A EVASÃO DO PRESENTE REVISITANDO FRAGMENTOS DE ALGUM PASSADO

MARCELA MAIA Técnica de relações internacionais na Universidade do Minho

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por MARCELA MAIA

Técnica de relações internacionais na Universidade do Minho

O termo escapadela nunca esteve tão em voga como nos dias frenéticos de hoje. É fácil encontrar alguém que queira escapar da rotina e dos compromissos da vida diária, quer seja através de um retiro num qualquer lugar verdejante ou usufruindo de tratamentos de relaxamento que aliviam o corpo e a alma,  no entanto, mais raras são as vezes em que encontramos alguém que opte por visitar um museu como forma de evasão.

Para mim os museus, talvez pela ausência do barulho que serve de banda sonora aos nossos dias, sempre representaram o escape perfeito de um presente por vezes incerto, por me transportarem a algum momento passado e me fazerem imaginar um futuro que posso vir a criar. A ida a um museu é algo semelhante a permitir aos nossos sentidos uma viagem numa montanha russa, quer tenhamos interesse pelo que vamos ver, quer não saibamos nem nos interessemos pelo que lá está. Uma experiência museológica funciona como uma maneira de criar memórias e demarca o poder que os objetos podem ter – o poder de acordar emoções profundas.

Nós por cá em Guimarães somos, enquanto cidade, detentores de um vasto legado histórico e de muito bons exemplares museológicos que têm vindo a modernizar-se sem nunca perderem a sua identidade. Sobre o Museu de Alberto Sampaio, por exemplo, José Saramago declarava, no seu livro Viagem a Portugal: «… que este é um dos mais belos museus que conhece. Outros terão riqueza maior, espécies mais famosas, ornamentos de linhagem superior: o Museu de Alberto Sampaio tem um equilíbrio perfeito entre o que guarda e o envolvimento espacial e arquitectónico.» É precisamente a existência deste equilíbrio de que José Saramago falava, que marca a diferença entre uma experiência que nos enriqueça enquanto seres cientes e uma visita a um local inóspito com uma série de artefactos aleatoriamente dispostos. É suposto sentir-se que os museus são os lares dos objetos que lá habitam da mesma forma que deverá ser suposto os objetos sentirem-se em casa aquando da sua estadia nos museus.

Para que possamos desfrutar da melhor experiência possível, há todo um corpo de trabalho multidisciplinar que tem várias tarefas complicadas a ver cumpridas. Não devemos por isso esquecer a relação que se estabelece indireta mas quase simbioticamente entre visitante e curador – o primeiro pretende construir significado a partir do que vê tendo em conta o seu historial, o segundo propõe-se influenciar a interpretação do visitante construindo formas de conhecimento através de objetos, histórias e narrativas.

Atualmente, os museus são entidades que se encontram em transformação tendo deixado no passado, que tantas vezes apresentam e representam, o estigma de serem repositórios ou depositários de objetos ou artefactos que se encontram armazenados para a posteridade. Hoje em dia, é esperado dos museus que estes criem um elo com o público e que de certo modo compitam com a indústria do entretenimento pelo capital dos turistas e pelo cada vez mais escasso e valioso, tempo de lazer dos cidadãos. Uma forma de evasão do presente, revisitando fragmentos de algum passado…

 

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