Cirurgia à próstata! Mas afinal o que me vão fazer? Parte 1

Por Preza Fernandes.

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Por Preza Fernandes,
Urologista.Desta feita vou ser um pouco mais específico na crónica. Revejo muitas vezes na cara dos meus doentes, um medo muito próprio quando lhes falo de necessidade de resolver a sua doença com uma cirurgia à próstata. Acredito que isto aconteça, por se confundir as doenças deste órgão e em função disso também os tratamentos. Quando explicados os procedimentos (às tantas com recurso a minha falta de jeito para desenhar) vejo, porém, que o sossego é maior e a confiança no percurso aumenta.

Então assim sendo a pergunta que se impõe é “Cirurgia da próstata: em que consiste, para que serve e que riscos e benefícios tem?

Por ser um tema que obriga a alguma minuciosidade irei dividir em duas partes, deixando para o próximo mês a continuação. A fim de simplificar, vou também restringir às cirurgias das duas doenças mais comuns neste órgão: cirurgia do cancro da próstata e cirurgia da Hiperplasia Benigna da próstata. Sendo uma doença maligna e a outra maligna, é de esperar os tratamentos sejam totalmente distintos. No entanto a falta de esclarecimento leva a que muitas vezes se coloque a tudo no “mesmo saco”. Este erro cria falsas ideias, o que por sua vez gera medos exagerados levando por fim a receios injustificados.

Agora peço-vos que imaginem a próstata como uma noz, atravessada por um canal que se chama uretra e que transporta a urina da bexiga para o exterior. O cancro da próstata desenvolve-se em cerca de 75-80% dos casos na zona mais periférica (no exemplo da noz: na casca). Já a hiperplasia benigna desenvolve-se por crescimento exagerado da sua região central (miolo da “noz”), levando ao estrangulamento da uretra e a dificuldades em esvaziar a bexiga. Isto traduz-se nas queixas urinárias conhecidas.

Neste mês falarei apenas da cirurgia por cancro da próstata deixando o outro tema para a próxima edição. Assim sendo, vamos às explicações!

Quando indicada a cirurgia no cancro da próstata (existem outras formas de tratamento!), esta tem de consistir na remoção completa (prostatectomia radical) do órgão (assegurando que todo o cancro é potencialmente removido). Em fases mais avançadas da doença, pode ser necessário remover os gânglios linfáticos para onde podem “migrar” as metástases.

Aviso à navegação: nesta cirurgia removemos completamente a “noz”!

Se nos recordarmos que esta “noz” é atravessada pela uretra, podemos entender que com a sua total remoção, provoca-se uma interrupção da via urinária que tem de ser corrigida. Assim sendo há a necessidade de voltar a juntar os cotos da uretra que foram cortados (à frente e atrás da próstata, tornando a uretra contínua desde o seu início (junto à bexiga) até ao seu final (na extremidade do pénis) para a expulsão da urina.

Explicadas a cirurgia e os seus benefícios, expliquemos os efeitos laterais. Um dos medos desta cirurgia é a impotência sexual. E é um medo justificado, uma vez que ao removermos a próstata temos uma grande probabilidade de lesionar os nervos responsáveis pela ereção. O risco é menor com recurso à cirurgia minimamente invasiva (por via laparoscópica ou assistida por robot). Estas são cirurgias efetuadas através de pequenas incisões na pele (5 a 15mm), por onde se introduzem uma camara e os instrumentos cirúrgicos. Nestas cirurgias a recuperação mais rápida e menos custosa para o paciente. Outra forma de realizar esta cirurgia é através da cirurgia convencional (incisão 10cm abaixo do umbigo). Conforme a técnica utilizada, o risco de impotência sexual varia entre os 30 e os 80%.

Outro receio é a incontinência urinária com os esforços (ex tosse). Esta decorre das alterações causadas no esfíncter urinário (estrutura anatómica muscular responsável por “segurar as urinas”). O risco de incontinência urinária ao fim de 9 meses após a cirurgia é de apenas 8-9%. A cirurgia minimamente invasiva permite uma recuperação mais rápida da continência quando comparada com a cirurgia convencional.

Escusado será dizer que estas cirurgias tem o intuito de curar um cancro que na sua grande maioria tem um ótimo prognóstico (taxas de cura na ordem dos 70-90% aos 5-10 anos pós cirurgia).

Espero ter esclarecido alguns conceitos e permitido uma melhor clareza na cirurgia radical da próstata. No próximo mês falarei da cirurgia benigna da próstata, que em nada tem a ver com esta (mas que em tantas vezes se confunde principalmente no que toca aos efeitos secundários).

Até breve!

PS. Para mais informação sobre doenças da próstata consulte a crónica de junho de 2021.

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