O Marcelo q.b (já) não existe

Por José João Torrinha.

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Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães A cena passou-se decorria ainda o primeiro governo de António Costa e dela já poucos terão memória. Numa visita à Cornucópia, aflita com problemas financeiros, o Presidente Marcelo resolveu exibir a sua solidariedade. Vai daí, intercedeu para que o então ministro da cultura cancelasse o seu programa e fosse lá ter com ele. “Senhor ministro, então já não foi a Castelo Branco”, saudou o Presidente. “Não, senhor, anulei a visita para vir aqui”, respondeu Luís Castro Mendes. “Então sente aí, que estávamos aqui a ouvir, e eles estavam a narrar”, retorquiu Marcelo.

Esta cena, aparentemente de significado nulo, foi um indício do que aí viria. Marcelo não iria ser um presidente como os outros. Não que nos anteriores não tivesse havido a compulsão de ir metendo foice em seara alheia, mas com este navegaríamos por mares nunca dantes navegados, pelo menos desde que o equilíbrio de poderes entre as várias figuras do Estado português se havia estabilizado.

E assim foi durante anos. A verdade é que, juntamente com essa faceta, Marcelo trazia outras. Desde logo foi sempre dando suporte à original solução governativa batizada de “Geringonça”. Mas não só. O próprio discurso presidencial, que passou de ser feito a conta-gotas, para uma torrente diária, era simpático para o Governo. E isso, com um presidente extremamente popular, dava muito jeito. E desta forma se foram tolerando as tais fouçadas em seara governativa que o presidente volta e meia dava.

Desde sempre que pensei que aquele estado de coisas não duraria para sempre e que no momento em que a lua-de-mel terminasse, tudo mudaria de figura e não para melhor. Por essa razão, apesar de fazer um balanço positivo do primeiro mandato, na sua reeleição Marcelo não teve o voto deste que escreve estas linhas.

Infelizmente, parece que a previsões sombrias que povoavam o meu espírito se confirmaram, atingindo o seu culminar no chamado “caso Galamba”. A ideia com que se fica é que, noutra ocasião qualquer, António Costa teria aceitado a demissão do Ministro sem grandes hesitações. Mas que sentiu que se continuava a acatar esta espécie de “tutela” em que é o PR que determina quem fica e quem sai do governo (muitas das vezes via cirúrgicas “fugas” de informação para a imprensa) mais tarde do que nunca acabaria uma marioneta em mãos alheias.

O problema é que esta espécie de grito do Ipiranga veio já demasiado tarde e amarrado a um ministro que objetivamente se encontra muito fragilizado. A sua putativa queda implicará a quase certa queda do governo, ainda que o fim do mandato esteja longínquo. A somar a isto, temos ainda um Presidente que prometeu redobrar a vigilância, o que só pode querer significar que uma instituição que começou por ser fator de estabilidade, promete transformar-se no seu contrário.

É justo dizer que o Governo também não tem ajudado e que se é verdade que se pode queixar de uma agenda mediática que vive em exclusivo dos “casos e casinhos”, também o é que muitos deles não nascem de geração espontânea antes sendo filhos de erros graves e opções discutíveis que só se entendem à luz de uma sensação de inimputabilidade política que tem tanto de errada como de perigosa.

Veremos se, numa altura em que tanto precisamos de estabilidade, não são os nossos principais agentes políticos a estilhaça-la de vez.

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