Diário de um Pandémico

Por José Rocha e Costa.

jose rocha e costa

por José da Rocha e Costa

30 de Março de 2020

9:00 – Acordo e vou tomar o pequeno-almoço enquanto consulto no telemóvel como estão a evoluir os “futuros” do álcool gel. Comprei uma data destes contratos e até agora tem sido sempre a subir. É como o ouro, mas ainda mais raro.

10:30 – Já de banho tomado, preparo-me para sair. Temos que evitar ao máximo fazê-lo, mas já só tenho uma máscara e meio litro de álcool gel e mais vale prevenir do que remediar.

10:50 – A caminho da farmácia, sou mandado parar pela GNR, que pergunta o que é que eu estou a fazer na rua – Não sabe que é para ficar em casa? Sei – respondo-lhe eu – mas é que preciso mesmo de ir à farmácia, é importante.

11:40 – Depois de aguardar 20 minutos pela minha vez, lá sou atendido. Só me podem dispensar 2 máscaras e um frasco de álcool gel. Que raio! Gastei a última máscara que tinha para vir à farmácia e só me dão duas novas. Vá lá… ainda fico a lucrar uma. O álcool gel está caríssimo. Por um lado, custa-me dar quase cinco euros por um frasco de álcool de 100 ml, mas visto de outra forma, isto só confirma que a minha aposta nos “futuros” do álcool gel vai continuar a dar lucros.

12:00 – Faço o almoço.

13:00 – Almoço enquanto vejo o telejornal. Atualização do número de casos e do número de mortos. Parece que as coisas estão a evoluir dentro do esperado. Estamos melhor do que a Itália e do que a Espanha, o que é normal visto que nós portugueses acatamos as ordens e ficamos em casa, ao invés de andar para aí a passear como se nada fosse.

14:00 – Vou passear o cão. Ele também precisa de arejar e fazer as suas necessidades. Eu, como já estou farto de estar em casa, aproveito a oportunidade para espairecer um bocado.

14:10 – Encontro o mesmo GNR de há um bocado. Está irritado por eu ainda andar na rua. Explico-lhe que eu estive sempre em casa e que só vim passear o cão. Não fosse o bicho ter as suas necessidades e eu estaria em casa quietinho pois não sou como os espanhóis e os italianos, que não sabem fazer o que lhes mandam. O homem não fica convencido e diz que se me volta a ver na rua, multa-me por desobediência. Termino o passeio mais cedo e volto a casa.

15:30 – Farto-me de ver televisão, afinal de contas, a televisão durante a tarde só dá programas para velhos. Aproveito para ir ao supermercado buscar alguns bens essenciais como papel higiénico e cápsulas para a máquina do café.

16:20 – Regresso do supermercado. Estava cheio de gente. Ainda por cima não tinham nenhuma indicação a limitar o número de pessoas. É uma inconsciência. Anda um indivíduo a ter um monte de cuidados para não apanhar o vírus e as pessoas em vez de ficar em casa, andam nas compras a tossir umas para cima das outras. Além disso, tive que gastar outra máscara. Amanhã vou ter que voltar à farmácia.

18:00 – Depois de uma sesta recuperadora, ligo o computador e ponho-me a ver o que se passa nas redes sociais. Há vídeos e “memes” para todos os gostos. Até parece que as pessoas estão a disfrutar deste tempo de reclusão. Eu cá continuo farto de estar em casa.

19:00 – Faço o jantar.

20:00 – Vou passear o cão. Tenho que ter cuidado, o GNR já não deve andar por aí, mas nunca fiando.

20:50 – Não estava quase ninguém na rua. Deu para fazer um passeio mais longo. O cão já estava farto de andar, mas também lhe faz bem o exercício. Além disso, chego mesmo a tempo de ver o fim do telejornal e de ouvir o discurso do Rodrigo Guedes de Carvalho. É inspirador. Faz-me lembrar um filme que eu vi uma vez sobre o Winston Churchill. Isto é como dizia o outro: Cada um tem o Churchill que merece!

22:00 – Hora de ir à varanda aplaudir os profissionais de saúde. Se não fossem pessoas como eu, que realmente lhes mostram o quão importante eles são, não sei se eles conseguiriam continuar a fazer o trabalho que fazem, a ter que usar cuecas a fazer de máscaras por causa da falta de material e outras coisas do género.

24:00 – Chega de televisão por hoje. Deito-me na esperança que o dia de amanhã seja um bocado menos monótono. Isto de não poder sair de casa está a dar cabo de mim.

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