Vacinação: um sucesso coletivo

Por José João Torrinha.

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Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães A vida tem-me ensinado a ser prudente na análise. Análises apressadas são muitas vezes meio caminho andado para a asneira. E mesmo assim, caí no erro de que tanto tentei fugir.

Em abril passado escrevi aqui um texto de profunda desilusão com a União Europeia relativamente à vacinação. Cheguei mesmo a taxar como “desastre” o processo de aquisição de vacinas e a dizer que esta tinha sido uma oportunidade perdida para reconciliar os europeus com a sua União.

É verdade que inicialmente as coisas não correram bem. Mas, como comecei por dizer, às vezes é preciso dar tempo ao tempo e contar até dez até emitir opiniões tão definitivas. Fui na onda e enganei-me.

Muitos outros fizeram ainda pior em relação ao processo português de vacinação. Ainda não tinha chegado uma única dose a Portugal e já os profetas da desgraça vociferavam que as coisas iriam correr o pior possível. Aduziram-se os mais variados argumentos para justificar a profecia: não iam chegar vacinas que chegassem, não teríamos capacidade organizativa para montar a administração, o serviço nacional de saúde não iria dar conta do recado; porque é que não se recorria às farmácias e por aí fora.

Pois bem, hoje olhamos para os números da vacinação em Portugal e só podemos sentir um imenso orgulho. Chegamos aos 85% de pessoas com pelo menos uma dose, o que quer dizer que, se retirarmos as crianças que não cumprem os requisitos para serem vacinadas, é mesmo só uma parte muito residual da população que se recusa a sê-lo.

É bom que se diga que este é um sucesso coletivo. Um sucesso que se deve ao país como um todo. Querer transformar isto num êxito individual, na minha opinião, não faz sentido. A nossa tendência para adorar o chamado homem providencial e um certo fascínio pelo meio militar por oposição ao meio político criou o caldo de cultura ideal para que até já se fale em candidatar o Vice-Almirante Gouveia e Melo a órgãos de soberania. Coisa que ele, de forma bem assertiva, já veio dizer que não lhe interessa e que esta espécie de messianismo é mesmo má para a Democracia. Tem toda a razão.

Sejamos claros: os méritos a atribuir começam nos médicos, enfermeiros e administrativos que deram tudo para que este processo corresse bem, continuam pelos responsáveis pelas autoridades de saúde que organizaram o processo, pelas autarquias que em muitos casos providenciaram os meios materiais e humanos para que nada falhasse, pela task force liderada pelo Vice-Almirante e termina no Governo simbolizado na Ministra da Saúde. Ou os políticos que estão sempre na linha da frente para serem criticados quando as coisas correm mal, não merecem receber elogios quando correm bem?

E finalmente, acima de tudo isto, há dois destaques que não podemos ignorar. Por um lado, os portugueses que revelaram um civismo e maturidade inexcedíveis. Sem essa crença na ciência da parte da esmagadora da maioria de nós todos estes números não seriam possíveis.

Por último, o serviço nacional de saúde. Tão criticado. Tão apoucado. Tão desvalorizado. E que no entanto, mais uma vez deu provas de ser um serviço de excelência. Um ativo que o país devia enaltecer em vez de constantemente tentar deitar abaixo.

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