PORREIRO, PÁ!
Por Ana Amélia Guimarães.
por Ana Amélia Guimarães Professora
1.É a Guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come, e consome, tanto menos se farta… Recordo estas palavras do Padre António Vieira enquanto na televisão um jornalista excitadíssimo anuncia a hora do início de uma guerra na Europa: assista em direto.
A aceitação que se ouve, do recurso à guerra como «continuação da diplomacia», é no mínimo perturbante. Fala-se da guerra com a naturalidade com que se joga um jogo de consola, monta-se toda uma parafernália de espetáculo televisivo, constroem-se inimigos, diabolizam-se povos, soam os tambores da propaganda.
Cooperação e Paz são palavras que provocam surpresa, até mesmo escândalo. Quem não quer o «monstro que nunca se farta» é acusado de estar de um certo lado, do lado errado, é apontado como apoiante de tiranos…quase um traidor.
A História não acabou, é o que vemos e não podemos ignorar.
2. De acordo com Avaliação Ambiental Estratégica foram definidas seis zonas em que “há condições para avançar” com a prospeção de lítio em Portugal. Uma dessas áreas é a de «Seixoso Vieiros» que inclui uma pequena parcela da freguesia de Serzedo, na confluência de Guimarães com o concelho de Felgueiras.
Com toda a naturalidade, como se estivesse a falar de bugalhos, o senhor presidente Domingos Bragança diz que “O que se sabe é que será uma pequena parcela de um terreno, num monte, na freguesia de Serzedo(…)”.
Se não sabe, o senhor presidente devia, por obrigação do cargo e do projecto político que defende para a cidade e o concelho (a tal capital verde), ter conhecimento da área de 4,5 km2 que é indicada com o documento de Avaliação Ambiental Estratégica.
Devia a câmara saber e ter informado, debatido e tomado posição. Porquê? Porque está documentado, e porque todos os presidentes de câmara foram, em setembro de 2021, notificados do assunto, pelo governo, para darem a sua opinião. Não o fez.
A tal “pequena parcela de um terreno” em Serzedo, de que fala o senhor Presidente, corresponde, aproximadamente, a 630 campos de futebol… Para o Partido Socialista uma “pequena parcela de um terreno” para extração de lítio, cujos impactos ambientais e sociais são imensos (poluição e esgotamento da água, uso de produtos químicos cujo derramamentos ou emissão de ar podem prejudicar comunidades inteiras, rupturas nos ecossistemas, perda de biodiversidade e produção de alimentos, etc.) é coisa que se pode ignorar, porreiro pá.
A defesa do desenvolvimento económico, do interesse público, do ambiente e dos interesses das populações só pode ser salvaguardado com um processo conduzido exclusivamente na esfera pública, com envolvimento de juntas de freguesia, câmaras municipais e populações. Esta não é a prática da autarquia, Guimarães precisa de melhor.
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