“SINTO O TEATRO COMO A MINHA CASA”

Entrevista a Carolina Amaral

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Expressa-se de uma forma clara, natural e cativante. Estando-se por perto, é impossível não ficar contagiado pela alegria e vivacidade que transmite em cada fala ou gesto. Carolina Amaral tem 24 anos e vive a arte intensamente. Tem no teatro o lugar de onde partiu e onde gosta de estar, onde se sente solta e sem constrangimentos. Vê o teatro como uma maneira de se ver com alguma distância.

O que representa para ti o teatro?

O teatro é como se fosse para mim, enquanto pessoa, atriz e criadora, uma possibilidade, uma plataforma (quase como um trampolim), para aceder a outras realidades que informam a realidade onde nós estamos, em que vivemos no nosso quotidiano, de forma a tornar mais significativa essa vida. A arte é criar uma espécie de nova virtualidade que tem ecos na vida de todos os dias mas que permite sermos humanos e não sermos seres que não pensam na vida. É como se fosse um espaço em que tu também te visses com outra distância, parece que partes de um objeto para te comtemplares a ti mesmo. O teatro é “o lugar de onde se vê”, vem do grego antigo. Eu acho que é isso mesmo, o lugar de onde se vê uma coisa maior e que por isso dá sentido à nossa existência.

Ouvimos muitos atores dizerem que é no teatro que se sentem melhor. Tu partilhas dessa opinião?

Eu sou atriz de teatro. Já fiz cinema, e quero continuar a fazer, sinto-me bem nesse formato. A televisão já não me atrai tanto, sobretudo porque não tem uma índole artística. O que me puxa é trabalhar com pessoas e em projetos que artisticamente me coloquem questões, que me coloquem em zonas mais perturbadoras, no sentido de levantar a excitação, de não ser mais do mesmo. E eu sinto isso no teatro.

A interação com o público, o estarem ali a receber um feedback em tempo real, dá um gosto especial?

Claro, isso é a coisa mais preciosa. Nós fazemos teatro porque há público, caso contrário não fazia sentido, a peça existe porque existe um público a validá-la. Lá está, o teatro é o sítio de onde se vê! Nós fazemos isto porque sabemos que vamos chegar a alguém, a alguém que vai receber o que estamos a dar. E poder sentir que o nosso objeto tem um eco nas pessoas, neste caso em tempo real mas que depois pode ficar ali a maturar… é por isso que eu o faço, é pelas pessoas, por eu acreditar que o teatro e a arte criam uma humanidade mais consciente de si mesma, capaz de mudar o mundo e de refletir sobre si mesma. E por isso ser capaz de criar soluções reais para que as coisas fiquem mais fluídas, para que o mundo seja um lugar mais próximo do que pode ser, numa ideia de pureza e felicidade.

Já passaste por todas as áreas da representação, para além do teatro, o cinema e a televisão. O que é que cada uma delas te trouxe de novo?

O teatro sempre foi o lugar de onde eu parti! Eu soube que queria criar, independentemente do universo, e soube que podia ter a possibilidade de estar num universo criativo em que tudo fosse possível, com aquilo que os outros despoletavam em mim e me faziam conhecer mais de mim mesma, através do teatro. Apesar de as outras áreas me instigarem. Eu sempre gostei muito de escrever, de fazer colagens, das artes visuais e da dança. Apesar disso, no universo da representação, foi no teatro que comecei e foi no teatro em que tudo o que era inimaginável era tornado possível. Sinto o teatro como a minha casa, sinto-me à solta, liberta, sem constrangimentos. É a sensação de uma casa que é sempre um desconhecido.

Stella Matutina: uma criação tua. Para além da representação, a arte de criar também te estimula?

Sim, muito mesmo. Tenho trabalhado sobretudo como atriz de teatro, no entanto sinto muito que sou atriz porque posso propor alguma coisa, sendo eu estimulada por um criador e por outros intérpretes. No entanto, eu sinto e sei que me sinto completamente realizada quando estou a criar coisas que passam no meu próprio universo em particular, e controlo no descontrolo o que faço. Funciona no deixar acontecer. O Stella Matutina surgiu de uma necessidade do momento, de fazer surgir uma figura feminina, de negro, a cada dia 13, entre Maio e Outubro. Tornou-se tão imperativo que eu tinha de deixar acontecer. Quero ter cada vez mais espaço para existir enquanto criadora e tornar isso o meu centro.

O que podem esperar de ti agora?

Em breve vou ter um novo projeto com o João Pedro Vaz, também para o Teatro Oficina, que estreia em junho. A seguir vou ter uma residência artística com a Sara Carinhas, também tenho já dois, três contatos para 2019 mas ainda não há datas. Entretanto vai estrear uma série que fiz com o Fernando Vendrel, “As Três Mulheres”, ainda este ano na RTP. Depois também tive uma participação numa série do Marco Martins, que se chama “Sara”, embora seja uma participação mais pequena. E estou também a ter o meu tempo enquanto criadora.

 

Texto: Joana Quintas

Imagens: Joaquim Lopes (JL Imagens)

Agradecimento: Quinta do Pinhô

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