“Sentimos um compromisso com o público a que não podemos falhar”
"Faz este ano 25 anos que trabalho neste festival".
Ivo Martins esteve em 24 das 28 edições do Guimarães Jazz. O diretor artístico do festival defende que este ano havia um compromisso com o público que era preciso “honrar”. O festival tem mais músicos portugueses que nunca, num formato só possível porque, no tempo de vida do Guimarães Jazz, o próprio género musical evoluiu em Portugal. Hoje há “dezenas de músicos de grande qualidade e o Guimarães Jazz também tem a sua responsabilidade nisso”. A 29ª edição decorre entre 12 e 19 de novembro.
O Guimarães Jazz viu-se obrigado a fazer muitas adaptações ao formato para poder acontecer neste ano especial? Os concertos matinais foram uma das originalidades?
Foi uma questão de sobrevivência. O festival este ano acontece num modo de sobrevivência. Estamos em serviços mínimos, sem muitas das coisas a que estamos habituados. Este ano, não vai haver as jam sessions, os workshops, as atuações de rua e a invasão de jovens músicos que tomam conta das ruas da cidade. Isto que apresentamos, este ano, é o possível cumprindo com as normas que nos limitam e muito bem, porque o problema que enfrentamos é muito sério. Os concertos às 10h30 não são necessariamente originais, os nórdicos, que têm aquela luz de inverno, em que não se sabe se é dia ou de noite, fazem-no. Em Portugal, temos concertos muito tarde, em Espanha, por exemplo, há concertos mais cedo.
Como e quando é que surgiu a ideia de fazer o Guimarães Jazz com esta configuração?
Por incrível que pareça, foi muito cedo, ainda durante o verão. De forma muito intuitiva, em agosto, tivemos a noção do problema. Sabíamos que não podíamos defraudar as expetativas, mas também imaginamos que a situação nesta altura não estaria fácil. Avançamos para um formato que nos dava garantias. Convidamos músicos portugueses, juntamos estes músicos nacionais, de grande qualidade, com estrangeiros que vivem em Portugal – Andy Sheppard, Peter Evens, Julian Arguelles -, sem problemas de quarentenas e apresentamos um cartaz de qualidade.
O que é que espera do público, numa edição com tantas limitações?
Vai ser difícil para o público. É óbvio que para quem vem de longe será difícil, ou mesmo impossível, assistir aos concertos e regressar a casa a tempo de cumprir o recolher obrigatório. Mas temos recebido muito apoio, mesmo de gente da cultura, que não propiamente do jazz, mas que nos olha como uma frente de resistência. Estamos a lutar contra as limitações, sem colocar em causa a sua necessidade, mas procurando manter de pé o festival. Dando provas de que não desistimos, não defraudando esse público de muitos anos. Agora, claro que o público de fora da cidade, que constitui 60% do público habitual do festival, vai ter muitas dificuldades.
No próximo ano, o Guimarães Jazz celebra 30 anos. Já há alguma coisa prevista para esta data especial?
Sim, estamos sempre a trabalhar e a pensar. Há coisas que não se realizaram este ano, mas que já estavam conversadas com os artistas e que acontecerão, por certo, no próximo ano. Temos de conversar, no seio da equipa que organiza o festival, é preciso honrar esse número. São 30 anos a unir pessoas, num mundo em que há tantas coisas a separar a desunir, a arte, o jazz em particular está aqui a unir as pessoas.
Se viesse de fora e tivesse de eleger apenas um dos concertos do Guimarães Jazz para assistir, qual era o que não perdia?
Isso é difícil! Os músicos foram todos extraordinários, marcamos os concertos, reagendamos voltamos a alterar as datas, pedimos a alguns deles para tocarem às 10h30. Tiveram, todos, imensa paciência e tolerância, estaria a ser injusto se escolhesse um. Queria destacar que se trata de projetos construídos para esta ocasião e que muitos destes músicos nunca tinham tocado juntos, mesmo assim aceitaram o desafio. O caso de Pedro Melo Alves’ Ominae Large Ensemble, um projeto que reúne 24 músicos, da eletrónica, contemporânea, jazz e vozes. Uma extraordinária transversalidade de géneros musicais, num concerto todo escrito. O Julian Arguelles, muito conhecido pelo seu trabalho com Mário Laginha, vai tocar com seis músicos portugueses, dos quais só tinha tocado anteriormente com um. A ideia é por estes jovens músicos a tocar com estes talentos internacionais e dar a conhecer a dimensão do trabalho que já se faz em Portugal.
Hoje, há dezenas de músicos de jazz com qualidade para estarem em grandes projetos e isso também é responsabilidade do Guimarães Jazz
Sente que o Guimarães Jazz tem uma parte no crescimento do género em Portugal?
Faz este ano 25 anos que trabalho neste festival. Quando comecei, havia meia dúzia de músicos portugueses. Ao fim de poucas edições tínhamo-los corrido todos, a única forma era voltar a trazê-los em formações diferentes. Hoje, há dezenas de músicos de jazz com qualidade para estarem em grandes projetos e isso também é responsabilidade do Guimarães Jazz. Há músicos que passaram pelo festival enquanto jovens, a ver os outros no palco, e que agora regressam como músicos consagrados.
O público, nestes 29 anos, também terá evoluído. Quem começou com 30 tem agora 59. Como é que o festival integra isso?
É um património informal do Guimarães Jazz, essa passagem de gerações. Os pais que vinham e que agora trazem os filhos. É por isso que sentimos que há um compromisso com o público a que não podemos falhar.
Uma altura disse numa entrevista que o Guimarães Jazz tem uma identidade própria. Quer falar um pouco sobre essa identidade?
O tempo é uma coisa muito importante na vida. O sucesso é efémero, vem e vai muito rapidamente. O Guimarães Jazz tem uma espessura que lhe advém do que foi fazendo ao longo dos anos. É um festival que corre riscos, abre caminhos, num mundo em que as coisas estão sempre a mudar. Calmamente, foi construindo várias coisas dentro da coisa, agora é como uma cebola, tem várias camadas, vários sabores, diferentes cores, diversas texturas: os concertos no grande auditório, as jams, os workshops, a música na rua, os jovens músicos da ESMAE e as pessoas quem vêm à cidade para assistir.
A cidade tem um papel importante no sucesso do festival?
Sem a cidade não era possível. A escala de Guimarães ajuda muito, as pessoas vão jantar e depois caminham pela cidade até às jams, ou aos concertos. A quantidade de pessoas a quem ligo, por causa do festival, que nunca cá estiveram, mas conhecem por ouvir falar é surpreendente. Os músicos adoram esta cidade que tem um casco histórico habitado, vivo e isso acaba por também fazer parte do festival.
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