SÃO TORCATO, MAIS DO QUE UMA PAIXÃO, A MINHA TERRA

por PAULO NOVAIS
Professor de Inteligência Artificial

Eu me declaro: sou Torcatense, nasci em São Torcato e aqui regresso sempre, porque aqui me sinto em casa, é a minha sede, a capital do meu mundo. A terra que o meu Avô me ensinou a amar. Dos seus campos avistávamos o lugar do Mosteiro e o Santuário. Do Santuário divagávamos para as histórias da sua construção sem fim, da vida do Santo e as estórias da Romaria Grande. O orgulho de ser Irmão do Santo e o sentir Torcatense do meu Avô passavam, para quem como eu o ouvia, através do olhar brilhante com que contava estas estórias.

Aqui fiz os meus primeiros amigos, aqui me fiz, em grande parte, o que sou.  Bebi na fonte do Santo a água que faz de nós diferentes, que nos distingue. Percorri os trilhos da Pedra Fina de onde saíram as pedras para construir o Santuário. Joguei à bola onde hoje é o lago, percorri inúmeras vezes o caminho entre o Mosteiro e a Corredoura. Sou um filho desta terra!

Não esqueço que nesse tempo nem todos tivemos as mesmas oportunidades. Não esqueço que muitos tiveram de abandonar o seu percurso mais cedo do que deveriam. Não esqueço que nesse tempo a estrada que nos liga à nossa cidade tinha mais buracos do que os famosos queijos franceses. Não esqueço que a minha terra sempre foi uma terra de gente que têm de procurar fora o que a terra não tem para oferecer, que somos uma terra de emigrantes. Não esqueço que vivi numa terra desigual e em que o progresso chegava sempre mais tarde.

Não me esqueço porque essas adversidades e limitações existiam e algumas ainda existem. Sempre as interpretei como custos de contextos e não como fatalidades, algo que nos obriga a ser ainda melhor, algo que temos de superar, custe o que custar. Aquilo que faz de nós diferentes.

São Torcato sempre foi (na minha perceção) visto como a natural zona rural de Guimarães, com todas as implicações que isso acarreta. Escassos espaços para novas habitações e implementar novas indústrias. De facto, isso confere-nos a oportunidade única de ter um habitat espetacular e belo, mas que nem sempre vai de encontro às nossas expetativas.

Em São Torcato a indelével marca da Irmandade no progresso desta terra é indiscutível. Aqui me declaro (novamente) sou o Juiz da Irmandade de São Torcato desde 2016. Com a sua centralidade o Santuário de São Torcato é o marco (o ex-libris) desta terra. As suas obras sem fim continuam, agora a um ritmo diferente e em outras vertentes. Recentemente foram criadas e remodeladas novas infraestruturas desportivas e de lazer para receber quem nos visita. Uma via-sacra fixa e permanente, que liga a Igreja velha (antigo mosteiro) ao santuário, está a ser concebida e novas funcionalidades nos terreiros e parques estão a ser implementadas. Vamos recuperar a velha tradição dos fornos a lenha no terreiro de São Torcato que serviam os romeiros.

No primeiro fim de semana de julho (29 de junho e 1 de julho) decorrerá a Romaria Grande que é historicamente uma das maiores romarias do Entre-Douro-e-Minho e de Portugal, que tem a sua origem ligada à trasladação do corpo de São Torcato, em 1852, para o Santuário. Teremos este ano uma renovada Romaria Grande, que se orgulha da sua tradição e história, mas que se projeta neste nosso tempo.

 

Sem falsas modéstias: sonhos, imaginação e ambição não nos faltam, porque servir o Santo do Povo – São Torcato é uma honra.

A honra de uma vida.

 

 

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