UM PREGÃO “DE EXCELÊNCIA” ANO DE 2014 DE NOSSO SENHOR “JESU” CRISTO ERA DE 2052 DE JÚLIO CÉSAR
PAULO CÉSAR GONÇALVES Dramaturgo
por PAULO CÉSAR GONÇALVES
Dramaturgo
DEDICADO PELOS AUTORES A FREI DIOGO DE MURÇA,
difusor do culto a S. Nicolau junto da comunidade estudantil.
ACTO 1 – A MÁSCARA
CENA PRIMEIRA: A DAS BOAS VINDAS
Ó Chão Sagrado, Ó Pátria Minha,
com renovados olhos Te vejo;
continuas a ser a única, Rainha,
que rima com saudade e com desejo;
se eu sou a brasa, Tu és a sardinha,
se eu sou a boca, Tu és o Beijo;
Amada Guimarães, Terra de Sonho,
por Ti esta Máscara eu ponho.
Voltai para cá o holofote
que se vai dar início ao Sermão
não é este (como) o do Pelote
é outro o “Luís”; é outro o “João”;
Na língua trago bravo chicote
capaz de provocar grave aleijão;
Abre-me a porta, Velho Azedo!
Sei-o bem: quem tem cú tem grande medo!
Nicolinos, quero o rufar parado,
há ainda tempo para mais cagaçal;
silêncio, que se vai cantar o “fado”,
atentai no que chora este “jogral”;
quero a cidade de bico calado,
escuta-me, Ó Mãe de Portugal!
Ouve, agora, com paciência,
meu cantar: é canto “de excelência”.
CENA SEGUNDA: A DA DEDICATÓRIA
Velho cultor da causa Nicolina,
Na velha cidade deixaste lição;
Teu legado a todos fascina,
Tua herança transformou-se em paixão;
E a ti, por vontade sibilina,
Entrego este humilde Pregão;
Foste origem, alma e fogo,
Minha vénia aceita, Frei Diogo.
CENA TERCEIRA: A DO BEM TRAJAR
Atenção! Chegou a alvorada,
Sou estudante à Guimarães trajado
Como quem traz armadura montada;
Faço sentir o fogo em meu brado,
De baqueta em mão e capa traçada
A Nicolau me apresento soldado:
Um sentinela do alto Respeito,
Estudante até ao eterno leito.
CENA QUARTA: A DO AMOR PRIMEIRO
Ó minha amada, minha querida,
Quão cintilante é tua graça;
Viva Brilhas, assim renascida,
Em cada rua e a cada Praça;
Só o teu amor nos traz à vida
E de nós faz a mais pura “raça”;
Eterna Guimarães, ó Grandiosa
Minha vida é, por ti, orgulhosa.
Majestosa, Casa original,
Sou teu filho e teu guerreiro,
O desejo é, por ti, quase carnal;
Sou vimarano rebento verdadeiro,
Terra-Mãe, como Tu não há igual
Em todo o lugar do mundo inteiro;
Calem a boca e abram os ouvidos
Não é tempo de entorpecidos!
No alto da encosta se monta
monumento tal de pedras cansadas;
A um passado milenar remonta
Um eco de batalhas escudadas;
Tão firme, nem o tempo o tomba,
Na mais Santa das Colinas Sagradas
Se ergue a glória do Tempo belo:
Ó Façanhas do nosso Castelo!
Olhai, vejam bem em vossa volta,
Eterna morada do meu coração:
Cidade, terra de amor e de revolta
Do guerreiro feroz, de um leão!
Quem aqui vem, é certo que cá volta:
Faça vento, sol, chuva ou trovão;
Apaixonante és, Pérola do Minho,
Aqui vem ter todo o caminho!
Teus caminhos praças e lugares
São jardim de arte pedral;
Trazes cá gente aos milhares
Para ver tua glória monumental,
Ouvir contos de gentes singulares
Movidas por uma força sem igual;
Nova potência, sem narcisismo,
És o novo Centro do Turismo.
Já se fala, já se ouve e se canta
A gente gosta do bailar na festa;
Uma alegria que ninguém espanta
O nascimento da nossa Orquestra;
Novo fulgor em som que encanta
Merecedora de teu nome é, Maestra;
Vá! Os instrumentos, em unidade;
Faça-se ouvir o Hino da Cidade!
Estas pedras milenares nos contam
Da velha Araduca o passado;
Agora nos ouvem e nos mandam
Cumprir o destino já marcado;
Troarei então para que façam
Da Festa de São Nicolau um Reinado;
Avança hoje, hoste Nicolina,
Cumprir o que do estudante é sina!
Já se vê o cajado ao alto
Como haste do Nicolino emblema;
Com a euforia da Posse salto
Levo à gente o Santo esquema;
Ah! Que ninguém diga: hoje falto!
Isto é compromisso, não é dilema!
A estudantada tem de perceber
que não é só borga, é também dever!
ACTO 2 – A LÍNGUA (AFIADA)
CENA PRIMEIRA: A DO AVISO AO FUTRICA
Ora… eu, Escolástico Campeão,
ao caixeirinho quero deixar recado:
Está a Bica Agora à mão,
Vem, e logo serás empurrado;
Faz parte da Antiga Tradição
andares molhado…bem habituado;
Tem medo, ó Futrica, tem muito medo,
aqui não mora o teu folguedo!
CENA SEGUNDA: A DA ARTE DO ESCÁRNIO E MALDIZER
Ouve os teus, Ó Santo Vetusto,
dedica-lhes tempo de teu Amor;
os anos passam e não há fruto,
quem lhes escutará, de vez, o clamor?
Quando lhes aprovarão o estatuto?
Intercederás junto do Director?
Causa que dura é aquela que medra
na Voz, na Mente, no Papel, na Pedra!
Mais de um par de anos já se passou
Desde o reboliço Cultural;
Tanta obra (e moeda) se avançou
Muito se trocou o bem pelo mal;
Tanta coisa que nem a mosca habitou
(Será que houve mudança substancial?)
Quem andar pelas instalações
Que perceba sua função e intenções!
Ó dos Reis, não estremeças na tumba,
Parece que atacar monumentos é banal,
Tão comum como tocar o zabumba;
Pendurar-se na espada Senhorial?
Já me filiei, toca a andar … pumba!
Quero alto cargo Presidencial;
Não somos do Mário nem do “chaimite”,
Não cedemos à partidarite.
Caminha o País todo marado
já vai funda a sepultura que cava;
quem terá o cérebro cagado?
Dar um “honoris causa” ao Bava?
Bem, já haviam dado ao Salgado;
Cuidado: anda por aí um novo Trava!
Ajeita a espada, Nobre Afonso,
Vai Crato, vai todo e qualquer sonso!
(E o Barroso, condecorado??
… Maldito pensamento borrado!)
Que mundo é este onde eu vivo?
Fala-se de Banco, de Submarino…
E do Orçamento Participativo….
Se cá estivesse o poder Afonsino
Não se livrariam de um correctivo;
Com tanta mama, posso ser inquilino?
Falta agora, solene, sentenciar:
Mas quem será? Quem se há-de culpar?
Gostava de assistir à exibição,
Mas está mau, há muito azedume;
Queria bilhete, mas…sem razão,
A distribuição cheira a estrume;
Os estudantes não têm participação
Na Magna Festa que é SEU costume;
Somos um só, sem mais…sim, iguais,
Acabem-se as guerras territoriais.
Sim! Escutaram bem! Nem que imigre!
Não vou deixar o povo ao galifão
Nem A Muralha, nem a ACIG,
Serão motivo de excepção;
Esta terra é de quem aqui vive
Não há que dar sempre milho ao capão;
Baixai a crista, ou será cortada…
Ou no Velho Chafariz afogada!
E uma visita ao novel Presidente?
Pedir-lhe-ei, sem ser com jeitinho,
que tenha a ideia bem presente
de escoar o trânsito rapidinho;
De carro, no centro, só o valente,
o doido, o tolo ou o maluquinho!
Quem o cabelo tiver em boa conta,
o carro esqueça à hora de ponta.
(Passou já, mas é favor não esquecer:
venha nova ligação à Vila Termal;
os famosos sabonetes quero eu ter,
imagino-me cheiroso pelo Toural;
e, se a vida para tanto der,
um salto darei, longe de Portugal;
Irei visitar, mas não agora,
as casas de Guimarães Europa Fora!)
CENA QUARTA – A DO PEITO
Só pelo Vitória, Povo amado,
tolero qualquer engarrafamento;
Com o Jamor sonho acordado,
vivo ainda naquele momento:
O símbolo, ao peito bordado,
erguendo bem alto a Taça ao vento;
Quem o viveu jamais poderá esquecer
a Bancada Norte a estremecer.
Que mal que a época terminara
para os comandados do Vitória;
Quanta vez o assobio sobrara,
quase se perdera a memória;
Aquele que o Vitória guiara
deixara escapar a História?
Está bem que não é de aluguer,
mas Jamor…é quando um Homem quiser.
Novo ano, Renovada Vida,
com toda a força, a todo o gás;
até ao topo abriu-se avenida,
a poeira fica para quem vem atrás;
Ah Vitória, que épica corrida,
depressa fugiste às horas más;
Porque é já grande a euforia:
Sonho ao som de campeã melodia.
ACTO 3 – A CAPA (NEGRA)
CENA PRIMEIRA: A DO TEMPO QUE JÁ NÃO VOLTA
Saudade, Quão grande é a Saudade
Que num fôlego invade o peito;
Vive-se nesta Festa a Verdade
A que tanto foi também sujeito;
a folga, o riso, a amizade,
a falta de tão remoto leito;
Quiseram Minerva, mas também Orfeu
naquele velho tempo do Liceu!
CENA SEGUNDA: A DA MENINA
Musa, e como há por cá tanta,
humildemente te peço inspiração,
concede também a este que canta
força e voz para a restante missão;
Que não se me engasgue a garganta
no dizer de um qualquer palavrão;
Porque também tu és Venerada
nesta folga antiga e sublimada.
Vê, Avó, tanta “fermosa” neta
que nesta terra tua se faz passear,
não me tomes por tolo profeta:
uma ou outra hei-d’eu cortejar;
Coração que ache minha seta
muito há-de sorrir (Oh…e chorar);
Triste de quem desfez a Torre dos Cães,
de lá cantaria à Moça de Guimarães.
Mais Bela Flor do mais pulcro Jardim
que viu, em certo dia, Portugal Brotar,
és o princípio, o meio e o fim,
és pétala que nunca pôde murchar;
Espera-te no alto do varandim
O Trono de onde costumas reinar;
E, bem lá no cimo, já amanhã,
do cavalheiro receberás a Maçã.
Pegai na cana, afiai a lança
Amanhã é dia muy especial;
Não há repouso, ninguém descansa
Há que encontrar a dama ideal;
Que olhares doces ela me lança…
Já lh’imagino o calor corporal;
Por ti, roubava o fogo a Prometeu,
Meu Santo patrono: o dia é teu!
CENA TERCEIRA: A DA INVICTA RECORDAÇÃO
Santa Madrinha, todo o Pregão é teu
e toda a festa é também tua;
crê, quando olho o estrelado céu
é teu o rosto desenhado na lua;
És Mãe que o Nicolau Santo me deu,
Mãe em casa, na escola e na rua;
Aninhas, Senhora do meu Coração,
Por Ti meus lábios sempre chamarão!
CENA QUARTA: A DA DESPEDIDA
Trago já dorida a gengiva
e a garganta não me deixa já cantar;
antes que acabe como o (Pedro) Oliva
melhor será não mais continuar;
Estudantes, reúna-se a comitiva,
é chegado o momento de retirar…
mas, antes de me juntar a Nicolau,
peço-vos: castigai (as) peles, força no Pau!
Ó Pregoeiros anteriores a mim,
Ó Nicolinos de outra Era,
escutai este vosso negro Delfim:
sois convocados para esta esfera;
Juntai-vos agora ao Supremo Chinfrim,
tanto barulho abrirá Cratera!
Fazei soar o Colossal Trovão;
Quero sacudir o Mundo de abanão!
POR TODO O MONTE, MONTANHA OU SERRA,
POR TUDO O QUE É OU NÃO SELVAGEM;
ONDE QUER QUE FAÇA PAZ OU GUERRA,
OUÇA-SE O GRITO DAQUI DA MENAGEM;
Ó FIM DO MUNDO, Ó CONFINS DA TERRA,
ATÉ VÓS VAI SINGULAR MENSAGEM:
NADA PODEIS CONTRA ESTE DESATINO,
NADA PÁRA O TRUAR D’UM NICOLINO!
Pasmai a Terra com esta gala
Que faz tremer o piso e as emoções;
Travaremos bomba e toda a bala
Elevando a voz às constelações;
Por estas palavras, Nicolau fala,
remetendo a vós a maior das missões;
De no fim dos tempos ainda se ouvir
o Som Nicolino a explodir!
Esta batalha está já ganha;
ó Chão que sentiu Portugal a nascer,
abre-te até à última entranha,
solta esse Berro, fá-lo erguer!
Quero escutar barulheira tamanha,
Estudantes, começai vosso mester!
Acordai Mortos, é chegado o fim,
o Mundo poderia acabar assim!
Pela Graça de São Nicolau dos Estudantes
Os Autores:
Manuel José Pinto Machado
Paulo César Gonçalves
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