Momentos estelares versus momentos sombrios

Por antónio Rocha e Costa.

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por António Rocha e Costa Analista clínico

O início da administração da vacina anti-COVID-19, em diversos países do mundo, ficará para a História como um dos “momentos estelares da humanidade”, se me é permitido usar esta expressão que fui buscar ao título de um famoso livro de Stefan Zweig, em cujo prefácio o autor define como “momento estelar” aquele em que se determina e decide tudo, marcando a vida de um indivíduo, de um povo, e até o destino da humanidade. Estes momentos são raros ao longo da História.

Designamos este momento como “momento estelar” e juntámo-lo, pedindo desde já desculpa pelo atrevimento, aos momentos que mudaram o curso da História, enumerados por Stefan Zweig no referido livro. Fazêmo-lo, não por achar que a vacina em si constitui uma descoberta disruptiva, capaz de mudar o destino da humanidade, mas sim pelo facto de representar a congregação de esforços de cientistas de todo o mundo e uma resposta em tempo recorde da Ciência, utilizando instrumentos e métodos novos para resolver problemas antigos, como são as Pandemias, que sempre existiram e continuarão a existir.

Em Portugal, a vacinação teve início na passada segunda-feira, dia 27 de Dezembro, abrangendo os profissionais de saúde dos principais Centros Hospitalares.

Como já vem sendo habitual entre nós, só faltou a fanfarra e o foguetório, já que assistimos a um circo mediático, capaz de rivalizar com o circo de fim de ano com que um canal televisivo nos brinda todos os anos a partir de Monte Carlo.

É mais que evidente que isto é apenas o fim do princípio (nunca Churchill foi tão citado), e não devemos esquecer que “o pior ainda está para vir” (outra expressão repetida ad nausea por estes dias). O reverso dos momentos estelares, são os momentos sombrios que também hão-de marcar o nosso futuro. Novas formas de vida irão emergir desta Pandemia. A economia sofrerá, segundo os oráculos mais pessimistas, um rombo considerável, do qual não nos vamos recompor tão cedo; a vida em sociedade será diferente, o sistema de saúde sofrerá um retrocesso nunca visto, ainda segundo os mais pessimistas.

Sendo preocupantes todos estes e outros sinais de tempestade que se desenham no horizonte, o que causa mais preocupação é sem dúvida o que diz respeito ao sistema de saúde e à sua capacidade de resposta, pois ainda não é certo que possa resistir ao colapso a médio prazo. Vejamos o que já sucede hoje em dia: dividiram-se os doentes em doentes-COVID e doentes não-COVID, sendo que no campeonato dos mortos, os doentes não-COVID estão a vencer os doentes-COVID por uma margem confortável. Há doentes com patologias graves, cujas consultas, exames e intervenções cirúrgicas, foram adiados sine dia e não se sabe quando irão acontecer. Há um medo difuso que faz com que muitos doentes evitem frequentar os Hospitais e os Centros de Saúde. Há pessoas a morrer todos os dias, sem que sejam substituídas por bebés nascidos, que são cada vez em menor número. Há uma população a envelhecer em processo acelerado e um futuro sombrio para este País.

Rejubilemos, porém, pois a vacina, se não é o “milagre”, poderá ser o princípio ou o indício do milagre.

PS: No concelho de Guimarães, desde o início da Pandemia, já faleceram, vítimas do COVID-19, 155 pessoas. Pessoas anónimas que jazem no imenso mausoléu do esquecimento. Para eles vai o nosso respeito, a nossa homenagem póstuma, mas também a declaração de impotência por não se ter feito mais para que tal fosse evitado.

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