VÍTOR OLIVEIRA: “APAIXONA-ME A GENEROSIDADE DOS VIMARANENSES”

Recorde a entrevista a Vítor Oliveira.

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Considera-se um homem da comunicação e acredita que a proximidade para com as pessoas é um fator fundamental. Com dois filhos, admite que a falta de tempo por vezes é complicada. Ver a filha Maria, nos braços do Papa Francisco foi um momento marcante.

Como definiria o Vítor Oliveira?

Sou um homem da comunicação e hei-de ser sempre um homem da comunicação, independentemente do cargo que ocupe na minha vida profissional. Lembro-me de que, com seis anos, eu fazia jornais improvisados em casa, que vendia aos meus vizinhos a dois e quinhentos. Fazia recortes de revistas, encadernava em folhas A4 e tentava ter exemplares sempre diferentes. Esta veia jornalística faz parte do ADN e quando temos uma componente assim dentro de nós, acaba por ser algo que nos vai acompanhar sempre. O meu trajeto acabou por levar-me a seguir a causa pública. O meu pai foi presidente de junta e foi inevitável não ficar contagiado com a missão de servir os outros. O meu pai atendia as pessoas em qualquer espaço público e esse sentido de missão contagiou-me.

Como é que surgiu, tão novo, esse interesse pela área da comunicação?

Foi sendo natural. Eu com 16, 17 anos comecei a fazer crónicas de desporto e depois veio a licenciatura em comunicação. Eu adquiri o estatuto de trabalhador-estudante com o objetivo de estar a trabalhar e a estudar para, no final dos estudos, ter logo emprego. Era quase que um estágio enquanto estudava. Mas sempre tive isso em mente porque sabia que o mercado era difícil.

Mais foi fácil conciliar? Acabou por ser uma mais-valia?

Sim e eu hoje voltava a fazer igual. Eu estudava no Porto, ia e vinha todos os dias, e nesse período da viagem aproveitava e estudava. Como tinha memória visual muito boa, muitas vezes preparava os testes durante a viagem. Houve uma altura em que tive uma cadeira de Jornalismo Regional em que fiz um trabalho e o professor acabou por me distinguir com a nota máxima. Ou seja, quando gostamos e fazemos as coisas por prazer, é mais fácil. Não é obstáculo estar a trabalhar quando o fazemos por paixão. Aos meus 21 anos surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o Cybercentro. Antes, estive seis anos na comunicação social. O Cybercentro, em Couros, foi o primeiro equipamento que começou a regenerar aquela zona, que há 15 anos não tinha esta dinâmica, era uma zona pouco conhecida. Estive lá 11 anos a trabalhar, já em contacto com o público. Uma das minhas caraterísticas tem a ver com a proximidade. Tem de haver proximidade e contacto com as pessoas porque é no terreno que se vêem as coisas. Temos de passar pelo processo de aprendizagem, conviver com as coisas.

Esta é uma área absorvente em termos de tempo. Isso foi uma preocupação?

Eu conheci a minha esposa na comunicação social e ela estava, desde sempre, habituada a isso e isso ajudou a que ela compreenda e esteja ao meu lado no sentido de colaborar com as diferentes tarefas a que sou chamado. O facto de ela também estar, na altura, ligada a esse mundo facilitou e ajudava-a a perceber as ausências. E depois ela é uma pessoa que interpreta bem o meu espírito de missão. Nós temos a família nuclear, mas temos muito mais amigos, muitas pessoas que são conhecidas. E isso faz com que haja a missão de arranjar solução para os problemas que surgem. Ouvir as pessoas é o melhor que se pode fazer.

De que forma o nascimento dos filhos o mudou?

Os meus filhos são um pouco penalizados. Muitas vezes o Santiago quer que o acompanhe aos jogos, do Vitória, e não é possível. Muitas vezes eles não têm o pai perto quando era desejável. Por isso é que quando tenho momentos com eles aproveito ao máximo. O facto de os levar todos os dias à escola é bom para mim, porque é um momento que é só nosso. Depois há uma coisa de que não abdico mesmo, que é saber quando são os testes dele e estudar com ele e é engraçado porque sei que isso o marca. Os meus dois meninos são o Santiago, que tem dez anos, e a Maria, com três. Eu procurei dar-lhes nomes que estivessem associados a Guimarães: Santiago por causa da praça, sendo que o apelido dele é Oliveira. A Maria acaba por ter o mesmo significado, sendo que a rua Santa Maria é irmã da Praça S. Tiago, faz esquina. Daí essa atribuição dos nomes.

O que distingue o Vítor adolescente do Vítor pai?

Eu fui criado numa família de valores tradicionais, vivi na Costa durante 22 anos. Se hoje pudesse voltar atrás, voltava a viver lá. É um local que conjuga o meio urbano com o rural, e isso faz com que adquiramos valores no sentido de sermos melhores pessoas, desde logo com o cuidado pela natureza, o ser solidário. Eu fui do tempo em que ia à vizinha buscar um pé de salsa. Os 40 anos que tenho são resultado de um conjunto de fatores, do jogar à bola na estrada… e isso faz com que depois, quando se é pai ou mãe, tentemos melhorar a educação que nos foi dada. Os pais querem sempre aperfeiçoar o que tiveram e isso é uma missão. Eu estava a viver na cidade e agora estamos numa freguesia onde se conjuga o urbano com o rural. Estamos a cinco minutos da cidade e eles acabam por ter esse contacto com a terra. Não passam tanto tempo nos tablets e a ver televisão, têm a vertente do brincar lá fora. Um dos meus objetivos é ir com o Santiago aos grilos, que era uma coisa que a mim me marcava. É uma memória de infância que nos acompanha.

Teve uma experiência muito forte com a sua filha no Vaticano. Como é que tudo aconteceu?

É uma história muito engraçada. Nos contactos que fazemos com os presidentes de junta falamos de tudo e mais alguma coisa, não só de política. Numa conversa, foi-me dito que o padre Manuel, da paróquia de Azurém, ia comemorar 50 anos de sacerdócio em Roma, isto em 2015 e eu disse que acompanhava. Soube isto em março, e fomos em outubro. No dia antes da viagem, eu estava a adiantar textos para que, quando estivesse em Itália, não fosse necessário estar sempre no computador e acabei por me deitar às 02h30 da manhã e nós tínhamos de sair em viagem às 04h45. Como eu sabia que a minha esposa amamentava às 03h30, confiei e deixei-me dormir. Acontece que a Maria, que tinha três meses, acordou mais cedo e a minha esposa amamentou mais cedo e acabamos os dois por adormecer. E é o Castro Antunes, presidente da junta de Azurém mas que não ia na viagem por motivos familiares, que me liga às cinco menos um quarto a perguntar se já estou no autocarro. E nós estávamos a dormir. As pessoas à nossa espera e eu achei que não íamos chegar a tempo, mas às 05h05 estávamos lá e acabamos por ir. Se não fosse aquela chamada, não tínhamos ido. Já em Roma, fomos à audiência geral, que é sempre à quarta-feira, com mais de 60 mil pessoas, e eu perguntei a um segurança onde é que o Papa Francisco poderia passar, ao que ele me disse que não podia responder. Então nós vimos um aglomerado de pessoas num sítio e fomos para o lado oposto e foi a nossa sorte. Como nunca há um sítio certo de saída, por questões de segurança, o Papa passou mesmo à nossa frente e quando está a passar e vê a Maria, que era a única bebé ali, parou o Papa Mobile e o segurança pediu a menina, que foi para o colo do Papa. Foi um momento muito forte, muito intenso. Não estávamos a contar, eu nem uma fotografia consegui tirar. Mas numa fração de segundos, toda a gente tinha tirado e enviou. Depois de a Maria ter sido beijada pelo Papa, toda a gente queria pegar nela. Foi um momento muito central e até houve um vídeo que um norte americano fez e me enviou. Na altura, não tivemos a perceção da importância do momento. Naquela noite, antes desse momento, a Maria acordou para amamentar a rir, e não a chorar, como sempre. Podem ser coincidências, mas são momentos curiosos.

Guimarães e o desporto têm uma relação muito forte. Como é a sua relação com o desporto e como define essa relação dos vimaranenses com o desporto?

Nós, aqui em Guimarães, numa conversa, falamos sempre do Vitória. Uma conversa passa sempre por aí e isso faz parte dos assuntos de muitos vimaranenses. O Vitória acaba por ser o elemento que une os vimaranenses e que está incutido nos mais novos. Eu ia com o meu pai ver os jogos e, quando o meu pai não ia, eu ia sozinho, ficava junto à porta e pedia às pessoas para entrar com elas. O meu pai quando era novo faltava às aulas para ir ver os jogos. Isso faz com que se ganhe uma paixão muito forte pelo clube, porque o Vitória não tem assim tantos troféus. A tendência que se tem, sobretudo as crianças, é ser do clube que ganha mais vezes. Aqui em Guimarães não. Somos do Vitória porque gostamos do Vitória e aconteça o que acontecer seremos sempre do Vitória. O Santiago já tem esta caraterística e eu nunca lhe disse para ele gostar do clube. Mas claro, ele acompanha-me a ir ver os jogos e é natural que a paixão comece a nascer.

Chegou a concorrer à presidência de uma junta. É algo que ambiciona?

O pilar de um concelho são as juntas de freguesia. É a política que maior proximidade tem e que mais exige a quem nela trabalha. Fui candidato à junta da cidade e perdi por 16 votos, num universo de 4 mil habitantes. Mas nós apresentamos um programa eleitoral muito interessante, muito ambicioso, sempre com atividade ao longo de todos os meses. Foi uma boa equipa, com pessoas de todas as ruas da freguesia. A junta é uma escola para muitos políticos porque é onde se percebe o que as pessoas precisam, o que faz falta.

As pessoas reconhecem o Vítor como sendo alguém que está praticamente 24 horas ao serviço do presidente da Câmara?

As pessoas abordam-me, colocam questões, e eu nunca digo que não. Se as pessoas vêm ter connosco, têm de ser ouvidas. Só se não for mesmo, de todo possível. Há sempre alguém que tem algo para dizer e a solução muitas vezes está em quem pensa de forma diferente, fora da caixa.

O que é que o apaixona em Guimarães?

A generosidade dos vimaranenses, a paixão com que se entregam às causas. Entre nós, dizemos mal de Guimarães, mas lá fora, se ouvirmos alguém dizer mal, defendemos com unhas e dentes. Até podemos achar que não está tudo bem, mas se alguém de fora disser mal, os vimaranenses defendem a sua cidade. E é este sentimento de partilha e generosidade que nos acompanha, no sentido de deixarmos para as novas gerações algo melhor do que encontrámos.

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