César Machado

Por Rui Dias

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Nome completo:
César Manuel de Castro Machado

Data de nascimento:
24/07/1962

Naturalidade:
Guimarães

Profissão:
AdvogadoÉ importante começar este retrato de perfil por uma nota. A vida de César Machado não cabe em três mil caracteres, nem mesmo de perfil. Sendo assim, a alguma imperícia daquele que escreve há que juntar a dificuldade da empresa.

Nasceu fora de alinhamento, na vigésima quarta hora do dia 23 de de junho de 1962. Não existe tal coisa como uma vigésima quarta hora, embora digamos que o dia tem 24 horas, a vigésima quarta é na verdade a hora zero do dia seguinte. “Uma ponte que vai de mim para o outro”. Este que escreve não se esquece que conheceu César Machado numa mediação e o conflito, logo ali, se resolveu. Talvez Deus ou o destino quisessem fazer dele um construtor de pontes.

Imagine um café, algures entre o fim dos anos sessenta e os anos setenta. É em Guimarães, mas, da forma como o descreve César Machado, podia ser um dos cafés de  Steiner. O café como um lugar onde as distâncias, não só físicas, mas também de gerações e classes sociais se encurtam e permitem a circulação rápida de ideias.

As possibilidades que crescer no Café Óscar – propriedade da família – lhe abriram foram fermento num espírito sedento de coisas novas. Na semana em que perdemos Ennio Morricone, o compositor da banda sonora de Cinema Paraíso, fique com a ideia do pequeno César a ir ao cinema, no São Mamede, com um bilhete que lhe oferecia o Neca. O engraxador ganhava os ingressos a distribuir os panfletos de publicidade, mas como não sabia ler as legendas cedia o lugar ao petiz. “Foi uma referência para mim”, parece notar-se-lhe um embargo na voz quando recorda o engraxador.

O gabinete de advogado onde conversamos tem duas paredes recheadas de códigos que o devem fazer infeliz. A suposição é do escriba, ele nunca disse que era assim. A aparelhagem sonora que espreita pelo meio dos livros, as colunas de som sobredimensionadas e os quadros na parede denunciam as sensibilidade artística do jurista. Graça Morais e Jaime Silva estão nas paredes do gabinete e nas memórias de César Machado, os dois frequentavam o Café Óscar.

César Machado é um homem dedicado a vida associativa, teve cargos dirigentes enquanto estudante em Coimbra,  cargos na Ordem dos Advogados, tem uma vida política, uma intervenção cultural e ainda arranja tempo para ser presença regular na imprensa.

Mas é a música e uma sensibilidade para a palavra escrita que parece estar sempre relacionada com uma certa noção de ritmo, que o caracteriza. Irritam-no certas expressões que caem no uso quotidiano que, mais do que erros, são alterações do ritmo que se impõe à palavra. “ Escrever para ser lido é muito diferente de escrever para a oralidade”, comenta a propósito de um texto que anda a burilar. Escreve como um músico compõe.

Começou a ter aulas de guitarra clássica com o pai, Óscar Machado, desde tenra idade. Aos 14 anos já integrava conjuntos musicais. “Foi uma sorte não me ter perdido”, um sorriso que esconde segredos. (Chegados a este ponto o texto vai a mais de meio e o pequeno César ainda não chegou a Coimbra, aflijo-me).

No 25 de abril de 1974, César Machado tinha 12 anos e lembra-se perfeitamente onde estava. Lembra-se porque esse passou a ser o ponto onde assenta tudo aquilo em que se tornou. O homem de esquerda a quem o pior insulto que já dirigiram foi o de ser demasiado liberal. “Assim como não aceito que me digam o que devo fazer com a minha vida não quero dizer aos outros o que devem fazer com a deles”, resume.

Imagine que em Portugal há políticos que a propósito de um qualquer assunto do quotidiano trauteiam uma música de Sérgio Godinho, ou declamam uns versos de Pessoa, ou ilustram com uma passagem de Garret. Se se pede ao leitor que imagine é porque as duas coisas – politica e cultura – normalmente não andam juntas. No caso de César Machado, a imaginação é desnecessária, ele é esse homem onde se encontram uma série de qualidades que normalmente são como água e azeite.

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