ANDAM POR AÍ SINAIS E NÃO SÃO BONS!

PAULO NOVAIS Professor de Inteligência Artificial

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por PAULO NOVAIS
Professor de Inteligência Artificial

Andei por aí nestas últimas semanas e fiquei com a sensação que no ar anda uma atmosfera tensa. É de facto uma sensação estranha! Ninguém o diz explicitamente, ninguém o quer ver, se calhar, mas sente-se na expressão dos rostos desconhecidos que vemos passar nas ruas.

Mas porquê? Vivemos provavelmente no momento mais alto e esplendoroso da sociedade de consumo, que se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços. Temos tudo, a qualquer hora e a qualquer preço, basta o querer e poder (naturalmente). Hoje podemos encontrar os mesmos produtos e serviços em qualquer país, nada os distingue, nem a moeda (pelo menos na ainda existente Europa do euro). Estamos aqui, ali e além em poucos instantes, podemos comunicar com todos, em qualquer instante e temos o mundo no nosso computador ou smartphone.

Os problemas são também os mesmos em todo lado, todos falam da mesma descrença nos homens que nos governam, todos estão céticos em relação a um futuro cada vez mais incerto e a um presente conturbado. Globalizamos tudo, até os problemas. Bolas! Tudo é muito igual, tudo fica sem sabor e sem qualquer piada.

Que saudades dos caramelos de Tuy, duros como tudo, mas únicos e apreciados por não existirem deste lado do rio, nesse tempo.

Eça de Queirós falava dos “governos que parecem absurdamente apostados em errar, errar de propósito, errar sempre, errar em tudo, errar por frio sistema”. Este erro entrou no nosso dia-a-dia e já nem damos por ele.

Mas eles existem e estão por aí todos e as suas manifestações também: a corrupção, a insensibilidade, a exclusão social, a falta de oportunidades, a intolerância, a miséria, a falta de valores, entre outras.

Os sinais estão por aí, não os viram? Na televisão, na rádio, nos jornais, na internet, no facebook, nos fóruns… nas letras grandes e nas linhas mais finas, e também nas entrelinhas dos discursos inflamados que circulam por esse mundo fora.

A culpa dos nossos males está (sempre) no outro e se ele for diferente ainda melhor.

A história está repleta de momentos como estes, mas cabe-nos a nós, provavelmente pela primeira vez nessa história, não permitir que ela se repita. Como? Porque exatamente essa sociedade de consumo globalizada nos forneceu os instrumentos e os mecanismos que necessitamos para sermos atuantes e intervirmos, para decidirmos. Temos (todos) acesso à mesma informação e conhecimento, tenhamos também (todos) a sabedoria de a usar, porque só assim se combate a ignorância que alimenta a inquietação, o medo e o ódio.

Depois não venham dizer que não viram, que não sabiam, que não se aperceberam, que estavam distraídos com o dia-à-dia. Como diria Oscar Wilde (século XX) “Agouros, sinais, são coisas que não existem. O destino não costuma enviar arautos. É muito sabido, ou muito cruel para fazer isso”.

Mas afinal se calhar como canta Bob Dylan (em Mr. Tambourine Man), o meu mal é estar farto de estar à espera, num qualquer aeroporto dessa velha Europa, do meu voo de regresso à capital do meu mundo, “Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me; I’m not sleepy and there is no place I’m going to”.

 

 

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