Estado de inebriação
Por Vânia Dias da Silva.
por Vânia Dias da Silva
Jurista e Professora convidada no IPMAIA
Vivemos há oito meses suspensos entre estados – de alerta, de contingência, de calamidade e de emergência – e, neles, temos visto pendurados, à espera, os direitos e liberdades mais básicos, que nem nos nossos mais sombrios pesadelos sonhávamos ver suprimidos. Mas vimos. E, pela amostra, veremos durante muito tempo ainda.
À parte considerações de cariz legal – já aqui disse há meses que só em estado de excepção constitucional podíamos legitimar as medidas que vinham sendo tomadas, sob pena de ambiguidade e de arbitrariedade e, pior, do perigoso precedente que criavam – o outro lado não menos importante da questão prende-se com um outro estado, que não se decreta, mas que pode ser bastante útil a uns e, paradoxalmente, muitíssimo perturbador para todos: o estado de inebriação. Que, de resto, o Governo aproveita para nos envolver em sucessivos engodos como a falácia da descida do IRS e da preparação do SNS para o período que atravessamos ou a “moralidade” das escolhas sobre o que proibir e não proibir, travestidas de equidade e de objectividade.
Malogradamente, porém, o mais grave deste estado de inebriação não é o que o Governo beneficia com ele – porque mais tarde ou mais cedo a realidade acaba por esmagar a ilusão, embora, às vezes, com prejuízos já irreparáveis como é o caso, só para citar os do momento, da disponibilização de mais camas de cuidados intensivos ou da contratação de mais médicos e enfermeiros (a sério, só agora? E em Janeiro, quando a ruptura é iminente em Novembro?!) – mas antes o que nós, todos nós, deixamos passar por estarmos demasiado envolvidos por ele.
É precisamente este último ponto que quero enfatizar – o que vamos deixando andar, mergulhados nos nossos medos e preocupações quotidianas, esquecendo que, “lá fora”, há mais mundo e mais ameaças, seguramente mais insidiosas. E há uma em particular que paira sobre nós, numa tentativa óbvia de destruir o nosso modo de vida e de estabelecer um outro, que, com desculpas várias, vamos fingindo ser normal e compreensível.
Se, por cá, nos vão proibindo de ir ao cemitério no dia de finados mas nos deixam ir a um concerto ou ao teatro – opção altamente duvidosa até sob o ponto de vista da saúde pública mas, sobretudo, reveladora da intenção – em França, os continuados ataques de radicais islamitas só confirmam o que preferimos ir ignorando: que há cada vez mais radicais dispostos a interpretar o Corão ao pé da letra e a impor a “Sharia”, matando todos os que não pensem como eles para, finalmente, subjugar os que sobrem.
Por isso é que pôr a questão como a pôs o Bispo do Porto – “O atentado (…) é o resultado dos preconceitos daqueles europeus que não só não fomentam o diálogo intercultural e inter-religioso…” – é um desastre que adensa o tal estado de inebriação em que já vivemos e que, no limite, nos conduzirá direitos ao abismo. Não, Senhor D. Manuel Linda, a culpa não é nossa. Nós acolhemos, respeitamos e não temos feito outra coisa senão dialogar. E, sim. Um radical não faz de todos radicais. Mas como há mesmo muitos radicais pouco importados com o nosso monólogo, o caminho é outro. Deixar entrar quem venha por bem e dialogar com esses – fazem-nos falta – triar a sério quem entra e punir e perseguir quem nos faz mal. Assim mesmo, sem meias palavras.
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