O PAI, AS FILHAS E O PODER DO ESTÁDIO

ESSER JORGE SILVA Sociólogo

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por ESSER JORGE SILVA
Sociólogo

É muito difícil ser pai de filhas. Não de filhos mas de filhas. Provavelmente ser mãe de rapazes deve dar no mesmo mas o escrevedor pensa masculino. Ademais, há muito que o mundo dos estudos das desigualdades de género constituiu o masculino como indivíduo a diminuir e, assim sendo, ocupe-se este trecho de jornal com a defesa do ser só aparentemente poderoso. Na construção desse mundo de estereótipos o pai vai com filhos enquanto a mãe vai com filhas. Nesse campo dividido cabe ao pai ir aos carrinhos com o rapaz enquanto a mãe vai às bonecas com a rapariga. É assim.

E não se pode contrariar este mundo. Seja no hospital, seja no pediatra, seja numa ida à casa de banho num café ou no acesso ao balneário de uma escola de ballet, o problema repete-se: se é o pai que acompanha a filha tem na receção um certo ar de ponto de exclamação. Um pai entrando nestes locais é modernice a mais. É certo que por vezes há exageros. Nas piscinas vimaranenses, perante o incómodo, mães continuam a levar os filhos de treze anos para o balneário de mulheres. A última vez que este escrevedor utilizou as piscinas de Guimarães – já lá vão uns anos – saiu em discussão com um pai que achava bem uma filha de corpo feito vagamundear por ali entre… hum, hum… extensões masculinas diversas. “A mim não me incomoda”, dizia o avançado pai. “Pois não, trata-se de formação futura que lhe está a dar!” retorqui-lhe. Calou-se. Pior foi no ballet: o pai foi sumariamente repreendido porque fez o óbvio vestindo a menina no balneário das meninas. Afinal não era assim: menina com pai é vestida no balneário de menino.

Mas nada como a divisão social do mundo em casa de banho sexista! Trata-se de coisa verdadeiramente terrível para os homens acompanhando crianças. Não para as mães que usam espaço recortado. Estas podem sempre levar a criança consigo. Um pai não! Um pai não leva filhas à uma casa de banho pública. Desde logo porque há mictórios. Nenhum pai consciente submete a filha a um longo desfile de hum… hum… «extensões» másculas diferenciadas. Haja decoro! Há uns anos, cheio de pedir a desconhecidas que fizessem o favor de levar a “petiza” ao wc, este desgraçado pai invadiu uma casa de banho feminina de um shopping center. Foi bem tratado pelas senhoras e mal tratado pelo segurança. Mas, sem exagero, é possível que o leitor esteja a contactar com um dos pais que obrigou os centros comerciais a inventar uma terceira casa de banho. Aquela à qual os pais acompanham os filhos ao cocó.

Domingo, 9 de abril. O escrevedor leva filhas de onze e seis anos ao Estádio do Vitória. Acompanham-no dois sobrinhos de 7 e 11 anos. Uma multidão entope as portas. Numa fila a revista para as senhoras. Noutras quatro a revista para homens. Como fazer? Abandonar as filhas menores à sorte de uma mole humana? Pois era isso mesmo que o funcionário porteiro entendia que devia acontecer: “então «bocê» não sabia para onde vinha?” Não só sabia como também sei que não há estádio acima da lei. Não se obriga pai nenhum a abandonar a guarda das filhas. E, acima de tudo, no Vitória “somos únicos”. Portanto tratemos de tornar o nosso Estádio menos sexista na entrada.

Esser Silva

 

 “Um pai não leva filhas à uma casa de banho pública. Desde logo porque há mictórios. Nenhum pai consciente submete a filha a um longo desfile de hum… hum… «extensões» másculas diferenciadas. Haja decoro!”

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