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A música que pulsa em Pevidém

Conheça as histórias da Sociadade Musical de Pevidém e da Academia de Música Comendador Albano Coelho Lima.

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São indissociáveis as histórias da Sociedade Musical de Pevidém e da Academia de Música Comendador Albano Abreu Coelho Lima. No fundo, nasceram no seio da vila de Pevidém com o mesmo objetivo, com caminhos que se cruzam e, sobretudo, com muita vontade de honrar as tradições musicais da vila, que já remontam a 1984, data oficial de fundação da Sociedade Musical, por Manuel Martins Coelho Lima.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

“O objetivo é ensinar música, mas, mais do que isso, é ensinar pessoas com sentido crítico para as artes”, explicou à Mais Guimarães André Fernandes, vice-presidente da Academia de Música. Trata-se de nos consciencializarmos para o facto de que “a música é uma componente essencial do ser humano”, sendo necessário, por vezes, uma ajuda para despertar essas sensibilidades.

Vasco Faria, maestro da Sociedade Musical de Pevidém e diretor pedagógico da Academia Musical, contou-nos que o seu percurso na música começou pelos oito ou nove anos. Integrou a banda de música, mas foi em 2007 que abraçou um convite com mais peso para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Na altura, a própria banda de música funcionava como escola para os jovens aprendizes que a quisessem integrar. A grande adesão e vontade de fazer mais fez com que rapidamente concluíssem que era preciso alargar horizontes. Sonhavam com um professor por instrumento e outro para classes conjuntas. Mais tarde, quiseram alargar o ensino a mais instrumentos que não estivessem necessariamente presentes na banda, tais como a guitarra ou bateria.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

Com a junção de forças entre a Câmara Municipal de Guimarães, a direção da associação e a junta de freguesia, em 2016, cumpriram o sonho de inaugurar a Academia de Música Comendador Albano Abreu Coelho Lima, honrando a memória da família fundadora.

“Pevidém tem o privilégio de ser uma terra de tradições musicais. Ao longo destes 15 anos, tenho sentido uma envolvência muito grande, uma participação muito ativa e um gosto enorme para aprendizagem da música”, disse à Mais Guimarães, acrescentando que também as suas raízes são de pessoas apaixonadas pela música.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

A nova sede permitiu não só incluir aulas de novos instrumentos, como sobretudo alavancar uma “forte dinâmica formativa, artística e pedagógica muito melhor, mais alargada e específica, com aulas individuais”.

Os seus longos anos de carreira dizem-lhe que a música “tem de se aprender para fazer” e que “um aluno nunca pode ficar eternamente na aprendizagem”.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

A integração dos jovens nas restantes associações continua a ser um dos grandes objetivos. Além da renovação dos quadros, garante-se a transmissão da história de uma das vilas com mais tradição musical de sempre.

Não faltam exemplos de músicos bem sucedidos cuja formação se iniciou na antiga escola da banda ou já na Academia. Vários seguiram esse caminho profissional nas universidades nacionais, mas muitos outros estão espalhados pelo mundo.

Paraguai, Inglaterra, Alemanha, Suíça, França, Bélgica e Holanda são apenas alguns dos exemplos. No verão, reúnem-se em Pevidém para matar saudades das suas origens. A sede da banda vira um ponto de encontro. Talvez ainda sobre tempo para os acompanhar numa romaria…

“É integrar uma coisa que é muito maior que nós”

Para André Fernandes, “a música tem um papel vital naquilo que é a formação de uma pessoa, um ser humano adulto, crítico e pensante”.

Admitindo que não alcançaria o sucesso profissional que tem hoje sem a música na sua vida, explica que aprender um instrumento “dá disciplina, método e ajuda no sucesso escolar”. No fundo, a música exige aquilo a que a escola convencional não nos habitua: ao empenho e estudo individual. E são precisamente estes os ingredientes para a aprendizagem de qualquer instrumento.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

Enquanto dirigente, reconhece que “Pevidém é uma das vilas que tem mais movimento associativo do concelho”. Mas nem sempre a união foi o ponto forte. “Houve uma altura em que as associações não falavam tanto umas com as outras, mas as coisas mudaram à medida que os anos foram passando e que se foram renovando as pessoas”. Agora, assume, “há uma vida nova entre as associações” que fomenta, até, a colaboração entre elas.

Claro que o objetivo passa por “criar público” e “pessoas que se preocupem em ouvir música”, mas a paixão pelas diversas instituições nunca fica escondida. “Isto pode ser o início de muita coisa. Um miúdo pode entrar cá aos três e ficar até quando a saúde lhe permitir. São grupos para a vida toda”, contou.

Com poucas hipóteses de autofinanciamento que garanta o ensino gratuito, o futuro passará por integrar as redes de ensino financiado, nomeadamente, o articulado.

Depois de na pandemia perderem cerca de metade dos alunos, contam agora com 120 inscritos. O número sobe para 200 se contarmos com os protocolos com infantários.

Mas será a música cara? Para André Fernandes, a típica frase “só se vive uma vez” não se aplica só à questão financeira.

“Sei que há a ideia de que a música é uma disciplina cara. E de facto é, mas porque é difícil. O caro nem sempre é uma questão de valor. Fazer parte de uma associação como esta é uma oportunidade de vida de integrar uma coisa que é muito maior que nós. Nos dias de hoje, em que se perdem alguns valores, é uma oportunidade de fazer parte de algo enquanto comunidade. É integrar uma família que vai desde os três anos aos 80, em que há respeito por toda a gente”, apela.

“Nem sempre o primeiro instrumento é o que fica”

Ao entrar no ensaio da orquestra infantil deparamo-nos com mais de uma dezena de crianças. Cada uma com o seu instrumento, estavam ainda mais felizes porque era fim de semana de Carnaval, e confirmam que lá chegaram por várias razões. “ A minha mãe gostava muito de música”, “foram os meus pais que me inscreveram” ou “quis vir por causa dos meus amigos” são os motivos mais frequentes.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

Apesar de a guitarra, o piano, o violino e a bateria serem os mais procurados, a verdade é que “quase sempre as primeiras escolhas não são as que ficam”, confirma André Fernandes. Através das oficinas de música, o aluno experimenta cada um dos instrumentos. “É um processo muito giro e nota-se que muitas vezes não os escolhem por não conhecerem”.

Eduardo Pereira, naquele dia o D. Afonso Henriques, contou-nos que “a música era aquilo que a sua mãe mais queria aprender”. Depois de testar todos os instrumentos, começou a aprender bateria, mas o piano também ocupa um lugar especial. Reconhece que “foi um pouco difícil de aprender” e que também lá está para “estar com os amigos”. Desafiado a experimentar as baquetas, deu provas de que as aulas estão a correr (muito) bem.

Já Santiago Almeida deixou-se levar pelo instrumento indicado pelo seu primo – o trombone. “Eu só confiei”, disse-nos em tom de brincadeira. Começou a aprender com o professor Hugo e não quer parar. Além de encontrar os amigos da escola, alguns até da sua turma, também equaciona aprender guitarra. E cantar. E ser jogador de ténis. E aprender muitas línguas. “Arigatô”, finalizou.

Professores são antigos alunos e percebem bem a “mística da instituição”

Mais de 80% dos professores da Academia são antigos alunos. “Percebem bem a mística desta instituição e isso nota-se pela forma de como dão as aulas”, explica Vasco Faria, ao apresentar Rafael Pereira e João Salgado, que também integram a Banda de Música de Pevidém.

Foi na festa de S. Jorge, a ver o seu padrinho tocar, que nasceu em Rafael o bichinho da música. Por iniciativa própria iniciou a formação musical, inicialmente com a flauta, aos oito ou nove anos. “Começou a experiência louca de aprender música”, confessou. Com o professor Domingos experimentou o trompete e ainda é o instrumento que privilegia hoje.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

No caso de João, tudo começou por influência familiar, com um grande vínculo à banda. “O culpado disto tudo foi o meu avô porque ele contava-me muitas histórias da banda, até ao dia em que comecei a ir ver os ensaios, e pedi para me inscrever”, explicou. A escolha pelo trompete também não foi ocasional. Seguiu o legado do seu bisavô, que também fazia parte da banda.

Ambos partilham a experiência da licenciatura em música. Uma escolha que dizem não ter sido difícil, uma vez que a música sempre fez parte das suas vidas. “Foi um processo muito natural porque mesmo nas escolas profissionais estamos sempre em contacto com a música. A mesma coisa se passava nos ensaios. A música era tudo o que pensávamos e tudo o que vivíamos”, explica João Salgado. Agora a lecionar, Rafael confirma que “é um sentimento muito gratificante”. “É muito interessante ver a forma como os alunos são versáteis. Aprendo com eles todos os dias”.

Músicos preparam-se para concurso em Valência

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

A cidade de Valência, em Espanha, é uma das muitas paragens da Banda Musical de Pevidém, este verão. Chama-se Certamen Internacional de Bandas de Música Ciudad de Valencia e apresenta-se como um dos concursos de bandas mais antigos do mundo, já com 135 anos, e um dos mais importantes da Europa.

“A comunidade valenciana tem uma cultura muito forte de bandas de música, e estes concursos são o culminar dessa cultura bandística”, começou por explicar o maestro Vasco Faria, numa pausa do ensaio.

A participar pela primeira vez, os músicos ainda se encontram “numa fase muito inicial de preparação de pormenores artísticos e técnicos”. Vão integrar a 2.ª secção, destinadas a bandas com 80 elementos.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

Uma das obras interpretadas no concurso, a 13 de julho, será do maestro e compositor valenciano Ferrer Ferran, que foi convidado a visitar a Banda de Música para que a preparação seja a melhor possível.

Numa primeira fase, foram auscultados os músicos, mas facilmente se percebeu que “a adesão era massiva”. “Todos estão muito entusiasmados, desde o mais jovem ao mais antigo”, confirmou.

Este é precisamente o caso de Manuel “Sapato”, que também prevê viajar até Valência, caso a saúde o permita. Há 69 anos ao serviço da Banda de Música de Pevidém, diz não se recordar da origem do apelido “Sapato”. Ainda assim, di-lo com orgulho, uma vez que é representativo de uma das famílias fundadores e com mais ligação à instituição.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

“O meu tio Augusto ensinou-me o caminho da música. Trouxe-me para cá aos 10 anos. Entrei a tocar flauta transversal”, contou, apesar de, na altura, o seu pai não ter ficado particularmente entusiasmado com a ideia. No seu percurso, passou pelo clarinete baixo e, por fim, saxofone, o que toca ainda hoje.

E se antigamente a Banda de Música estava reservada aos homens, agora a realidade é bem diferente. Beatriz Alves foi uma das primeiras mulheres a integrá-la, há 15 anos. “Fui a primeira pessoa a entrar com o professor Vasco. Nessa altura, não éramos muitas”, contou à Mais Guimarães. E justifica a sua entrada: “O meu avô, que é muito ligado à banda desde sempre, tinha um grande gosto que eu viesse para a música e também a minha mãe sempre quis que eu tivesse um hobby”.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

A jovem de 26 anos toca clarinete e clarinete baixo, e a música faz parte da sua atividade profissional. Não podia ser de outra maneira. Ou pelo menos, é isso que costuma ouvir. “Muita gente me diz que não havia outra coisa para eu ser. A música faz parte de mim, que teria de passar por aqui e conhecer a música”.

Relativamente ao concurso, revela que todos estão “empenhados e muito focados”. A mesma opinião é partilhada por Carolina Martins, João Almeida e Pedro Martins, que também se dedicam ao clarinete.
Carolina, de 19 anos, explica que será a sua primeira participação num concurso com a banda e está confiante que todos farão um “bom trabalho”. Presença assídua nos ensaios, defende que os jovens estão cada vez mais ligados à música e que arranjar tempo nunca foi problema. “Basta organizarmos a nossa agenda e o nosso estudo consoante os ensaios. A música sempre viveu comigo. Cresci com a música, não me vejo a desistir dela e, no futuro, a não fazer parte da Sociedade”, assegurou.

À semelhança do que aconteceu com Carolina, também João Almeida integrou a Banda por razões familiares. Está a estudar música e defende que “música clássica estimula-nos sempre a querer aprender e saber mais, à semelhança de todas as artes”.

© Claúdia Crespo / Mais Guimarães

Confessando que quando os pais o inscreveram não ficou especialmente feliz, considera que a banda é uma “excelente oportunidade para músicos amadores poderem tocar os seus instrumentos, e permite também àqueles que não querem fazer isto profissionalmente, continuem a ter contacto com a música”.

O jovem de 19 anos destaca o ambiente familiar da banda, uma vez que “quando entramos somos acolhidos por todos, desde o mais velho ao mais novo”. Diz, aliás, conseguir ter uma conversa “com qualquer um dos elementos” e, a seu ver, “isso é das coisas mais bonitas que temos”.

Pedro Martins, de 17 anos, é um dos músicos que transitou da Academia de Música para a Sociedade Musical de Pevidém. Integrou a banda no último concurso que realizaram, antes da pandemia, e, por isso, a preparação para o concurso em Valência é “nostálgica”. Nas suas palavras, “a música é como um escape da realidade”.

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