IDIOTA, MAS CONVICTO

Por José Rocha e Costa.

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Por José Rocha e CostaCatarina Martins foi fortemente criticada na passada semana por ter cometido uma gaffe ao dizer que Portugal tem barragens a mais. Barragens essas em que, segundo Catarina, ocorre evaporação e, portanto, estamos sempre a perder água e isto é um problema muito complicado.

Não é preciso ser um especialista em barragens para se perceber que estamos perante um comentário um tanto ou quanto descabido, uma vez que a água que se evapora numa barragem, também se evaporaria na superfície de um rio, de um lago ou de um oceano e, mais importante, essa água ao atingir camadas mais altas da atmosfera condensa-se, formando nuvens, tornando a precipitar novamente. Chama-se a isto “o ciclo da água”.

André Silva, porta-voz do PAN, não quis ficar atrás e, num debate televisivo com a mesma Catarina, tentou explicar, sem muito sucesso, a sua proposta de plafonamento da Segurança Social. Ficamos com a impressão de que André não fazia a mínima ideia do que estava a falar e, Catarina, que poucos dias antes tinha passado pela mesma situação desagradável de ter que falar sobre coisas das quais não se faz a mínima ideia, tentou ser gentil afirmando: “Com toda a simpatia, a vossa proposta não está bem elaborada”, e a coisa ficou por ali.

É aqui que os nossos políticos pecam. Falta-lhes convicção. Se estudassem melhor a forma de fazer política lá fora em vez de perder tempo a ler dossiers sobre barragens ou sobre o fundo de pensões, isto não acontecia. O que fez Trump quando por engano disse que o furacão Dorian ia atingir o Estado do Alabama? Alterou um mapa da previsão meteorológica para incluir o Alabama nas áreas que possivelmente seriam afectadas.

O Ministro da Casa Civil brasileiro, Onyx Lorenzoni, perante a pressão exercida por vários países no sentido de resolver o problema dos incêndios na Amazónia e que tem tido como um dos principais rostos Emmanuel Macron, presidente francês, disse que Macron não conseguiu sequer evitar um incêndio previsível numa igreja que é património da humanidade (referindo-se ao incêndio da Catedral de Notre-Dame) e que por isso não deveria dar lições ao Brasil.

No fundo, o que eu quero dizer é que se é para dizer coisas sem fundamento ou simplesmente barbaridades, é preciso saber dizê-las com convicção e quando confrontados com a realidade, temos que mudar de assunto rapidamente de forma a que seja o nosso adversário a ficar na defensiva. Isto, meus amigos, é política no século XXI.

À luz deste novo conceito de fazer política, quando em 2017 Leitão Amaro, deputado do PSD, afirmou num debate televisivo que o Governo de Passos Coelho proibiu a Legionella, deixando perplexa a sua colega de painel, Mariana Mortágua, que notou, e bem, que uma bactéria não pode ser proibida, ele deveria ter respondido: “Não pode neste governo, que está refém da extrema-esquerda. Vocês querem liberalizar tudo: primeiro é o casamento gay, a seguir é a Legionella, estou mesmo a ver que a seguir vem a cannabis…”. Ficava o assunto resolvido. A seguir teríamos longos minutos de Mariana a tentar explicar a questão da liberalização da cannabis e já ninguém iria querer saber se o Amaro sabe o que é a Legionella ou a Citronella ou lá o que é.

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