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O que pensam os vimaranenses do confinamento

"Viver não é também correr riscos, sobretudo o de ser feliz?"

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A horas de começar um novo confinamento, perguntamos aos vimaranenses o que é que pensam sobre as medidas decretadas pelo Governo. Como seria de esperar, as opiniões não são unânimes. Há quem pense que as medidas só pecam por tardarem e quem afirme que “viver é correr riscos”.

Cláudia Iliescu faz parte de uma já grande comunidade de brasileiros que escolheram viver em Portugal, nos últimos anos. A viver em Guimarães há vários anos, ainda se surpreende com a segurança da cidade que agora também é a sua.

“Creio que desde o início o confinamento deveria ter sido mais rigoroso com os grupos de risco, mas preservando a economia, ou seja, casa, trabalho, trabalho, casa. De resto só o essencial, com recolhimentos aos fins de semana. Este novo se faz necessário pelos erros cometidos com a abertura do verão, Natal e Ano Novo. Pagamos todos pela falta de cuidados de grande parte da população”.

Rui Oliveira é licenciado em educação física. Como muitos da sua geração, o ensino regular é uma miragem. Ganha a vida como personal trainer, instrutor de aulas de grupo, professor de natação, entre diversos ginásios e Atividades Extracurriculares. É casado e tem dois filhos. Nunca lhe faltou trabalho, mas sem uma ligação formal a uma empresa ou ao Estado e impossibilitado de exercer a sua atividade, é muito afetado por este confinamento.

“Acho que este confinamento é um absurdo, vai haver montes de pessoas a fintar o confinamento, vai haver pessoas a trabalhar em casa (cabeleireiros e esteticista) e aí vão trabalhar com piores condições. Deviam era controlar mais as medidas impostas, uso de máscara e higienização obrigatória e medição de temperatura. Isto é péssimo para economia dos pequenos negócios, só protege as grandes empresas. Péssimo para o fitness, os clientes já estão fartos das aulas online”.

Susana Monteiro é correspondente de línguas e poetisa. Olha com especial preocupação para aqueles que perderam os empregos e para os pequenos negócios. Para ela, este novo confinamento peca por tardio.

“Infelizmente a medida peca por ser tardia. Infelizmente apenas “os pequenos” são penalizados. Revolta-me o facto de o “povo” ter esquecido e não ter respeitado as medidas. O futuro que se avizinha não é colorido. Será tudo demasiado complexo. Nada será fácil, principalmente para os que perderam empregos e para os donos dos pequenos negócios. Não podemos perder a esperança. Não podemos baixar os braços”.

Iris Sores é osteopata e é diretora do Teatro do Convívio. Se a sua atividade principal vai funcionando, embora com limitações, o teatro está praticamente parado. Já sente as dificuldades económicas a afetar o investimento que as pessoas fazem na sua saúde e não acha sensato este novo confinamento.

“Não acho nada bem este confinamento, nem sensato. Acho que a melhor forma é aumentar a fiscalização para ver se as normas estão a ser cumpridas. Como trabalho na saúde não é a área mais afetada, mas com as dificuldades económicas as pessoas acabam por ter menos oportunidade de se tratar”.

Mauro Fernandes é funcionário da Universidade do Minho. Um apaixonado pela natureza e pela vida ao ar livre. A sua ligação ao Xico Andebol não pode deixar de o fazer refletir sobre os efeitos das medidas que têm sido tomadas na formação desportiva dos jovens. “Este modelo de gestão da crise pandémica é especialmente corrosivo junto dos jovens, sobretudo adolescentes”, afirma.

Estamos a poucas horas de iniciar um “novo” confinamento. Muito antes de ter iniciado e sem sequer se ter percebido o alcance da maioria das medidas, já estavam instalados, o medo, a ansiedade e uma pressão voraz, situações de insegurança que ameaçam, ainda mais, a réstia de equilíbrio na sociedade. Não se pode aceitar que os responsáveis políticos transmitam voluntariamente (eventualmente aqui e acolá de forma calculada) insegurança nas suas decisões, quer pela urgência da aplicação e entrada em vigor das medidas, quer pela inconstância das declarações ou sinais e mensagens contraditórias, descredibilizando algumas instituições, num primeiro momento, e centrando a sua ação e justificando a decisão, num segundo momento.

Este modelo de gestão da crise pandémica é especialmente corrosivo junto dos jovens, sobretudo adolescentes, que estimulados por alguma curiosidade própria da idade, pela ânsia de viver e concretizar sonhos, vão questionando os “mais velhos” sobre as medidas que os afetam e invariavelmente obtêm respostas evasivas ou resposta alguma.

Perguntem a uma criança ou adolescente se compreende porque não pode praticar uma modalidade desportiva coletiva ou até individual em espaços amplos ou mesmo abertos, com regras de segurança, mas pode estar horas afins praticamente sem intervalo em salas de aula muitas vezes com dimensões reduzidas?

Perguntem, se o conseguem explicar, porque é que o argumento que leva o Governo a manter as escolas abertas, realizando aulas de Educação Física em pavilhão, não serve também para continuar a praticar desporto no seu clube, proporcionando alguma mobilidade, saúde física e mental por via da atividade física?

Perguntem, se entendem, porque estiveram todos os atletas a treinar e os adultos a competir, mas agora não podem sequer treinar?

Perguntem, se conseguem explicar, por que motivo as suas referências, quer sejam os seus pais, treinadores, dirigentes, professores não os conseguem ajudar?

Por fim, questionem-se a vocês mesmos se viver não é também correr riscos, sobretudo o de ser feliz?

Gabriela Cunha é profissional de marketing, ávida leitora e crítica literária. Gabriela coloca muitas questões, preocupa-a que possamos estar a abalar “as estruturas democráticas, sobre as quais (ainda) assenta o nosso estado”, em troca de um vago conceito de “bem maior”.

Este é um tema que dificilmente não será controverso. Como tal, ressalvo, de antemão, que esta é apenas e somente (mais) uma perspetiva. Apesar de me considerar uma pessoa de convicções fortes e bem definidas, reconheço que as melhores soluções, usualmente, advêm da moderação. Não nego a necessidade de adoção de certas medidas, mas não posso concordar com a discricionariedade deste plano.

Tudo se resume a uma só questão: Afinal, que preço estamos dispostos a pagar em troca da tentativa (sim, estamos no domínio do incerto) de controlo pandémico? Pensemos: Qual é o principal factor/meio de contágio? A proximidade entre as pessoas ou, tão somente, a hora do dia em que se ocasiona essa proximidade? A julgar pelas medidas aplicadas, ao longo dos últimos meses, arriscaria a segunda opção… Ao limitarmos o horário de funcionamento dos estabelecimentos públicos estamos, forçosamente, a propiciar a aglomeração de pessoas.

Questiono-me: Não teria sido, até, mais sensato alargar os horários de funcionamento e (isso sim) limitar ainda mais a lotação dos espaços por m2? Não teria sido uma solução menos nociva para a microeconomia?

E, agora, às portas de um segundo confinamento, urge indagar: Quantos de nós conseguiremos reabrir os nossos espaços, assim que a lei o permita? Quantos de nós teremos ficado, então, pelo caminho? Aí, sim, estaremos perante o verdadeiro (e incontrolável) flagelo: a falência estrutural.

A lei será sempre abstrata e intangível, assim como todos os planos serão sempre falíveis e, como tal, passíveis de incoerência. Mas convenhamos que, desta vez, estamos a roçar o limite do razoável. A máxima “been there, done that” deveria aplicar-se a este caso concreto. Não incorramos em erros cujas consequências sabemos, a priori, que não conseguiremos gerir. Ninguém deveria ser impelido, de forma continuada, irreversível e impotente, para situações limite, ainda que em troca de um “bem maior” (conceito subjectivo e questionável) – sob pena de abalarmos as estruturas democráticas, sobre as quais (ainda) assenta o nosso estado. Se vamos ficar todos bem? Jamais. Esta será sempre uma asserção utópica. Mas acredito, sinceramente, que, com algum bom senso e moderação, poderíamos minimizar os danos que pairam catastroficamente na linha do horizonte.

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