NO NINHO DO CAMPEÃO
Ao final de cada dia no ginásio da Universidade do [...]

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Ao final de cada dia no ginásio da Universidade do Minho, em Braga, numa sala dedicada ao Taekwondo, treina uma das esperanças portuguesas para ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro: o vimaranense Rui Bragança.
A sala não é muito grande. As 15 pessoas que estão no treino não deixam espaço para muitos mais. São 19h00 e ainda entra alguma luz natural pela janela comprida que atravessa por completo uma das paredes da sala. Aqui não há os habituais sacos que vemos em outros desportos de combate. “O Taekwondo é um desporto que assenta na velocidade, a utilidade do treino no saco é reduzida”, explica Hugo Serrão, o treinador de Rui Bragança. A maior parte dos atletas também não veste o tradicional fato branco, a maior parte está de fato de treino e t-shirt, outros têm vestidos as calças do fato e uma t-shirt, não há formalismos é tudo muito descontraído. O treino começa com alguns jogos, toque no ombro, toque no joelho. “Ajudam a malta a descontrair e promovem qualidades essenciais para um atleta de taekwondo”, diz o treinador.
Rui Bragança apurou-se para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, fechando o ano de 2015 na terceira posição do ranking mundial, depois de disputar o Grand Prix do México, onde foi quarto. Esta semana os treinos são de baixa intensidade. “O Rui está a recuperar de uma lesão no músculo posterior da coxa”, informa Hugo Serrão enquanto olha atentamente para o que se vai passando na sala. Rui Bragança treina, neste dia, quase sempre com Nuno Costa, atleta natural de Fafe, campeão nacional em título. Entre os dois há uma cumplicidade e um conhecimento mútuo próprio de dois atletas que cresceram juntos na modalidade. Apesar de ser de Guimarães estuda medicina na Universidade do Minho e, por isso, treina em Braga.
Nos últimos jogos, em Londres 2012, Rui Bragança perdeu um lugar no torneio olímpico num combate que esteve a vencer até ao último segundo
Nos últimos jogos, em Londres 2012, Rui Bragança perdeu um lugar no torneio olímpico num combate que esteve a vencer até ao último segundo. Esta dura lição ensinou-o a valorizar os detalhes. Apesar da aparente descontração e de o treinador até por uma música de fundo, o foco no trabalho é total. Quando Hugo Serrão se distrai um pouco com a nossa reportagem, é o atleta que chama a atenção para o fim do tempo de repouso. De volta ao treino, não há tempo a perder.
A descontração no treino não é falta de disciplina. Sempre que explica um exercício, Hugo Serrão repete duas vezes, depois vira-se para qualquer um dos presentes e diz-lhe: “repete”. Não há margem para distrações, o ambiente é de boa camaradagem, mas não é uma brincadeira, trata-se de trabalhar para ajudar o Rui a chegar ao torneio olímpico de taekwondo nas melhores condições.
O taekwondo português fez a sua estreia nos Jogos Olímpicos, em 2008, em Pequim, com Pedro Póvoa. A primeira participação saldou-se por um sétimo lugar (entre 16) e um honroso diploma olímpico. Porém o sistema de apuramento para os JO, que visa dar representatividade a todos os continentes, prejudica alguns atletas e dá uma ideia distorcida da realidade da modalidade em Portugal. Além do Rui Bragança (-58 Kg), Portugal tem atualmente mais dois atletas no top 10 mundial: Mário Silva (-63 Kg) e Júlio Ferreira (-74 Kg).
Além do Rui Bragança (-58 Kg), Portugal tem atualmente mais dois atletas no top 10 mundial: Mário Silva (-63 Kg) e Júlio Ferreira (-74 Kg).
O treino de combate é limitado, não há coletes, e é o treinador que define quem ataca e quem defende. Mesmo assim é bonito de se ver. O taekwondo é uma modalidade muito rápida, mas que, por ser muito jogada com as pernas, exige estratégia, antecipação, quase como num jogo de xadrez, mas aqui é no limite da velocidade possível. Um gesto mal pensado, uma técnica feita fora de tempo, e o atleta pode sofrer um golpe na cabeça ou, na melhor das hipóteses, acabar canela com canela. Essa é, de certa forma, a grande diferença entre ver o combate do Rui e do Nuno e o dos outros. Entre eles os dois tudo se encaixa, quase como se fosse uma coreografia. Raramente falham, quando acontece a outra marca.
Hugo Serrão retira-se mais cedo para preparar a pequena piscina insuflável com gelo. Antes do banho quente ainda há este pequeno sacrifício para evitar o ressurgir da inflamação. Está completa mais uma sessão de treino a caminho dos JO. “Vai ser algo único, é o top do desporto mundial. Pensar no Rio-2016 é uma felicidade enorme e sei que vai ser um desafio ainda maior. Quero chegar na melhor forma possível”, remata Rui Bragança.