UMA AVENTURA ESPE(A)CIAL
por JÚLIO BORGES Docente Era domingo. Todos se preparavam para sair […]
por JÚLIO BORGES
Docente
Era domingo. Todos se preparavam para sair para a missa dominical. Apesar de Bernardo não saber se acreditava em tudo o que ouvia na missa e na catequese, a dúvida não o incomodava porque gostava dos momentos de reflexão e que pasava com a sua família.
Chegados à igreja a confusão era enorme. A porta estava destruída, as imagens sacras partidas, espalhadas pelo chão. Bernardo, como toda a população, queria espreitar, ver o que se passara. Um enorme cilindro de metal estava alojado perto do altar, abrindo uma enorme janela para o exterior, a partir da sacristia.
– Isto está tudo vedado. Toca a desaparecer daqui rapaziada. Não há nada para ver! – Dizia o agente da GNR, o sargento Serôdio, que em tempo idos, quando era mais novo, fora guarda de um parque infantil na grande cidade.
A necessidade de respeitar a autoridade era importante para Bernardo, ser o exemplo para os mais novos, mas respeitar a autoridade não queria dizer não aproveitar a oportunidade de ver o que se passava nas traseiras da igreja.
O Bernardo, e os rapazes, desceram a pequena colina onde a igreja se situava e rodearam-na rapidamente. Lá em cima a igreja e o adro contemplavam a sua aventura. Com uns paus encontrados pelos caminhos, forçaram a passagem pelas silvas e giestas que ficavam ao fundo da ladeira que subia até ao edíficio datado do século XVIII. Chegados ao topo, via-se distintamente a abertura que aquele cilindro abrira nas paredes de pedra. Um ser rosado jazia deitado junto a uma enorme rocha. O seu corpo era pequeno, cilindrico e coberto de pêlos, grossos, mas leves como o vento. Não possuía qualquer segmentação entre a cabeça e o tronco e não possuia membros.
Bernardo, um dos mais velhos e o mais destemido aproximou-se. Alguns rapazes tentaram detê-lo, mas era tarde demais. Decidido como era nada, o impediria. Ouviram-se helicópteros e jipes que se aproximavam. Com toda a certeza iriam levar tudo o que ali estava e eles nunca poderiam saber o que ali se passara. Num reflexo Bernardo puxa para si o ser rosado, cobriu-o com o casaco domingueiro e correu para longe. Não poderia deixar que levassem aquele ser para um qualquer laboratório e lhe fizessem todo o tipo de testes, como via nos filmes de ficção cientifica.
Escondidos na casa da árvore, no meio da mata próxima, os rapazes deram início à recuperação do ser. Água fresca, fruta, leite, guloseimas, que guardavam para todos.
O ser bebeu a água e comeu a fruta com esforço. Aos poucos foi recuperando forças e adormeceu. Era hora de todos irem para casa.
-Amanhã pela manhã, quem puder, vem ver como está o E.T., ouviram? – ordenou o Bernardo.
Todos anuiram, mas ninguém queria estar ali sozinho com “aquilo”.
No dia seguinte apenas apareceu o Bernardo, carregado de mais fruta e água. O ser rosado parecia esperar por ele. Mal o seu olhar se cruzou com o de Bernardo, o E.T. piscou os olhos duas vezes, esboçou um gesto de apreço e desapareceu, evaporou-se à frente do rapaz boquiaberto com o que vira.
Bernardo atirou com os mantimentos que levara, e correu para o adro da igreja, onde uma enorme dispositivo militar montava guarda ao cilindro metálico. Quando ali chegou, a palavra que poderia descrever o cenário era “destruição”. O cilindro começou a emitir um bip agudo que destruiu todos os equipamentos elétricos e eletrónicos, levitou durante alguns segundos a cerca de dois metros do solo e num ápice subiu à estratosfera e desapareceu.
Não se falava de outra coisa em todos os canais de televisão. Farto do mediatismo que a sua aldeia havia ganho com o incidente do cilindro metálico, Bernardo foi para a casa da árvore. Quando chegou ao seu destino, qual não foi o seu espanto ao ver o cilindro metálico sobrevoando a casa a poucos centímetros da copa das árvores e o pequeno ser que o esperava.
Pronunciou alguns sons que o rapaz, sem saber como, conseguiu traduzir como uma despedida e agradecimento e assim como tudo começara, repentinamente, também terminara. O cilindro voou pelo céu e desapareceu, mas o Bernardo tinha uma aventura para contar para toda a sua vida.
Ilustração: Bárbara Correia da Silva
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