Esverdeado
Por Ana Amélia Guimarães.
por Ana Amélia Guimarães Professora
Corria o ano de 2008, na Assembleia Municipal discutia-se o relatório de atividades da Câmara Municipal dos meses de julho, agosto e setembro, desse mesmo ano. Transcrevo uma parte do que ali disse: «(…) Assim sendo, apontemos algumas situações que nos merecem atenção. A primeira é que, enquanto no plano urbanístico e ambiental a autarquia acena, por exemplo, com as hortas pedagógicas, mais acima assistimos à construção de infraestruturas do loteamento da Quinta do Outeiro, com deficiente sinalização, com movimento de terras e o derrube de árvores, que suscitam protestos e surpresa aos frequentadores do Parque da Cidade por verem obstruído o já adquirido e tradicional percurso pedonal que, vem-se a saber, tinha uma extensão que afinal não tem. Há, neste caso, deficiente planeamento, sofrível informação e algum atabalhoamento na forma como ma obra se inicia. Um mau exemplo que a “experiência e saber” da autarquia deviam ter evitado.».
Mais recentemente isto: «Em causa estão pelo menos 20 árvores, algumas com várias décadas, que foram abatidas esta semana. A revolta iniciada nas redes sociais motivou um coro de críticas contra a Câmara e contra a Junta de Freguesia.
Anteontem, em comunicado, a CDU de Guimarães exigiu uma explicação. Na resposta, também em comunicado, a Câmara explicou que algumas árvores apresentavam “sinais de patologias graves”, com “crescimento amorfo” e “mau estado sanitário(…)”. Quando o projeto foi colocado em discussão pública, na vila, em 2016, o abate de árvores não foi referido nem discutido, tendo sido prometida “sensibilidade ecológica”.».
in JN, 25 março 2021
Vem este introito a propósito da polémica instalada com o inusitado corte de árvores na Rua Almirante Gago Coutinho, zona norte da Escola EB2,3 João de Meira, que provocou a indignação de moradores e ambientalistas. A associação ecologista AVE chegou mesmo a endereçar um pedido de esclarecimento à autarquia cujas justificações são, no dizer do presidente da associação, facilmente desmentíveis, pois «uma breve pesquisa na internet permite verificar que as espécies em causa têm entre 100 e 150 anos», ao contrário do que assegura a Câmara ao afirmar que estas teriam cerca de 50 anos e com pouca capacidade de «resiliência» e «defesa». Face ao imbróglio, e sem que fossem apresentados «motivos válidos» para o abate de tão provectas e resilientes árvores, pede-se agora e com urgência, o parecer «assinado por um biólogo ou por um engenheiro florestal, com a identificação fotográfica das árvores, o seu diagnóstico e a proposta de soluções».
De 2008 a 2021, na autarquia, só a aparência mudou.
Há uma vontade comum, assumida em Assembleia Municipal, a propósito do objetivo capital verde. Esse objetivo, apesar de comum, tem servido para tudo, como pin de campanha ou para anúncios enternecedores de mais uma ação de plantação de árvores.
Não ponho em causa trabalhos em decurso e/ou esforços desenvolvidos em torno da «questão verde» pela Câmara. No entanto, nenhum projeto de município «verde» pode vingar se não for compreendido e aceite por todos. Neste projeto, como em tudo, é preciso que a «comunicação» seja clara, transparente e que os munícipes sejam informados de forma honesta e atempadamente e não apanhados desprevenidos e depois do mal estar feito.
Assim, muito mal vai a Câmara que devia ser exemplo, não dando, como neste caso, sinais contraditórios aos seus munícipes. Falha de comunicação? Ou simples rotina de quem acha que não deve explicações a ninguém…porque ganhou as eleições. O último argumento para quem perde uma discussão.
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