CULTURA, VINHO & TAPAS
ANTÓNIO ROCHA E COSTA Analista Clínico
por ANTÓNIO ROCHA E COSTA
Analista clínico
Terminou a época oficial dos incêndios florestais, que os pouco originais repórteres e comentadores de serviço classificam de “dantescos”. Mas descansem os amantes das labaredas, que para o ano há mais. Até lá, para gáudio da plebe, subsistirão outros fogos, ateados por incendiários sem fósforo, como é o caso de alguns políticos e dirigentes de clubes de futebol.
Deixando para trás o inferno estival, estamos em condições de regressar às jornalísticas lides, concentrando a atenção nos assuntos cá da terra.
Guimarães já foi capital do reino, Capital Europeia da Cultura e Capital Europeia do Desporto. Actualmente está em curso a candidatura a Capital Verde Europeia 2020. É caso para perguntar: O que é que Guimarães tem capitalizado pelo facto de ter sido e pretender ser capital de qualquer coisa?
Capital do reino, deixámos de o ser há muito tempo. A Capital Europeia da Cultura talvez tenha deixado algumas marcas, para além dos elefantes brancos que o erário municipal terá que alimentar. Da Capital Europeia do Desporto já poucos se lembrarão. Quanto à tão ambicionada Capital Verde, vamos deixar amadurecer a ideia e esperar para ver.
Focando a atenção no evento de maior dimensão e importância que foi a Capital Europeia da Cultura, cumpre-nos desde já fazer uma avaliação do real impacto que a mesma produziu e está a produzir na vida da urbe vimaranense.
Olhamos à nossa volta e o que é que constatamos?
Guimarães pós-Capital Europeia passou a ter uma agenda cultural, quantitativa e qualitativamente melhor do que antes? Não me parece. Notou-se alguma melhoria significativa da actividade económica? Talvez, sobretudo no sector da restauração e hotelaria.
Com efeito, se passearmos demoradamente pelo chamado Centro Histórico, verificamos um número elevado (e não param de abrir) de bares, cafés, pastelarias, restaurantes, alojamentos locais e lojas de recordações. Proliferam como cogumelos e alimentam-se, para além dos indígenas, dos turistas que nos visitam e que são cada vez em maior número, seguindo a onda da moda.
Mas será que esta onda vai durar muito tempo? E se não durar? Terá Guimarães alternativas estratégicas ao cluster turismo/cultura que faz mexer actualmente a sua economia?
Temo bem que o pós-turismo nos deixe como legado um vazio que dificilmente será preenchido com a celeridade desejável com o incremento de actividades que criem valor, como se diz em “economês”, como é o caso das indústrias criativas, mas também das tradicionais.
A cumprir-se esse cenário, a Guimarães arranjadinha, repleta de espaços verdes, de ruas estreitas e bem pavimentadas, de edifícios restaurados e monumentos a transpirar História, será uma cidade bonita para encaixilhar, mas imprópria para viver com alguma qualidade.
Claro que, esta visão pessimista das coisas, é mais própria do velho do Restelo do que de um vimaranense que ama a sua terra, mas prefiro ser um pessimista sem razão do que um optimista frustrado.
PS: Enquanto dava à estampa este artigo de opinião o nosso Vitória conseguiu, depois de estar a perder por 3-0, chegar ao empate no último quarto de hora da partida, demonstrando assim que o improvável se pode tornar realidade.
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