ATLETAS IMPROVÁVEIS

Pessoas com limitações cognitivas, com Síndrome de Down e com outras limitações, a treinar kickboxing, alguns deles a evidenciarem-se pelos resultados. Este é o trabalho que a KTF-Team tem feito e que já inspirou a federação para criar o kickboxing adaptado.

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Pessoas com limitações cognitivas, com Síndrome de Down e com outras limitações, a treinar kickboxing, alguns deles a evidenciarem-se pelos resultados. Este é o trabalho que a KTF-Team tem feito e que já inspirou a federação para criar o kickboxing adaptado.

Na sala estão mais de 25 pessoas, homens e mulheres. O mais novo deve ter uns 8 anos e o mais velho andará pela casa dos quarentas. O som dos primeiros pontapés ecoa. É intimidante para quem não pertence ao mundo do kickboxing. Tiago Passos pertence ao mundo do kickboxing desde há 2 anos, é neste ambiente que se sente em casa. Um cumprimento ao mestre e uma explicação pelo atraso, antes de começar a fazer o aquecimento.

Os movimentos do aquecimento parecem sair-lhe a contragosto. Muda de figura quando se junta ao resto da turma, treinar técnicas a pares dá-lhe outro ânimo. Quem o vê combinar técnicas com alguma dificuldade não acredita que tem um défice cognitivo que lhe afeta a coordenação motora e a concentração. Primeiro duas técnicas de braços. Depois uma técnica de braços combinada com outra de pernas. É preciso coordenar movimentos dos membros inferiores e superiores, numa sequência de movimento rápida, em progressão para a frente e em equilíbrio só sobre um pé. Mais à frente o mestre manda fazer duas técnicas de braços e uma de pernas. Aqui já se notam perfeitamente as limitações dos que começaram a treinar há menos tempo. O Tiago, porém, segue confiante a executar com afinco. “Quando aqui chegou não era capaz de encadear dois movimentos simples, hoje faz sequências de 5 técnicas”, afirma Ivo Cardoso, o mestre, com orgulho no aluno.

Se hoje o Tiago e outros atletas com limitações fazem kickboxing devem-no ao trabalho da KTF-Team (equipa de kickboxing) e, particularmente, ao seu mestre Ivo Cardoso. A equipa tem 8 anos de existência e nos últimos 3 anos decidiu que tinha que tornar o acesso à modalidade mais fácil para pessoas com deficiência. “Numa gala desportiva, em que éramos convidados, vi atletas de desporto adaptado de outras modalidades e pensei que devíamos ter atletas como aqueles no kickboxing”, descreve Ivo Cardoso, lembrando como tudo começou. A partir desse dia nunca mais abandonou a ideia de criar uma forma de kickboxing adaptado. Naturalmente contactou as instituições que dão apoio a estas pessoas, a CERCIGUI, em Guimarães e a AIREVE, em Vizela. “A recetividade foi óptima”. Mais tarde foi preciso contactar os proprietários dos espaços onde a equipa treina, o ginásio Vital, em Guimarães, o Habitus, nas Taipas e o Actualfit, em Vizela, para obter condições de acesso mais favoráveis para estes praticantes. “Muitas destas pessoas têm problemas económicos, por isso, era preciso facilitar o acesso também por esta via”, explica o mestre.

Tiago Passos tem-se revelado um talento na modalidade. No ano passado fez a sua estreia em competições, logo no primeiro ano, conseguiu ser campeão regional e nacional de semi-contact. “Foi o momento mais importante, até me emocionei”, diz Tiago sobre o momento em ganhou o título nacional. “Foi o combate em que eu, como treinador, mais vibrei”, confirma o mestre. Oficialmente o kickboxing adaptado ainda não existe, portanto, Tiago para poder competir começou pela variante mais suave da modalidade.

A KTF-Team já fez várias apresentações de um protótipo de kickboxing adaptado, na Gala Nacional do Desporto, na Gala de Aniversário da Federação e na Bola TV. Atualmente o projeto está nas mãos da federação e há a promessa de que no próximo ano poderá haver um calendário de provas nesta vertente.

O treino já vai longo, os atletas rodaram entre si e é fácil perceber a excelente integração do Tiago. Ivo Cardoso explica que estes atletas são a bandeira da equipa, que todos reconhecem neles as limitações, por isso, há ainda mais admiração por tudo aquilo que eles alcançam. “Por vezes o parceiro tem que perder um pouco do treino para eles assimilarem, mas nunca vi ninguém aborrecido com isso”, assegura Ivo Cardoso. Esta situação é especialmente importante no núcleo de Vizela, onde treinam atletas vindos da AIREV, com síndrome de Down e paralisia cerebral.

Este ano o desafio para o Tiago é mais elevado, o mestre colocou-o a combater em Light-Contact. Nesta versão o combate é contínuo, não pára sempre que é marcado um ponto, como no semi-contact. No regional sagrou-se vice-campeão e neste momento prepara-se para o nacional, a 6 e 7 de Março. Com o treino a acabar aparece António Passos, o pai de Tiago. Está orgulhoso dos resultados do filho, feliz por ele fazer algo que gosta e onde sente que lhe dão importância. A boa impressão com que ficou da modalidade é tal que agora ele próprio começou a praticar.

No próximo ano realiza-se o campeonato do mundo da modalidade, nas Caldas da Rainha. O Tiago sonha lá estar e o seu mestre acredita nele. Até onde poderá ir o Tiago?

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