Ucrânia, 54 dias de manobra militar especial

Por César Machado.

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Por César Machado.

Mia Couto foi jornalista antes de se tornar escritor. Porém, ficava sempre angustiado quando o enviavam para lugar remoto, com a missão de fazer reportagem sobre súbitos acontecimentos cuja natureza, origem e enquadramento desconhecia largamente até à véspera. E isto com a exigência de mostrar trabalho nas primeiras horas depois do desembarque, uma urgência exigida tanto mais que a concorrência de outras publicações mostrava serviço com imediata prontidão e desenvolvimento, dignos de quem nunca tinha feito outra coisa na vida senão dedicar-se ao estudo e compreensão do assunto, mostrando-se apta a escrever ou a dizer o que fosse preciso, num exercício que, em vez do latino “Cheguei, vi, venci”, poderia ser “Cheguei, vi, escrevi”. Farto daquela angústia que não conseguia ultrapassar, da exasperada lentidão que lhe paralisava a mão, resultante da necessidade de perceber de que seriam feitos os seus escritos antes de os escrever, desde o terramoto, à guerra civil, das diabruras da natureza às da natureza humana, Mia Couto não aguentou e mudou de ramo. Passou a escrever romances, contos, poesia, com o que ficou a ganhar a literatura.

Na Ucrânia temos repórteres que toparam tudo, logo ao pisar o sofrido solo daquele país; perceberam, não só, a verdade do que viram, como o erro de outros, na apontada boleia da contra informação que nesta disputa militar é mais severa que em qualquer outra! Asseguram uns que nunca a verdade foi tão mal tratada, com fabricação de imagens de mortos que nunca morreram, de massacres inexistentes, de falsos bombardeamentos, de guerras que nunca existiram. E, por via desse relativismo noticioso, vem surgindo um outro e justificado relativismo de opinião, que desagua na desautorização das fontes do outro para repousar, à insuficiência daquele, num conclusivo “pensamos de maneira diferente”.

A fazer fé nas palavras do porta-voz do Kremlin, o Sr. Dmitri Peskov, se a Ucrânia prosseguir no lamentável comportamento que vem adoptando, persistindo numa intolerável inconsistência nas negociações de paz, poderá forçar a federação Russa a declarar Guerra àquele país, o que trará consequências muito graves. Ficamos a saber que, cinquenta e quatro dias depois do início dos combates, não existe guerra na Ucrânia. Continua a existir uma “manobra militar especial”. E o que vemos –garantem outros, cá por casa- é que, mesmo a ser uma guerra, terá iniciado há 8 anos, não agora. E não é só isso!!! Há que lembrar o Iraque,  o Vietname, a Coreia. E agora?

Haverá por aí muita contra informação? Seguramente. Mas há factos que só não vemos se não quisermos. Neste nosso tempo, “o não querer ver, o não querer ouvir”, de que falava José Mário Branco, não terá atingido, nunca, tão assanhado radicalismo. E um assinalável cinismo, é bom frisar. Ora, impõe-se tomar partido. Não vale usar esse escudo da contra informação que tudo pode justificar, nem esse pensamento diferente é salvo conduto para tudo. Não vale! Não temos memória de um crime desta dimensão, de uma crueldade deste calibre, de uma cegueira desta amplitude. As imagens não podem ser todas fabricadas, o que seria a maior encenação já vista, à escala universal! Há uma invasão, há mortes e mortes, destruição de um país inteiro e dizem-nos que não é para valer? É o povo ucraniano que está errado? Nem sequer há guerra? Dizer simplesmente que uns pensam de um modo, outros de modo diferente, que um discurso tem certos pressupostos diferentes do outro é fugir do que está diante dos nossos olhos. Basta de tretas! Entre a vítima e o algoz não há igualdade de armas. O povo ucraniano não pode estar, todo ele, a fingir. Haverá um antes e depois desta guerra, porque é de guerra que se trata. Lá como cá. E haverá seguramente feridas no amplo universo daqueles para quem o coração bate à esquerda.

Entre nós, não creio que em próximas eleições o povo venha a impor qualquer derrota aos que tão bem compreendem o democrata Putin. Derrotas e vitórias são coisas da guerra. Poderão ter é uma assinalável manobra eleitoral especial por parte do povo, por assim dizer. E não havia necessidade!   

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