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CONSTRUIR-NOS, CONSTRUINDO O MUNDO

NUNO FARIA

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por NUNO FARIA

Há uma longa tradição na história da literatura e das artes, que vem pelo menos do século XIX, de valorização da natureza como objecto de reflexão, exaltação e, sobretudo, de lugar onde se procura inspiração para a prática artística.

Tendo como horizonte a candidatura da cidade de Guimarães a Capital Europeia Verde 2020, será interessante pensar a exposição que o CIAJG – Centro Internacional das Artes José de Guimarães recentemente inaugurou e que estará patente até ao final do corrente ano. É na Plataforma das Artes, a dois passos do Toural e ali mesmo ao lado da Sociedade Martins Sarmento.

A exposição chama-se Caminhos de Floresta e reúne um conjunto de obras de vários autores de diferentes gerações, desde Alberto Carneiro a Filipe Feijão (cujo trabalho o público de Guimarães já conhecia por ter sido mostrado no excelente projecto noc-noc), que se constituem, no fundo, como conjunto de aproximações e de diálogos com uma certa ideia de natureza, enquanto tematização do diverso, daquilo que nos é estranho, e de como a podemos vir a traduzir, a compreender e a habitar.

A partir do encontro, velho como a origem da humanidade, entre o homem e a natureza, juntámos alguns universos autorais que, trabalhando em torno de uma ideia expandida de escultura, recorrem a alguns dos elementos constituintes da gramática da natureza para inventar uma espécie de linguagem híbrida, meio homem meio animal, meio humana meio vegetal, meio cultura meio natura – dentre os quais a árvore, a casa primeira, é o mais recorrente.

Ora, numa altura em que a parte litoral do país, de sul a norte, se encontra sob a ameaça da exploração de petróleo e gás natural, numa altura em que já sabemos que se não trilharmos o caminho das energias renováveis e da sustentabilidade desapareceremos enquanto planeta e espécie, a cidade de Guimarães avança resoluta para uma candidatura que é muito mais do que uma candidatura, é a firmação de um modo de viver, uma ética de existência, que vai muito além da celebração de mais um evento de âmbito europeu, e que colocará Guimarães na vanguarda da valorização ambiental a nível nacional.

Com as premissas e os objectivos da Capital Europeia Verde 2020, depois de ter tratado do seu riquíssimo património e de ter instituído práticas de cultivo de uma cultura contemporânea, Guimarães celebra um compromisso que reúne e interpela a todos – diferentes gerações, credos religiosos, convicções políticas. Trata-se, no meu entender, de uma oportunidade única que deverá convocar a energia das escolas, das instituições, dos cidadãos, porque aquilo que nos é proposto é pensarmos o nosso futuro próximo e a maneira como queremos viver.

No âmbito do trabalho educativo desenvolvido pela equipa do CIAJG, a visita À exposição Caminhos de Floresta constituirá seguramente um proveitoso motivo de reflexão sobre esta temática. Perguntamos aqui o que significa produzir arte. Enquanto modo específico de produção, a arte produz o quê? De onde vimos, quem somos, para onde vamos? Talvez a arte trilhe um caminho que não leva a parte nenhuma; um caminho de floresta feito para nos perdemos e, na diversidade da natureza, nos reencontrarmos com a origem e os fundamentos do humano.

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