O FRACO VENCE O FORTE
O nome judo significa, em japonês, o caminho da suavidade. […]
O nome judo significa, em japonês, o caminho da suavidade. A modalidade parece talhada para aqueles que à partida nasceram com uma desvantagem relativamente a todos os outros.
O judo foi criado, no Japão, por Jiodoro Kano, a partir de finais do século XIX. A modalidade tem uma raiz comum com o ju jitsu mas foi despida de todas as técnicas potencialmente lesivas para os praticantes. O objetivo do judo é projetar o adversário ao solo, ou imobilizá-lo com uma chave ou um estrangulamento, porém, qualquer destas técnicas é imediatamente interrompida pelo árbitro no momento em que se verifica que um dos atletas está em risco, ou que já não consegue desenvolver uma resposta.
“Eliminamos a agressividade, não eliminamos a competitividade”, mestre Mário Emídio
“Eliminamos a agressividade, não eliminamos a competitividade”, caracteriza o mestre Mário Emídio. Foi este perfil do judo que fez dele o primeiro, e, até há pouco tempo, único, desporto com origem em artes-marciais orientais a entrar no programa olímpico e paralímpico. É também este perfil que faz da modalidade um excelente veículo para a integração de pessoas com deficiência no desporto. Na abertura do I Torneio de Judo Casa do Povo de Ronfe, no passado sábado, dia 07 de maio, António Costa Pereira, técnico de desporto da Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Intelectual (ANDDI), referiu-se a Guimarães como “a cidade berço do judo adaptado em Portugal”. O judo adaptado deu os primeiros passos na cidade em 2008, quando ainda não havia referência de outros clubes pelo país. “Na altura começámos no ginásio Biba Mais, com poucos atletas, mas o fenómeno foi ganhando proporção”, explica Mário Emídio, que é hoje o mestre e que está neste processo desde o início. Em 2009 realizou-se o primeiro campeonato da modalidade em Guimarães, na altura ainda com poucos atletas, tendo sido, contudo, “considerado um sucesso, porque afinal, a modalidade tinha apenas alguns meses”.
Em 2009 realizou-se o primeiro campeonato da modalidade em Guimarães
Desde esses primeiros tempos a modalidade cresceu em número de praticantes e em organização. A associação com a CERCIGUI foi óbvia e hoje, às quartas-feiras, Mário Emídio treina 22 atletas, entre senhoras e homens, nas instalações da instituição. Todos exibem com orgulho o emblema do VSC ao peito, mas nem todos vão treinar às instalações de judo no estádio D. Afonso Henriques. “É uma luta que estamos a travar, convencer os pais a trazerem aqui os atletas”, diz Mário Emídio enquanto observa o aquecimento dos únicos dois atletas que compareceram para o treino de quinta-feira no estádio. O treino começa e os dois atletas lá vão integrados. Há um mestre que dá o treino e Mário Emídio dedica-se especialmente aos dois atletas com deficiência, mas sem paternalismo. “Não são doentes, têm que fazer o que os outros fazem, têm apenas um tempo diferente”, explica o mestre, que também cresceu com os alunos. Hoje, além da licença de treinador de desporto nível III, Mário Emídio tem também a licença de treinador de desporto para pessoas com deficiência. A grande referência da modalidade é José Alberto Costa (-66 kg), não só pela medalha de bronze conquistada nos Global Games, mas por se ter tornado adjunto do mestre auxiliando-o nos treinos. “O judo fez dele uma pessoa muito mais integrada, antes não trabalhava e hoje trabalha”, afirma, orgulhoso, o mestre.
A partir do sucesso de Guimarães a modalidade cresceu e espalhou-se pelo país. No sábado, em Ronfe, estavam seis clubes e ao todo existem já dez clubes a fazer judo adaptado. O último campeonato nacional reuniu 44 atletas e teve 120 combates.
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