitavos de final da prova?

Acresce, ainda, o seu carácter impaciente na conquista dos seus objectivos. Tão impaciente que qualquer treinador sabia que não teria a vida fácil se titubeasse em alguns jogos, e mesmo que tivesse um voto de confiança no presente, no dia seguinte poderia ser despedido, pois, como o próprio dizia “o que hoje é verdade, amanhã é mentira.”

E já que falamos em treinadores, a sua impaciência para com estes tornou-se lendária. Momentos como o surpreendente despedimento de Jaime Pacheco, o último adeus de Quinito, bem como outros que à primeira leva de incertezas mereceram o estalar do chicote, como, inclusivamente, o bem-amado Marinho Peres, que não foi feliz no regresso, tornou o, então, presidente vitoriano um terror para os técnicos.

Destaquemos, também, o ar polémico de um homem que nunca virou a cara a conflitos.

Desde a famigerada história do carimbo de N’Dinga, em que a Académica alega ter sido ludibriada, à perda de Zahovic para o FC Porto pelo facto do Vitória não ter enviado ao jogador a carta de renovação, ou a rescisão de Fernando Meira que, assim, pretendia assinar pelo Benfica a custo zero, foram muitas as guerras em que entrou, perdendo umas e ganhando outras…. aliás, um retrato da vida de todos nós!

Guerras essas que, também, tiveram um prisma judicial. António Pimenta Machado viveria um fim conturbado no Vitória. Acusações de enriquecimento ilícito, de ter um saco azul nas contas do clube, de servir-se do clube em vez de o servir, fizeram com que a oposição aguçasse a guerra contra si, desencadeando-lhe diversos processos judiciais. Chegaria, inclusivamente, a ser detido a um Domingo, na véspera de um jogo do Vitória para a Taça de Portugal, o que levaria o falecido Avelino Ferreira Torres a considerar que o “o que fizeram ao Doutor Pimenta Machado foi uma filha da putice.”

Apesar disso sairia sob fiança e seria sob a sua liderança que o estádio D. Afonso Henriques seria inaugurado com a forma que se conhece hoje. Estamos em Julho de 2003 e ninguém ainda sabia que seria a última temporada de um homem que tinha ganho 7 actos eleitorais.

No final dessa temporada, desgastado pela incessante oposição, acusado da realização de uma Assembleia-geral onde as deliberações foram tomadas de forma duvidosa, decidiria partir.

Foram 24 anos e ninguém duvide…existe um antes e um depois no Vitória com ele!

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