Isabel Estrada Carvalhais
Por Rui Dias.
Nome completo:
Isabel Maria Estrada Carvalhais
Data de nascimento:
28 de fevereiro 1973
Naturalidade:
N’gage /Angola
Profissão:
Professora Associada
EurodeputadaSe esta rubrica tivesse um título, esta semana seria, “A filha do guarda-noturno”. Porque é a história de vida da filha do guarda-noturno da Universidade do Minho, que hoje é professora associada da mesma universidade e eurodeputada, que aqui vou tentar contar. Tomaria a liberdade de escolher este título porque me parece que ele não iria causar constrangimentos na pessoa retratada, orgulhosa das suas origens humildes.
A pequena Isabel chegou a Vila Verde, com dois anos e meio, pela mão dos pais que regressaram de Angola, em 1975, na sequência da independência daquela ex-colónia. “Recordo que os meus pais nunca foram pessoas saudosistas. Nunca foram negativistas, era preciso olhar em frente. Foi isso que eles fizeram quando aqui chegaram com quase 40 anos”, recorda.
Ao longo da entrevista irá voltar a falar dos pais várias vezes, sempre com muito amor (foi a palavra que usou) e com muita admiração. Os primeiros anos em Portugal foram de grandes provações para a família. “Vivíamos numa pensão durante os primeiros anos, eu vestia roupa da Cruz Vermelha ou da Caritas, nunca tive uma bicicleta, mas senti da parte dos meus pais, sempre, um amor incondicional”.
Pobre, a vestir roupa usada, gordinha, a integração na escola nunca foi fácil. Hoje chamamos-lhe “bullying” e procuramos enfrentar o problema, naquela altura cada criança tinha de encontrar a sua forma de resistir. Isabel adorava a escola, “foi uma descoberta maravilhosa, quando comecei a juntar as primeiras letras e a formar palavras”. Era boa aluna, mas preferiu sempre as letras aos números. “Porque as letras me permitiam sonhar e eu precisava de sonhar”. A mãe um dia chegou a casa com um saco de livros, a melhor surpresa que lhe podia ter feito. Tinha feito uma descoberta que seria, dai em diante, o alimento dos sonhos da Isabel, a Biblioteca Itinerante da Calouste Gulbenkian.
Dos anos duros pelos quais a família passou, ficou-lhe um sentido para o que é fundamental para a dignidade do ser humano. “Tenho muito cuidado a avaliar o percurso de vida das pessoas, temos que saber o que está por trás antes de julgar”.
Sonhadora, passou a infância e a adolescência a imaginar que as coisas podiam ser melhores, “e que para serem melhores eu tinha que trabalhar”. Era isso que o pai lhe dizia. Em casa falava-se pouco de política, não havia livros, mas havia uma memória marcante que lhe foi impressa pela mãe. O avô esteve preso, durante o Estado Novo, por atividades subversivas, entenda-se contrabando para matar a fome à família. Esses anos de prisão e a marca que depois carregava e que o impedia de arranjar emprego, fizeram com que a família passasse sempre muitas dificuldades. Estas recordações fizeram da mãe uma pessoa de esquerda. “Aquilo passou para mim. A memória deste avô passou para mim através da minha mãe. A ela devo a minha costela de esquerda”.
Na entrada para a universidade só havia uma condição, tinha de ser na Universidade do Minho, porque não havia dinheiro para ir para fora. Relações Internacionais foi o curso eleito pela paixão pelas línguas, embora não tivesse vontade de ser professora. Na verdade, o curso foi uma descoberta e correu bem. A escolha do mestrado em Socilogia, em Coimbra, já foi “com mais consciência cívica”. Escolheu fazer o doutoramento no Reino Unido para ganhar mundo.
Pelo caminho conheceu o marido e casaram passados seis meses.Um caso de sucesso já com 25 anos. Têm um filho com 13 anos.
Mantém-se simples, como se continuasse a ser apenas a filha do guarda noturno, apesar do cargo que ocupa e que não vê como uma profissão, antes como uma missão.
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