Vimaranense Reinaldo Bessa: Do sonho do futebol a agente do basquetebol mundial
Reinaldo Bessa é vimaranense, tem 25 anos de idade e uma carreira já bem consolidada no mundo do basquetebol internacional, como agente de jogadores. Como futebolista, chegou a defender a baliza do Vitória de Guimarães, na formação, mas cedo abraçou o sonho, noutra modalidade.

Foi através do clube do coração que enveredou pelo basquetebol, mas não como jogador até porque o objetivo não era esse. Hoje, é vice-presidente da TAAS – Teddy Archer Agency – e tem a ambição de potenciar vendas para a NBA. Reinaldo Bessa esteve à conversa com o Mais Guimarães.
Como é que começa esta aventura na tua vida?
Eu joguei futebol no Vitória e noutros clubes da região, até aos 18 anos. Cheguei também a jogar em Inglaterra até porque eu queria, naquela altura, seguir o sonho do futebol. No meu último ano de sub-19 voltei para Guimarães e joguei a minha última época no Vitória. Eu sei que sempre fui bom no futebol, mas sempre tive amor pelo basquetebol, via muitos jogos e jogava basquetebol nos intervalos da escola.
Se o teu amor era pelo basquetebol, porquê o futebol?
Os meus amigos jogavam futebol. Até aos cinco anos experimentei vários desportos, mas como eles andavam no futebol, fui também, é normal naquela fase da vida. Conseguir chegar ao Vitória foi uma realização para mim, até que decidi que era altura de tentar seguir o que eu gostava mesmo, que nem era jogar basquetebol, era ser olheiro da modalidade. Mas o que eu sabia era apenas do que via na televisão.
O meu pai conhecia o Paulo Cunha [ex-atleta e diretor da modalidade no Vitória] e conseguimos estabelecer um acordo que passava por ser eu a colar os cartazes dos jogos na cidade. Em troca, podia estar por dentro e aprender mais sobre a modalidade.
Só com aquilo, andava super feliz, depois passado meio ano, eles acabaram por ficar comigo para fazer o scouting dessa época. Não estava à espera que fosse tão rápido, mas eu aprendo rápido e tudo tem o seu tempo.
Entretanto, surgiu a pandemia e toda a gente no mundo ficou em igualdade de circunstâncias. Tínhamos os mesmos recursos, estávamos todos em casa, e foi aí que surgiu a minha oportunidade. Comecei a criar contactos na indústria, no estrangeiro, porque nessa altura toda a gente tinha disponibilidade para falar ao telefone, e consegui enviar um dos melhores jogadores da Europa para uma escola nos Estados Unidos. Tudo contactos que acabei por conseguir através das redes sociais.
Como conseguiste transformar em credível a tua intenção, através de redes sociais?
Lá está, não se conseguia. O jogador em causa era da Roménia, enviei mensagem aos treinadores que alinham nos Estados Unidos, se queriam pegar no miúdo, que era do topo da Europa, eles aceitaram e eu consegui lançar-me. Foi o primeiro contacto que fiz sozinho e o que me levou para a praça internacional de basquetebol. Já dois ou três agentes tinham tentado, ninguém conseguiu e chega um rapaz que ninguém conhece e consegue. Isso deu-me logo muitos pontos.
E conseguiste porquê?
Eu acho que foi pela persistência. Referi-me ao jogador como se fosse “a última bolacha do pacote”, mas de facto ele era bom. Já conhecia outras escolas e fui desenvolvendo contactos. Consegui mover um outro jogador do top 5 da Europa para os Estados Unidos e isso começou a dar-me espaço. Tudo isso abriu-me a porta para a Eurohoops, um serviço de scouting espanhol, de Barcelona.

© Reinaldo Bessa
E o Vitória acompanhou essa tua fase?
O Vitória, nesse percurso, esteve sempre lá e sempre soube o que eu estava a fazer. Depois, comecei a trabalhar na empresa espanhola, que trabalhava com universidades, equipas (…).
Este crescimento rápido assustou-te de alguma forma?
Não me assustou. Eu gosto de exigência e de pressão, pelo menos tenho trabalho todos os dias. Tudo cresceu tão rápido que não tive muito tempo para pensar sequer.
Como é que a tua família encarou o teu crescimento e sucesso?
A minha família ficou muito surpreendida, mas também cheia de orgulho. No início não perceberam muito bem, foi tudo muito rápido, tiveram de ter tempo para perceber o que estava a acontecer. A minha mãe não percebeu tão bem, mas o meu pai, estando envolvido no desporto, conseguiu encaixar rapidamente. No início estava fora dois ou três dias, agora já sou capaz de ficar duas semanas e eles vão entendendo.
“OS MEUS MENTORES SEMPRE FORAM INFLUENTES NO MUNDO DO BASQUETEBOL E ARRISCARAM AO ME ABRIREM AS PORTAS”
Para um percurso ser de sucesso, é importante termos a sorte de nos cruzarmos com as pessoas certas. Foi isso que aconteceu contigo?
Sim eu penso que tive sorte nisso, porque os meus mentores sempre foram influentes no mundo do basquetebol e arriscaram ao me abrirem as portas.
Muitas pessoas dizem-me que falo com toda a gente, que me envolvo muito. E eu respondo que, para mim, isso é importante porque um dia fizeram isso comigo. No início não era ninguém, chegava aos pavilhões, apresentava-me às pessoas com o meu nome que era tudo o que eu tinha. Perguntavam-me o que fazia e eu respondia que não fazia nada, mas que queria fazer, queria aprender.
Na Eurohoops tive sorte de encontrar mentores que passaram pela NBA, por equipas de alto relevo, que me acolheram e me ajudaram a crescer.
O Paulo Cunha, no Vitória, foi também uma pessoa importante no basquete nacional durante mais de 20 anos. Acolheu-me debaixo da asa dele, perdeu todo o tempo do mundo comigo para garantir que eu chegava onde queria. Também todos os treinadores que apanhei pelo caminho, o Carlos Festas, o Miguel Miranda numa última fase, o Miguel Matos, sempre me ajudaram sem me olharem com dúvida pela minha idade.
Hoje assumes o cargo de vice-presidente da TAAS – Teddy Archer Agency, uma promoção recente. Já digeriste?
Por estranho que pareça, encarei de uma forma natural, os primeiros dias foram de um entusiasmo muito grande, mas o trabalho continua porque não estou nem perto de atingir os objetivos que queria. Naturalmente que encarei com muito orgulho, tenho 25 anos e ter uma posição estas, numa empresa desta dimensão, é uma coisa que há uns anos era apenas um sonho, e o meu trabalho conseguiu fazer com que esse sonho fosse cumprido.
Encaro com orgulho, mas também com um sentido de responsabilidade muito grande porque o meu nome, se até agora já representava a empresa, agora muito mais. Estou focado em continuar a fazer a empresa crescer porque quero muito corresponder a este voto de confiança, se bem que é uma transição que eu já esperava.
Este cargo acarreta mudanças, no que toca a poder de decisão e isso traz muita responsabilidade porque não é algo que se faça de ânimo leve. Muda muita coisa, o estatuto e a maneira como as pessoas me veem, tenho de ter uma estratégia de recrutamento diferente, mas, no entanto, ao nível interno não muda muito porque foi uma transição feita da melhor maneira possível, fomos fazendo tudo na sombra. Muda o título, mas a vontade e os objetivos continuam os mesmos. Além de ser um dos mais novos de sempre a chegar a uma posição destas, provavelmente sendo um português a chegar a um nível mais elevado do agenciamento de basquetebol, sinto que estou longe de cumprir o que quero. É só um passo num longo caminho que defini para mim.
Qual o papel de um agente, na prática?
No meu caso, no início tinha de assistir a muitos jogos, passava dias a fazê-lo, a analisar o jogador, as estatísticas. Falo de jogadores dos 15 aos 24 anos.
Atualmente, como desenvolvi contactos, são os jogadores que chegam até mim. Recebo mensagens todos os dias de treinadores ou de olheiros que me indicam atletas e já consigo construir uma lista de observação de 10 ou 20 jogadores por mês, consoante as recomendações.
Depois, estudo o historial do jogador para garantir que tem percurso limpo e depois avanço para o contacto direto. Falo com o jogador ou com a família, traçamos objetivos, facultamos plano personalizado de trajetória de carreira, assinamos contrato e a partir daí é acompanhar o dia a dia do atleta, moldando a carreira dele. O trabalho do agente não é como a maioria das pessoas pensa, que é só negócio. É mais humanizado, a minha agência é assim e isso foi o que me fez trabalhar para o meu chefe, ele trabalha assim.
Encontramo-nos cerca de duas vezes por ano, a última vez foi na Finlândia no Campeonato da Europa de Sub-18, onde um dos nossos jogadores foi campeão. De resto é tudo à distância, falamos duas ou três vezes por dia.

© Helena Lopes/Mais Guimarães
Quais foram os momentos altos do teu percurso até aos dias de hoje?
Alguns dos auges foram, primeiro no scouting services. Quase todas as entrevistas que fiz na Eurohoops foram a jogadores que acabaram por chegar à NBA, ou seja, acho que consegui traçar um bom perfil dos jogadores que iam chegar lá. Entrar na agência e fazer algo que nunca ninguém fez em Portugal, ou seja, trabalhar com jogadores da Euroleague é algo muito grande. Quero chegar à NBA, a muitos mais sítios, mas entrar desta forma, com 22 anos junto das agências e estar logo no mercado europeu… não podia ter corrido melhor.
Conseguiste conciliar com sucesso o trabalho com os estudos?
A escola nunca foi um problema para mim. Entrei para a agência já matriculado no mestrado, mas nunca pensei desistir. O meu chefe, que é americano, também sempre foi muito compreensivo principalmente no primeiro ano, sempre me facilitou, desde que o meu trabalho ficasse feito. Tive de gerir o tempo e definir prioridades. Tirei licenciatura em Gestão de Desporto e Marketing no Mestrado, porque conjuga tudo para trabalhar numa agência.
“O NEEMIAS QUETA TER IDO PARA A NBA, MUDOU ALGUMAS MENTALIDADES, PORQUE AGORA A MENSAGEM DO “É POSSÍVEL” PASSA MAIS FACILMENTE”
Atualmente, a modalidade já está mais implementada ou ainda há um caminho longo a percorrer?
O facto de o Neemias Queta ter ido para a NBA mudou algumas mentalidades, porque agora a mensagem do “é possível” passa mais facilmente, é mais um incentivo para os miúdos praticarem o basquetebol pensando que o sonho não fica assim tão distante. Eu tento fazer o máximo para mudar o cenário português, além de não termos jogadores como o Neemias todos os anos, como tem Espanha ou Itália, temos de continuar a apostar. Já mandámos o Apolo Caetano para os EUA, que é o melhor base destas gerações mais velhas, um miúdo de 13 anos também foi para Itália para o Bassano, melhor academia do país, acho que, enquanto estamos em fase de desenvolvimento em Portugal, é continuar a mandar os miúdos para o estrangeiro para continuarem a crescer e a desenvolver porque isso, depois vai, eventualmente, desenvolver as seleções nacionais e o basquetebol.
Passas muito do teu tempo no estrangeiro?
Ultimamente sim. Começou gradualmente, quando entrei na agência não viajava tanto, agora faço duas ou três viagens por mês, tiro um dia para mim em turismo.
Férias a sério passo em casa. Tento evitar ir para sítios onde não haja basquetebol, parece que não estou ali a fazer nada, estou a perder tempo.
O futebol cabe ainda na tua lista de paixões?
Começou a desaparecer aos poucos. Futebol agora é o Vitória. Continua a ser o meu clube do coração e quando estou aqui vou ver todos os jogos, sem desculpa, esteja a chover ou a nevar.
Onde queres chegar?
Quero ser o primeiro a levar um jogador à NBA, o que nunca aconteceu com agentes portugueses, e quero escalar na agência o máximo que der.
Como se controla a ilusão quando conseguimos atingir altos patamares na vida?
Eu sempre achei que as pessoas que se expõem muito, acabam por ir pelo caminho errado. Na minha profissão não é suposto eu me expor, é suposto expor jogadores. Sempre gostei de estar por trás da cortina a fazer acontecer, nunca gostei de destaque, o trabalho acaba por falar por si.
“SOU MENOS OTIMISTA AGORA. ANTES CRIAVA MUITA EXPETATIVA E ACREDITAVA SEMPRE DEMAIS EM TODA A GENTE”
O que difere o Reinaldo de 25 anos do Reinaldo de 18?
Sou menos otimista agora. Antes criava muita expetativa e acreditava sempre demais em toda a gente, mesmo nos jogadores. Eles podiam ter mau caráter e eu acreditava que podia mudar isso e percebi que, por vezes, isso não é possível. Hoje consigo perceber quem quer e quem não quer ser ajudado.
Financeiramente, estás onde querias estar?
Financeiramente é bastante bom, lidamos com jogadores de topo que recebem salários altos de seis, sete dígitos, recebemos 10% dos profissionais, 15% do basquetebol universitário, que também anda pelos seis, sete dígitos. Mas o dinheiro é algo que vai e vem, nunca sonhei muito alto, tenho os pés bem assentes na terra. Tenho ambições pessoais. Sou virado para a ajuda ao próximo e, se um dia alcançar o suficiente para mim, a minha maior ambição é criar uma fundação para ajudar pessoas a terem as oportunidades que eu tive. A estudar, a terem os bens essenciais.
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