A IMPORTÂNCIA DAS EUROPEIAS

Por José João Torrinha

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Por José João TorrinhaPor alturas da minha adolescência, realizaram-se no nosso país as primeiras eleições para o parlamento europeu. O efeito novidade era evidente. Eleições estranhas aquelas que nunca tínhamos presenciado em Portugal e onde se elegiam deputados para um parlamento longínquo e naquela altura ainda desconhecido de boa parte dos portugueses.

Eu e alguns amigos resolvemos, num arroubo de espírito democrático e de participação cívica, ir assistir a todos os comícios que os partidos realizassem em Guimarães. Note-se que nenhum de nós tinha sequer idade para ir votar, mas ainda assim queríamos ouvir, queríamos participar de alguma forma.

O primeiro comício era o do PS, pelo que lá estivemos, no Largo da Oliveira, para ouvir João Cravinho, o cabeça de lista. O evento acabou por ter um toque meio surreal, pois Cravinho estava afónico, o que fez com que o seu discurso acabasse por ser lido por outrem, com ele imóvel e sorridente no palanque.

Ainda fomos ao comício da CDU, mas acabamos por não ir a mais nenhum, não sei se por sermos todos mais ou menos “de esquerda”, se porque se esgotou depressa o nosso entusiasmo.

Desde essa altura, as eleições europeias deixaram naturalmente de ser novidade e passaram ao invés a ser o parente pobre dos atos eleitorais. A distância das instituições europeias para com os eleitores fazia-se sentir, pelo que as europeias perdiam fácil para o conformismo, para o desinteresse, para um bom dia de praia, enfim, para quase tudo que não fosse mostrar um cartão amarelo ao governo que estivesse em funções.

E se é sempre de lamentar que os eleitores se desinteressem duma qualquer eleição, hoje em dia, 2019, esse alheamento que não é só português, mas também europeu, pode tonar-se um desastre.

Apesar de todos os problemas que tem tido, o projeto de construção europeia é daquelas coisas que deveria orgulhar a humanidade. Já não há muitas pessoas vivas que nos possam contar o que era viver numa Europa em guerra. E no entanto esse foi o estado natural do nosso continente por séculos e séculos. O projeto europeu permitiu que alguém com a minha idade pudesse viver toda a sua vida sem sequer pensar em viver numa Europa em tumulto e de armas na mão. Para além disso, implementou-se o modelo social europeu, quiçá a mais relevante conquista social da história da humanidade.

Os pais do projeto europeu sonharam e construíram algo que nos dias de hoje parece infelizmente démodé, assente na ideia simples de que se todos abdicarmos de um pouco de algo, podemos estar a construir outra coisa que seja efetivamente melhor para todos.

Por isso, estas eleições serão porventura as mais importantes da história da Europa. E isto é assim porque paira sobre elas o espectro do fortalecimento de forças politicas que ue paira sobre elas o espectro do fortalecimento de forças polilm, para quase tudo que níticas que representam tudo aquilo contra o qual o projeto europeu foi sonhado e construído.

Bem sei que o papel que cada um de nós pensa que pode ter na luta contra esse tipo de fenómenos é muito limitado. Mas o que teria sido da humanidade se todos em todas as alturas, pensassem assim? Se perdermos a nossa capacidade de sonhar, de nos envolvermos de nos empenharmos, o que resta?

Por isso, vale a pena voltar àqueles adolescentes de que falei no início deste texto e afirmar que, apesar da sua inocência e talvez ingenuidade, o certo é que aquele tipo de empenhamento faz muita falta trinta anos depois.

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