O TEMPO DOS HOMENS MENORES QUE OS SEUS DISCURSOS

PAULO NOVAIS Professor de Sistemas na Universidade do Minho

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por PAULO NOVAIS
Professor de Sistemas na Universidade do Minho

…necessitamos de gente que pense e entenda o mundo. Pessoas que tenham o bom senso para chegar à frente dos nossos problemas…

O mundo mudou, nós mudamos (mesmo que não tenhamos dado por isso), tudo mudou, e já agora bem-vindos a este Novo Mundo.

Numa recente viagem, visionei um filme muito interessante, já com alguns anos, Swing Vote (2008) com o Kevin Costner no papel de um eleitor que fica com a capacidade, com o seu voto individual, de decidir quem é o próximo Presidente dos Estados Unidos.

Bud Johnson (o personagem principal), num determinado momento, refere o que entende que deverá ser a figura de um presidente “We need someone who’s bigger than their speeches. The kind of President we learned about in school”. Esta asserção, da necessidade de termos alguém com a capacidade de ser maior do que os seus discursos, é muito forte e elucidativa dos tempos em que vivemos.

Recentes acontecimentos, como os ocorridos com o referendo Britânico, comummente denominado de Brexit, são demonstrativos de uma forma de estar, agir e pensar que assola a nossa sociedade, e em particular o status quo da política em letra minúscula, i.e., o tempo dos homens menores que os seus discursos.

Os fazedores de opinião e detentores do monopólio das decisões induzem os seus seguidores por caminhos que não sabem antecipar nem prever. Caminhos ditos “populares”, por parecerem, ilusoriamente, serem os remédios que necessitamos, formulados segundo palavras simples e diretas com promessas de um tempo que não (pode, nem deve) volta(r) atrás.

A internet e a globalização mudaram, de facto, o mundo tal e qual como o conhecíamos. Não é mais possível viver de costas voltadas para esse mundo. O meu vizinho mora ao meu lado mas também vive em Londres, Paris ou (porque não) Tóquio. Hoje (sim hoje), o efeito Borboleta que Edward Lorenz (1963) também explicou, o “bater de asas” de uma borboleta pode (mesmo) influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um “tufão” noutra qualquer parte do mundo. Tudo está, de tal forma, interligado e interlaçado que é irrealista e até perigoso querer quebrar esses laços.

Os ditos “fazedores” continuam a pensar/idealizar um mundo que não existe mais. Miguel Unamuno (século XX) afirmava que “O homem vive de razão e sobrevive de sonhos”, i.e., que sem sonhos, sem utopias o mundo e, naturalmente, as sociedades definham e esgotam-se. Mas não vivemos só de sonhos, vivemos de razão i.e., de decisões que se pretendem justas, legítimas, corretas e sustentadas pela realidade em que vivemos.

“Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço” (provérbio tradicional) e acrescento “não te preocupes muito com os resultados”, parece ser o mote, i.e., propõem-nos viagens ao incerto e muitas vezes ao irreal. Esta dialética de discursos, inflamados e arrebatados de floreados que apontam para parte nenhuma, é muito perigosa, como se vê no caso Brexit em que ainda estão para se ver e avaliar as consequências desta forma de atuar.

Esperemos que estes sejam somente instantes, em que, como afirmava Simone de Beauvoir (século XX), se possa encontrar “Em todas as lágrimas … uma esperança”.

Jean-Paul Sartre (século XX) afirmava “És livre, escolhe, ou seja: inventa”. Possa este ser o tempo em que não vamos deixar mais aos outros, as decisões que são importantes. Porque de facto, como também afirmava (e bem) Bud Johnson, necessitamos de gente que pense e entenda o mundo. Pessoas que tenham o bom senso para chegar à frente dos nossos problemas, que tenham a sabedoria para levar-nos a um lugar onde estejamos em paz connosco e com o mundo.

O mundo mudou, nós mudamos (mesmo que não tenhamos dado por isso), tudo mudou, e já agora bem-vindos a este Novo Mundo.

 

 

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