TOMA LÁ DECO

por José da Rocha e Costa

Gestor de empresas

 

Começou no passado domingo mais uma edição do BOOM festival. Para os leitores que não se encontram familiarizados com a vasta panóplia de festivais de verão que todos os anos assolam o nosso país de Junho a Setembro, o BOOM festival é um festival que se realiza de 2 em 2 anos em Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco. Este festival distingue-se dos demais por uma série de razões: é um festival que dura uma semana, tem um alinhamento composto por algumas centenas de artistas (895 na última edição), maioritariamente ligados ao universo “trance” e, para além das actuações, oferece também uma série de workshops e actividades viradas para a sustentabilidade ambiental. De facto, a organização do festival tem tentado, de edição para edição, inovar com novas propostas de cariz ecológico como são o “welcome kit”, que é oferecido a todos os participantes e que contém um sabonete biodegradável, para evitar a poluição da água, dois sacos para separação de resíduos e um cinzeiro portátil; ou as casas de banho e chuveiros ecológicos que promovem a poupança de água.

Na senda da inovação, a organização do festival decidiu também disponibilizar, nesta edição, postos de “drug checking”, que permitem aos festivaleiros mais conscientes, testar a pureza de substâncias psicotrópicas. Na minha opinião, esta é uma iniciativa que deve ser louvada, não só porque evita que os amantes da natureza evitem o consumo de substâncias adulteradas, que representam um risco acrescido para a sua saúde quando comparadas com as drogas tradicionais, mas promove também o respeito pelo consumidor e o combate à contrafacção. Mais do que dizer “Não” às drogas, é preciso dizer “Não” às drogas de má qualidade.

Acredito inclusive, que este tipo de ferramenta poderia ser útil noutras áreas. Imagine o leitor que ao ir ao supermercado, por exemplo, tinha um instrumento que lhe possibilitasse aferir a pureza de um alimento ou o seu conteúdo em açúcares. Esta seria indubitavelmente uma forma de promover um maior interesse pelas questões relacionadas com a alimentação saudável aumentando, no processo, a transparência da indústria alimentar relativamente aos alimentos processados e ao seu conteúdo.

Quem não deve estar a gostar nada desta brincadeira é a DECO. Se a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor estivesse atenta, não teria deixado escapar um filão destes. Isto sim, é defesa do consumidor a sério. E ainda dizem que as drogas não trazem inspiração…

Quanto ao BOOM Festival, espero que nos continuem a trazer agradáveis surpresas, capazes de pasmar não só os ecologistas, mas também os empreendedores deste país. Para quando a certificação dos Dealers presentes no festival? Para quando a introdução de um cardápio oficial de estupefacientes provenientes de diferentes partes do Globo e com certificação do comércio justo? Enquanto estas e outras medidas não forem adoptadas pela organização do festival, nenhum festivaleiro/ecologista/consumidor se pode divertir como deve ser, não sem antes ter a certeza que as drogas que consome não prejudicaram ninguém além do próprio. Do próprio e dos putos que foram deixados no playground. Por falar nisso, eu já tinha mencionado que o BOOM Festival também tem um playground para os putos? Fica mesmo ao lado do posto de drug checking.

 

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