O CREMATÓRIO SERÔDIO

Por Torcato Ribeiro

Torcato Ribeiro

Por Torcato RibeiroPara quem vem de Mesão Frio pela estrada de S. Romão em direcção á Penha, e se antes do cruzamento com a estrada Nacional 101-2 virar à direita e percorrer a pé cerca  de cinquenta metros até esbarrar com um portão de acesso privado, encontrará à sua esquerda escondido por alguma vegetação o oratório do Senhor dos Serôdios. Esta construção situada neste local recôndito e datada do séc. XVIII estaria associada ao culto de Santa Marinha da Costa, zeladora das parturientes. Pela ordem sagrada das competências divinamente delegadas o Senhor do Serôdio acode todos aqueles que são vítimas de atrasos naturais ou artificiais. As grávidas, após o tempo normal de gestação cumprido, apelavam ao santo para abreviar a hora do parto.

Um pouco mais abaixo, invertendo a marcha, no lugar de Monchique encontra-se o novo Cemitério Municipal que foi construído porque o Cemitério Municipal da Atouguia já há muito tempo que tinha esgotada a sua capacidade, não havendo possibilidade de alargamento, pela pressão da construção urbana envolvente.

O novo cemitério Municipal de Guimarães pensado e projectado no início da década de noventa, pelos arquitectos Pedro Mendo e Maria Manuel Oliveira era um projecto inovador que incluía alguns requisitos de ordem funcional como, para além de outros, a localização de um Forno Crematório.

Começou a ser construído apenas em 2000, mas a sua inauguração só se verificaria quatro anos mais tarde, em 2004, após uma série de percalços durante as obras de execução que atrasaram a sua conclusão.

Em 2003 um ano antes da sua inauguração num artigo de Rui Lemos no Diário do Minho, perante alguma resistência sobre o tipo e nova localização deste espaço, podia ler-se: a revolução é tanta que a autarquia já desistiu de construir o crematório previsto no projecto, pelos custos que comporta, e pela mentalidade popular enraizada que não adere à ideia.

Este alegado enraizamento popular, foi assimilado e esgrimido durante anos por quem dirige os destinos do município vimaranense.

Enquanto vereador fui com alguma frequência insistindo na necessidade da construção deste equipamento, relevando o argumento dos transtornos causados por todos aqueles que optarem por este serviço terem que se deslocar para o Porto, Matosinhos ou mais recentemente Famalicão, onde a maioria das vezes têm, pela incapacidade de resposta imediata, provocada pela cada vez maior procura, que aguardar alguns dias, prolongando dolorosamente o ciclo normal da cerimónia fúnebre. Para os familiares e amigos é, no mínimo, desconfortável.

Em 2016 foi finalmente aprovado por maioria a proposta de concurso público para a concessão da concepção, construção e exploração do Crematório do Cemitério Municipal de Monchique, em Guimarães. A gestão deste equipamento foi entregue a uma empresa privada que terá a responsabilidade da sua gestão nas próximas décadas.

Passaram-se já dois anos e quanto a notícias sobre o início das obras do crematório, nada. Tudo continua como dantes.

Diz, quem crê, que o Senhor dos Serôdios é um santo que dá resposta ao tardio, áquilo que teima em não acontecer em tempo certo.

Será que temos de apelar ao santo para que se faça em tempo certo o que os mortais que nos governam não conseguem fazer em tempo útil?

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